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A China e a Rússia selam um pacto de grande alcance estratégico sobre energia

Moscou exportará gás natural ao gigante asiático a partir de 2018 O contrato prevê a construção de um gasoduto entre os dois países

Macarena Vidal Liy
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, junto ao presidente chinês, Xi Jinping.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, junto ao presidente chinês, Xi Jinping.Mikhail Metzel (AP)

A China deu hoje o melhor presente possível à Rússia. Os dois países assinaram finalmente um histórico acordo estimado em 400 bilhões de dólares (883 bilhões de reais) para que a empresa russa Gazprom forneça anualmente 38 bilhões de metros cúbicos de gás à China, o que representa um importante empurrão econômico e diplomático ao presidente russo, Vladimir Putin, num momento em que ele precisa de respaldos frente às sanções impostas pelo Ocidente em decorrência da crise ucraniana.

Em uma cerimônia presidida por Putin e por seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Xangai, onde eles participaram da IV Conferência sobre Interação e Desenvolvimento da Confiança na Ásia (CICA, um foro de segurança e cooperação regional), os presidentes da Gazprom, Alexei Miller, e do consórcio energético estatal chinês CNPC, Zhou Jiping, assinaram um acordo que encerra uma década de negociações, chamado, segundo a agência estatal chinesa Xinhua, “Contrato Sino-Russo de Compra e Venda para o Projeto de Gás da Rota do Leste”.

Nenhuma das duas partes quis divulgar detalhes sobre o preço de venda definido, embora Miller tenha declarado à imprensa russa que o acordo alcança os 400 bilhões de dólares ao longo de 30 anos, o que deixaria o valor em torno de 350 dólares por mil metros cúbicos. O consórcio russo começará a fornecer gás à China, numa rota para o leste, a partir de 2018.

De acordo com um comunicado do CNPC, o contrato estipula que a Gazprom será responsável pelo desenvolvimento dos campos de extração do gás, as usinas de processamento e os gasodutos no território russo. A China ficará a cargo da construção do gasoduto em seu território, assim como da construção de instalações de armazenamento.

O gás russo será distribuído principalmente no nordeste chinês, nas áreas metropolitanas do Pequim e Tianjin – a cidade portuária a leste da capital – e na região do delta do Yangtzé, permitindo “fazer frente ao aumento do consumo interno de energia na China, melhorar o ambiente, otimizar a estrutura de uso da energia e promover a diversificação das importações energéticas”, sublinhou a CNPC.

O acordo, segundo Cheng Xiaohe, subdiretor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Renmin, “beneficia a China e a Rússia”. Para Pequim porque permite cobrir boa parte do atual consumo de gás chinês, que em 2013 ficou em torno de 170 bilhões de metros cúbicos e crescerá à medida que a República Popular abandona gradualmente o carvão, sua principal e mais barata fonte de energia, em prol de alternativas menos poluentes. Para Moscou, porque abre novos mercados num momento em que a Rússia precisa procurar outros clientes, devido à deterioração dos laços com os países europeus, seus principais compradores. De fato, os 38 bilhões de metros cúbicos anuais que a Gazprom fornecerá – embora seja apenas metade do previsto em um memorando anterior – representam o maior contrato individual dessa companhia.

Segundo a CNPC, o acordo “é uma completa demonstração do princípio de confiança e benefícios mútuos” nas relações entre a Rússia e a China.

A assinatura do pacto era esperada inicialmente para terça-feira, quando Xi e Putin se reuniram pela sétima vez em apenas 14 meses. O presidente russo se encontrava em Xangai, sua primeira visita à China durante o mandato de Xi, para participar das reuniões da CICA e para assistir ao início de manobras militares conjuntas que se prolongarão até a próxima terça-feira. Mas a falta de um acordo definitivo sobre o preço obrigou a adiar a cerimônia em um dia. Finalmente, depois de negociações que prosseguiram até a madrugada, impôs-se o interesse comum e, sobretudo, a forte vontade política das duas partes.

Xi, imerso em disputas de soberania territorial nos mares do Sul e Leste da China, precisa do apoio diplomático de Putin para rebater o respaldo dos EUA a seus vizinhos e a guinada da principal potência na direção da Ásia-Pacífico. Por sua vez Putin, isolado como resultado da crise ucraniana, procura apoios fora do Ocidente. É uma aliança que, como recorda Chen, “não necessita de uma ideologia comum; de fato, os dois países não é que se amem loucamente. O que os une são os interesses comuns”.

Ambos os presidentes preveem que o intercâmbio comercial bilateral cresça no próximo ano 10% em relação ao volume atual, inferior a 90 bilhões de dólares. O Governo chinês calcula que essa cifra dobrará e alcançará 200 bilhões de dólares em 2020, um objetivo para o qual o acordo assinado hoje representa um passo importante.

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