O jogo dos mesmos erros com a variante indiana no Brasil
Não faltaram alertas, mas, de novo, houve imobilismo que custará vidas. O Brasil administra e tolera mortes, não está interessado em conter a covid-19
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Um ano e seis meses depois da eclosão da pandemia de coronavírus no Brasil entramos num looping perverso. Os jornalistas repetem os alertas que escutam dos epidemiologistas e especialistas e, não tendo mais remédio, também noticiamos as reaberturas de comércio no primeiro sinal de que os números de mortes e internações por covid-19 baixaram um pouco, apenas um pouco, nos hospitais. Estamos num novo ciclo agora, com os mesmos erros sendo repetidos, passo a passo. A angústia da vez, que acompanha a alta dos números que levam São Paulo a ter, de novo, mais de 80% dos leitos de UTI ocupados, é o impacto que a variante indiana do vírus terá no país. Tudo isso no contexto em que o Brasil estacionou num patamar alto de mortes pela doença e ainda mantém um ritmo errático de vacinação.
Há semanas o colapso da Índia domina o noticiário, mobilizando os países a pelo menos tentar impor alguma barreira sanitária nas fronteiras, por mar, terra e ar. Por aqui, muito pouco, e olha que há documenta experiência internacional a respeito. Mais uma vez, com o Planalto jogando contra, mas também com os governos estaduais imóveis, esperamos dar errado primeiro. Nesta quarta, quando o Brasil já contabiliza ao menos sete casos da nova variante indiana, algo começou a se mexer. A Prefeitura de São Paulo enviou uma comunicação na qual informa em que, após reunião com a Anvisa, vão começar a fiscalizar o aeroporto de... Congonhas, grande hub de circulação interna. Mas e Guarulhos, a maior porta de entrada dos estrangeiros no país? Pois bem. Há uma portaria que veta voos diretos da Índia desde 14 de maio. E pede um teste tipo PCR prévio dos passageiros. Nesta semana, provou-se como a estratégia não é suficiente. De Guarulhos saiu um passageiro que veio da Índia que vinha com PCR negativo e foi testado para a nova variante. Foi autorizado a viajar a Campos dos Goitacazes, no Estado do Rio, antes de o resultado de que de fato carregava a nova cepa ficasse pronto... Em vários países isso simplesmente não seria possível. Os passageiros teriam de ficar em quarentena antes de poder circular.
O erro na conduta é mais grave pelo resto que já sabemos. Há meses o Brasil convive com um apagão da vigilância genética. Não testa o suficiente nem tem como analisar o tipo de vírus causador da doença. Por que seria diferente com a variante indiana? Nesta quarta, enquanto placidamente admitia que o país se prepara a terceira onda, o ministro Marcelo Queiroga confirmava a demissão da infectologista Luana Araújo, que permaneceu apenas dez dias no comando da recém-criada Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. Motivo? Não foi aprovada “politicamente” pelo Planalto.
Enquanto o looping se renova, às custas de novas milhares de vidas a cada volta, seguimos tristes e brasileiros, como diz o meme, e vemos o futuro se desenhar em outros países, após vacinação em massa e lockdown sério.
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