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A Ucrânia caminha para a eclosão de uma guerra

O aumento dos confrontos no leste do país entre as forças militares de Kiev e os milicianos pró-russos aumenta o temor de uma guerra civil

Imagens de um dos postos de controle das milícias pró-russas em Slaviansk.Foto: reuters_live

Contingentes militares e de serviços de intervenção especial enviados pelas autoridades provisórias de Kiev estreitam o cerco em torno da autodenominada República Popular de Donetsk (RPD) e seus defensores, federalistas e separatistas pró-russos. Os episódios de violência aumentam e mancham de sangue esta região industrial e mineira, onde a insegurança e a incerteza vão ganhando terreno.

Os dias começam a se resumir em informes de guerra, que estão muito contaminados pela propaganda onipresente tanto por parte de Kiev como de Moscou. Na quinta-feira, o Ministério do Interior da Ucrânia informou que cinco pessoas morreram em três controles nas imediações de Slaviansk. A Anistia Internacional criticou o ministério ucraniano por se referir às vítimas como “cinco terroristas exterminados”. “De acordo com as normas internacionais, os servidores públicos devem empregar as armas de fogo só no caso de uma ameaça indiscutível para a vida ou em um sério perigo para a saúde”, disse Anistia.

Sobre o terreno, no centro dessa cidade que é o fronte das milícias da RPD, homens à paisana informavam sobre um ataque a um posto de controle no acesso pelo norte, em uma localidade chamada Khrestyshche.

Nesse local, vários carros blindados, segundo alguns sete, segundo outros dez, atacavam os jovens do povoado que guardavam o posto, um dos que estão no caminho de Izium (o centro coordenador da “operação antiterrorista” no sul da província de Carcóvia) a Slaviansk, ao norte de Donetsk. Em Bylbasovka havia outro desses postos, onde na noite do último sábado morreram três ativistas da RPD.

Os agressores em Khrestyshche eram militares ucranianos bem armados, destacaram alguns vizinhos de Slaviansk. Segundo agentes das estruturas de defesa da RPD, eles poderiam fazer parte de unidades do grupo de intervenção especial OMEGA. Depois da incursão, os blindados se retiraram da posição do ataque, destacaram. O centro de Slaviansk estava tranquilo pela tarde, algumas crianças andavam em bicicletas junto à estátua de Lenin, mas os balanços do parque instalado ao lado da prefeitura estavam vazios, em contraste com as muitas crianças que brincavam no local há três dias. No posto de controle número um da RPD na saída de Kramatorsk para Slaviansk, um ativista chamado Artiom assegurava que quatro helicópteros haviam decolado pela manhã do vizinho aeroporto (controlado por Kiev) em direção a Slaviansk e que só dois tinham voltado. Também informava da chegada de um caminhão militar carregado de militares ucranianos.

Outros incidentes da quinta-feira incluíam a incursão de um grupo de indivíduos com roupa de civil que, de madrugada, invadiram com paus, ferros e outros objetos contundentes a prefeitura de Mariupol (ao sul da província de Donetsk, na costa do mar de Azov) e atingiram brutalmente os ativistas da RPD que a ocupavam, segundo fontes vinculadas à defesa dos pró-russos. A polícia, disseram, não fez nada para parar os agressores, que fugiram depois. A agência AFP afirmou que cinco ficaram feridos em Mariupol.

Além disso, segundo veículos da RDP, foi registrado um confronto entre milícias e forças governamentais na cidade de Sviatogorsk (ao norte da província) e um ataque dos milicianos a uma unidade militar em Artiomsk, aparentemente com a intenção de se apoderar de um importante arsenal. Este incidente teria terminado com um ferido, segundo a BBC. Em Artiomsk, um correspondente do veículo britânico viu janelas e portas rompidas, mas poucas marcas de uma batalha, embora o Ministério do Interior da Ucrânia tenha afirmado que a unidade foi atacada por cerca de 70 milicianos armados.

Com os episódios, a Rússia começou a exibir sua força e a reforçar a mensagem já enviada por seus dirigentes, de que não deixarão que os russos da Ucrânia sejam perseguidos.

A ampliação dos atos de violência soma-se à crise econômica que afeta a vida em Donetsk, uma cidade que modernizou suas infraestruturas para o campeonato Europeu de futebol de 2012, já que seu principal oligarca, Rinat Ajmétov, o mais rico do país, é o grande padrinho da equipe local Shajtior. Em sua principal avenida, há muitas lojas que foram vendidas ou que foram fechadas com cadeados.

A Administração provincial ocupada é um foco de resistência e também de tensão. Junto às barricadas de pneus que formam sua fortificação há reservas de coquetéis molótov, cuidadosamente colocados, a intervalos de poucos metros, com seu estopim de pano, a ponto de serem lançados. O Parlamento autárquico da região se reuniu na quinta-feira para aprovar contas e orçamentos praticamente como se nada estivesse acontecendo.

O governador, Serguéi Taruta, que participava da sessão, interveio várias vezes, assumindo a função de facilitador da comunicação com os ministérios em Kiev. Ele queira que, junto às eleições presidenciais de 25 de maio, aconteça um referendo nacional sobre o status da língua russa e a descentralização do poder na Ucrânia.

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