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disputa eleitoral

Um vídeo sacode as eleições na Colômbia a poucos dias do primeiro turno

Uma gravação mostra Óscar Iván Zuluaga com o hacker acusado de espionar o processo de paz entre o Governo e as FARC O candidato uribista havia negado conhecer as atividades de Andrés Fernando Sepúlveda, um especialista em informática detido pela Justiça colombiana

Um vídeo divulgado na noite de sábado pela revista Semana demonstra que Óscar Iván Zuluaga, o candidato uribista à presidência colombiana e principal rival do atual mandatário, Juan Manuel Santos, conhecia as atividades ilegais do hacker Andrés Fernando Sepúlveda, que trabalhava para sua campanha e foi detido pela procuradoria colombiana há 10 dias, sob a acusação de espionar o processo de paz com as FARC.

Zuluaga, que segundo as últimas pesquisas assumiu a liderança para a primeira etapa da eleição presidencial, disse na ocasião que desconhecia as atividades ilícitas do pirata informático encarregado por sua campanha de monitorar as redes sociais, e inclusive afirmou que, se o detido havia infringido a lei, deveria ser punido. “Se alguém cometeu um delito que o castiguem, que não fique na impunidade”, foi sua primeira reação.

Entretanto, um dia depois da detenção de Sepúlveda vieram à tona imagens que mostravam o principal assessor de Zuluaga com o hacker, enquanto o levava a um telejornal para tentar oferecer a informação de que as FARC estariam pressionando o eleitorado a votar no presidente Juan Manuel Santos – uma suspeita que afinal não pôde ser comprovada. Esse vídeo já custou a demissão de Luis Alfonso Hoyos, assessor de Zuluaga.

O candidato apadrinhado pelo ex-presidente Álvaro Uribe admitiu que o hacker era seu funcionário, mas negou ter ido ao escritório dele. Seus assessores, entretanto, lhe recordaram que havia se reunido com o hacker em seu escritório, mas disseram que havia passado por lá apenas para cumprimentá-lo. Depois, seu filho David convocou a uma incomum entrevista coletiva na qual afirmou que a campanha de seu pai havia sofrido uma infiltração, e antecipou que muito certamente apareceria um vídeo gravado clandestinamente que procuraria vinculá-lo às atividades ilegais realizadas pelo técnico de informática.

Que pancada Santos vai nos dar daqui até dia 25? Falta um mês, irmão”, pergunta o candidato ao hacker

Toda essa defesa fica em xeque depois da divulgação do vídeo de cinco minutos pela Semana. Na gravação, um tranquilo Zuluaga conversa com o hacker, no escritório deste, sobre a informação relativa às FARC.

Na gravação, o hacker mostra ao candidato e ao assessor Hoyos (que não aparece na tela, mas é citado nominalmente) um site no qual estava trabalhando, chamada dialogosavoces.com, no qual prometia publicar informações sobre os negociadores da guerrilha em Havana. “Todo o seu prontuário?”, pergunta o candidato uribista a Sepúlveda, que responde com um exemplo e assegura que a informação foi obtida junto à inteligência militar: “Aqui sai o que fizeram, o que não fizeram, quantas ordens de captura vigentes têm, como se comportam na selva, desde quando começou. É informação de inteligência militar à qual eu tenho acesso”, gaba-se o hacker. O site existe e tem como lema: “A verdade sobre a mentira da paz”.

O grave destas imagens, sugere a Semana, não é tanto o fato de serem publicadas informações sobre alguns guerrilheiros, e sim que nem Zuluaga nem seu assessor se surpreendam com o acesso do pirata a dados de inteligência, que não poderiam ser obtidos por um civil e cujo vazamento é crime na Colômbia.

Na gravação, também se ouve o candidato oposicionista perguntar ao hacker: “Andrés, então que pancada o [presidente Juan Manuel] Santos vai nos dar daqui até o dia 25 [de maio, primeiro turno eleitoral] como sua tábua de salvação? Falta um mês para dar uma pancada, irmão”, diz Zuluaga. “Faltam 32 dias”, esclarece o assessor. O hacker responde que “para Santos, a única coisa que o fortaleceria neste momento seria um golpe contra as FARC, nada mais”.

O hacker também aparece dizendo a Zuluaga – e isso parece ser da maior gravidade – que havia tido acesso a informações da inteligência norte-americana. “Sabemos que Timochenko [Timoleón Jiménez, líder máximo das FARC] está na fronteira, com tuberculose. Essa informação nós corroboramos com duas fontes. O acesso que eu tenho ao Comando Sul [dos EUA], aos aviões AWACS, que são os que monitoram as comunicações deles…”, diz, referindo-se às aeronaves de controle usadas pelos serviços de inteligência norte-americanos.

Ao mesmo tempo em que o vídeo era publicado e as informações se espalhavam como água pelas redes sociais, o ex-presidente César Gaviria, atualmente coordenador de debates do presidente-candidato Santos, disse no ato de encerramento da campanha, na zona sul de Bogotá, que “um candidato” havia contratado um “centro de delinquência” para interceptar as comunicações da equipe negociadora no processo de paz com as FARC. Outro que reagiu a esse novo escândalo foi o candidato independente Enrique Peñalosa, que disse em Yopal, no Departamento de Casanare, que “a renúncia de @OIZuluaga por dirigir um complô criminoso abriria a possibilidade de uma verdadeira eleição presidencial”.

Nas primeiras três horas após a divulgação do vídeo, o material já havia sido visto por mais de 12.000 pessoas, ao passo que nas redes sociais a hashtag #RenuncieOIZ (as iniciais de Zuluaga) entrou para os trending topics colombianos.

O presidente Santos, por sua vez, anunciou que nesta semana participará dos debates presidenciais, aos quais se negava a comparecer até agora. Nesses eventos, certamente a conexão entre o hacker e o candidato uribista se tornará o epicentro desta reta final para o primeiro turno.

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