A fotografia abraça a tarefa de contar a pandemia ao futuro
Iniciativas vão de concursos de fotos do cotidiano da quarentena a contas que registram o trabalho na saúde e a vida privada. Fotógrafos lançam venda beneficente ’150 fotos para SP', que vai até esta terça, dia 5
Para María Andrés, a crise do coronavírus significou o fechamento temporário do que era o sonho de sua vida: seu próprio estúdio de fotografia. Depois de dez anos trabalhando em diferentes empresas, em janeiro ela finalmente abriu seu negócio em Alacuás (Valência), mas apenas três meses depois teve de ir para casa para fazer trabalho remoto e fazer contas para ver como paga as despesas fixas do estúdio. A dona da Natural Photography continua imortalizando momentos no único cenário possível agora, sua casa. Os fotógrafos que escolhem as melhores fotos do concurso diário da conta do Instagram YoMeQuedoEnCasaFotógrafos decidiram que uma das feitas por Andrés era a ganhadora em uma segunda-feira de abril. Como esta, existem outras iniciativas que fomentam retratar o confinamento, como a #PHEdesdemibalcón, o concurso online que o tradicional festival internacional de fotografia e artes visuais PHotoESPAÑA lançou este ano para buscar e expor as melhores fotos tiradas em casa. No Brasil, há iniciativas semelhantes. O Foto BSB, também um festival de fotografia, está fazendo um concurso, escolhendo as fotos que chegam ao e-mail dajanela@festivalfotobsb.com.br
Na imagem vencedora de Andrés aparece uma máscara em primeiro plano e, ao fundo, uma mulher tomando uma ducha. “Queria mostrar as novas rotinas, acredito que muitos de nós podem se identificar com essa imagem: acabar o dia e sentir a libertação da água, deixando a máscara de lado e tentando lavar os pensamentos”, explica a autora ao EL PAÍS. O concurso fotográfico de que participou se chama El Tarro de la Memoria [O Pote da Memória] e é uma das atividades organizadas por um grupo de fotógrafos de estúdio, em sua maioria de retratos de crianças e recém-nascidos, com Pepa Valero e Franu Rey à frente.
“O teórico é importante, mas também testemunhar o que estamos vivendo, por isso pedimos a qualquer amador que retrate seu confinamento”, explica Valero ao EL PAÍS por telefone. Entre as 150 fotografias que são publicadas, em média, a cada dia para o concurso, que não oferece nenhum tipo de prêmio, as crianças e as varandas são duas das fontes de inspiração mais repetidas. Não é necessário que as imagens sejam feitas com uma câmera, a qualidade do celular é mais do que suficiente, basta publicá-las no Instagram e incluir três hashtags: #yomequedoencasafotografos #eltarrodelamemoria #etm0402 (este corresponde ao dia 2 de abril, mas vai mudando). A imagem de uma menina com uma colher levantada enquanto parece estar lutando contra seu prato de comida, outra de um garoto brincando ao entardecer e a de um edifício à noite com todos os apartamentos com as luzes acesas são três das ganhadoras destas últimas semanas.
Embora o concurso de fotos seja o que mais se propagou nas redes, o YoMeQuedoEnCasaFotógrafos nasceu nos primeiros dias de medidas de isolamento na Espanha para ser uma espécie de congresso online de fotografia aberto a profissionais e amadores. Valero diz ao EL PAÍS por telefone que sua primeira intenção era reunir fotógrafos para dar palestras e compartilhar conselhos e tutoriais com os seguidores. Embora sua principal ferramenta de divulgação seja o Instagram, as oficinas são seguidas pelos canais preferidos dos professores (YouTube, Facebook...) e depois todos os vídeos são reunidos em um site. Os temas dos eventos ao vivo não se concentram nos aspectos técnicos das câmeras, existem aulas de SEO para fotógrafos, como se inspirar na família para um projeto criativo, motivação para o trabalho diário ou quais são os melhores truques para tirar fotos de casamento. Valero explica que às vezes a imagem ganhadora coincide com as fotografias mais apreciadas no Instagram, mas outras vezes não, depende muito do que transmitem, das cores ou se fazem o público se sentir identificado com a imagem.
Fotos por São Paulo
No Brasil, há ainda contas como a Covidphotobrazil, que registra o trabalho de fotógrafos, na linha de frente da cobertura da pandemia ou não, durante as medidas de isolamento social. Em São Paulo, fotógrafos também decidiram se unir para vender fotografias para ajudar projetos assistenciais da cidade, a exemplo da mobilização feita para Bérgamo, na Itália, uma das cidades mais afetadas pelo coronavírus na Europa. No projeto paulistano, fotografias impressas, ao custo de 150 reais, serão vendidas para arrecadar recursos para pessoas em situação de rua. A iniciativa 150 fotos para SP, com fotos de várias épocas e também atuais, vai até esta terça, dia 5.
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