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Rousseff e Chávez, as duas faces da América Latina segundo Hillary Clinton

A América Latina é uma região em que vale a pena apostar, diz a ex-secretária de Estado

Hillary Clinton, durante um evento em abril.
Hillary Clinton, durante um evento em abril.David Paul Morris (Bloomberg)

Dilma Rousseff como o modelo de “líder formidável” e exemplo do avanço da democracia na América Latina. Hugo Chávez como um “ditador autoengrandecido”, que constituía mais uma “irritação do que uma ameaça real, exceto para seus próprios cidadãos”. É assim que a ex-secretária de Estado Hillary Clinton enxerga as possibilidades e limitações da América Latina. Ela dedica à região um capítulo inteiro de seu livro de memórias Hard Choices [decisões difíceis], lançado nesta terça-feira.

Até o título é significativo: “América Latina: Democratas e Demagogos”. De acordo com Clinton, cujas memórias são consideradas um trampolim para sua candidatura presidencial em 2016, é necessário superar a “imagem ultrapassada” que muitos norte-americanos têm da América Latina como uma região “de golpes de Estado e criminalidade”. A região, diz ela, conseguiu “notáveis avanços econômicos e políticos nos últimos 20 anos” e há “muito a aprender” com essa transformação.

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Há muito a aprender, por exemplo, com o Brasil e sua presidenta, Dilma Rousseff. “Eu a admiro e gosto dela”, diz Clinton. “Ela pode não ter a graciosa ousadia de Lula ou a experiência técnica de [Fernando Henrique] Cardoso, mas tem um intelecto forte e muita garra”, avalia. E aponta o seu gerenciamento dos protestos sociais de 2013 como um exemplo de ação democrática: “Em vez de desprezar ou bater e prender manifestantes, como fizeram muitos outros países, incluindo a Venezuela, Dilma se juntou a eles, reconheceu as suas preocupações e pediu que trabalhassem com o governo para resolver os problemas”.

Clinton tem também boas recordações de outra presidenta da região, a chilena Michelle Bachelet, a quem define como “aliada e amiga”, e da ex-chanceler mexicana Patricia Espinosa, uma de suas “colegas favoritas”. Por outro lado, é significativo o silêncio que mantém sobre outra líder regional de sua época, a argentina Cristina Fernández de Kirchner, a quem não menciona nas 600 páginas de memórias.

Do outro lado da moeda de uma América Latina sempre complexa, Clinton fala de “demagogos” como Chávez ou o presidente deposto de Honduras Manuel Zelaya, uma “reminiscência da caricatura do homem forte centro-americano, com seu chapéu de caubói branco, seu bigode negro-azeviche e sua afeição por Hugo Chávez e Fidel Castro”.

Nas 20 páginas que dedica à região, Clinton se detém especialmente nos acontecimentos que se seguiram ao golpe de Estado que derrubou Zelaya e nos esforços conjuntos realizados para superar a crise. Mas salienta, citando o negociador proposto por ela mesma, o presidente costa-riquenho Oscar Arias, que foi um esforço feito “por princípios” e por medo de que o golpe em Honduras causasse um “efeito dominó” na América Latina, não por simpatia pelo governante deposto.

O presidente Barack Obama iniciou seu governo com a promessa de tratar a América Latina em uma relação “entre iguais” e de uma flexibilização da política para Cuba – também recomendada por Clinton e que foi recebida com aplausos. Mas os conflitos internacionais que infestaram seu mandato voltaram a afastar da região a atenção de Washington, como aconteceu em governos anteriores.

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