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Coluna
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Trump-Truth: verdade que é mentira

O perigo de sua nova rede social reside na habilidade de Trump de incitar e mobilizar seus seguidores, que contarão com espaço próprio livre de qualquer mecanismo de controle

Eva Borreguero
Truth Social Trump
Donald Trump, em 24 de julho passado, em Phoenix (Arizona).Ross D. Franklin (AP)

Quase um ano após ser derrotado nas urnas, Donald Trump contra-ataca com os olhos postos nas eleições legislativas de 2022. E o faz em sua arena predileta, as redes sociais das quais foi expulso, com a criação de uma plataforma digital que reflete os traços de sua personalidade. Truth Social (sic), isso é, Verdade Social. Na rede Truth, os tuítes se chamarão “verdade” e poderão ser retuitados como “reverdades”.

O rótulo, que pela semelhança sonora das palavras —Trump-Truth— joga com a personificação da “verdade” em Trump, apela para certezas inquestionáveis, dicotomias absolutas e verdades versus mentiras, dispensadas por Trump na condição de sumo sacerdote. Um eco da imposição da mentira que foi encarnada também pelo jornal Pravda soviético, palavra que em russo também significa Verdade. Messianismo tuiteiro para generalizar a confusão.

A nova rede social, que anuncia o combate à tirania das grandes empresas de tecnologia do Vale do Silício e a defesa da liberdade de expressão sem discriminação, recomenda que os usuários evitem nos textos palavras inteiras em maiúsculas —o som, por escrito, de gritos—, uma prerrogativa característica da Trump-Truth. Será censurado qualquer escrito que “em nossa opinião, desacredite, manche ou de alguma forma prejudique a rede ou a nós”. É o monopólio do engano. Diante de tal contrassenso, teremos certeza de que essa truth na verdade será mentira. Uma mentira fundamental que se afirma sobre a grande trapaça da suposta fraude eleitoral do ano passado.

A programação incluirá conteúdo antiwoke, um termo cunhado nos EUA para se referir aos conservadores que se opõe ao politicamente correto do ponto de vista racial e ou de questões de gênero. Se os excessos da cultura do cancelamento, da perseguição inquisitorial a personagens polêmicos, mergulham no “politicamente correto”, os rompantes grosseiros de Trump fertilizam o campo do “politicamente escatológico”. Será difícil neutralizá-lo em sua rede social. Pelo contrário, nela encontrarão refúgios os que desejam polemizar com a corrente woke, aumentando o nível de polarização.

Analistas de vários meios de comunicação esmiuçaram as razões para um possível fracasso da Truth: o ex-presidente já fez uma tentativa dessas antes, sem sucesso, e estaria desprestigiado. Sem dúvida, a nova plataforma não poderá rivalizar com o Facebook ou o Twitter, mas o destinatário de Trump não é a opinião pública em geral, e sim o círculo dos seus seguidores que ele pretende ampliar e tornar mais agressivo.

O perigo aqui reside na capacidade de Trump de inflamar e mobilizar seus extremistas, que, a partir de agora, terão espaço próprio livre de qualquer mecanismo de controle que atue como corta-fogo para seus impulsos incendiários. Por enquanto, o valor da empresa investidora se multiplicou no mercado de ações por 10, um indicador de que Trump está negociando alto. Por isso, a experiência aconselha a não menosprezar o ex-presidente, como aconteceu nas eleições de 2016, quando as pesquisas previam a vitória de Hillary Clinton. Ainda mais porque ele é o candidato mais valioso do Partido Republicano nas eleições presidenciais de 2024. A Truth poderá ser uma mídia eficaz de intoxicação antidemocrática.

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