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Coluna
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Brasil mergulhado na barbárie

Deixar um país inteiro à deriva, não por falta de recursos, mas de liderança, é um crime que também recai sobre as autoridades incapazes de intervir

Parentes de Benedito Rodrigues da Silva, 83, que morreu de covid-19 em São Paulo, em seu enterro no cemitério Vila Formosa.
Parentes de Benedito Rodrigues da Silva, 83, que morreu de covid-19 em São Paulo, em seu enterro no cemitério Vila Formosa.CARLA CARNIEL (Reuters)
Juan Arias

O Brasil começa a ser um campo onde parece ter se instalado um regime bárbaro com atos de terrorismo perpetrados contra aqueles que defendem as medidas de lockdown contra a pandemia que ameaça afundar o país na maior crise de saúde de sua história. Dois atos de terror e violência levados a cabo nos últimos dias contra dois jornalistas por fanáticos de Jair Bolsonaro levantaram o alarme de que os seguidores do presidente, que os qualifica de “meu exército”, estão dispostos a incendiar o país para impedir as medidas restritivas exigidas pela ciência e pela medicina como única arma junto com a vacina para tentar deter o rastro de mortes cada dia maior que horroriza o país. Nesta quinta-feira, o presidente deu mais um incentivo a eles: em nova transmissão ao vivo, disse ter acionado o Supremo Tribunal Federal contra as medidas para conter a circulação.

O último ato de terror aconteceu na cidade de Olímpia, no interior de São Paulo, contra José Antonio Arantes, editor do jornal local que quase morreu junto com a mulher e a neta de sete anos enquanto dormiam. Atearam fogo na casa durante a madrugada e se não fossem os dois cachorros que os despertaram com o quarto já cheio de fumaça e fogo, toda a família teria morrido. “Mais quinze minutos e teríamos todos morrido sufocados pelo fogo”, disse o jornalista, que acrescentou: “Estou há 40 anos na profissão, comecei minha carreira já no final da ditadura. Não vou abrir mão de lutar pelo meu povo e contra qualquer tipo de terrorismo e pensamento político que visem tirar a liberdade e suprimir os direitos de minha população”.

Outro jornalista, do O Estado de Minas há 20 anos, foi agredido durante uma manifestação de bolsonaristas com pontapés e pancadas na cabeça dadas com um capacete de motociclista aos gritos de “Comunista! Não vamos deixar!”. O jornalista comentou: “A ferida está na alma. Saber que temos um líder no país que incentiva a violência”. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) escreveu que “o extremismo e a intolerância contra jornalistas atingem toda a sociedade”.

É sabido que os grandes incêndios que devastam florestas inteiras às vezes começam com uma ponta de cigarro acesa. O mesmo acontece na política. Muitas das grandes tragédias da humanidade às vezes começaram com um único tiro de pistola e acabaram manchando de sangue países inteiros.

O Brasil está numa situação grave e perigosa que, se não for contida a tempo, pode arrastar o país para as cenas dantescas vistas no final do Governo Trump. As instituições do Estado responsáveis pela defesa dos direitos sancionados na sociedade não podem fechar os olhos nem pensar que Bolsonaro ainda pode mudar, defender os valores da liberdade e acalmar suas hostes violentas. Em mais de dois anos de Governo já deu provas suficientes de que sua personalidade negacionista, destrutiva e violenta não vai mudar.

Mais informações
67-year-old Aage Steen Jensen, who is a kidney patient, is vaccinated in his own home in Aalborg, Denmark, Friday, March 5,  2021. People over 65 who receive both practical help and personal care and who cannot be transported to a vaccination site were vaccinated in their homes by paramedics. (Bo Amstrup/ Ritzau Scanpix via AP)
Menos de 1% dos afetados se contagiam novamente com o coronavírus
Turin (Italy).- (FILE) - A vial of the AstraZeneca vaccine during the Covid-19 vaccination campaign for the school staff at San Giovanni Bosco Hospital in Turin, Italy, 19 February 2021 (reissued 18 March 2021). A committee of the European Medicines Agency (EMA) on 18 March 2021 said although not excluded, there is no direct link between vaccination against Covid-19 with the AstraZeneca vaccine and rare number of blood clots. The EMA upholds its approval of the vaccine and recommends EU countries to continue the usage of the AstraZeneca. (Italia, Países Bajos; Holanda, Estados Unidos) EFE/EPA/ALESSANDRO DI MARCO *** Local Caption *** 56710410
“Trombose após vacinação da AstraZeneca é estranha, não corresponde ao que se costuma ver em geral”
AME3588. SAO PAULO (BRASIL), 18/03/2021.- Trabajadores entierran a una víctima de covid-19 hoy, en el Cementerio Viola Formosa de Sao Paulo (Brasil). Brasil registró ayer 90.303 contagios de covid, un nuevo récord diario, con lo que el país ya suma 11.693.3838 casos y se confirma como el actual epicentro global de la pandemia. Las muertes también estuvieron elevadas en las últimas 24 horas, con 2.648 fallecidos por el virus, la segunda cifra más alta tras el récord de 2.841 decesos registrados el martes, con lo que Brasil ya roza las 285.000 víctimas, según el boletín divulgado por el Ministerio de Salud este miércoles. EFE/ Fernando Bizerra Jr
São Paulo, cidade mais rica do Brasil, em “situação de guerra” sem remédio e leitos

Como vários psiquiatras já indicaram, sua personalidade pertence a pessoas com traços de patologia impossíveis de curar. Em sua coluna de ontem no jornal Folha de S. Paulo, intitulada Jair Messias e o ‘pai dos psicopatas’, Guido Palomba cita o psiquiatra alemão Kurt Schneider, que em seu último livro tenta decifrar os transtornos de personalidade em tempos de tensão.

São disfunções de personalidade “com ausência de sentimento de piedade, compaixão e altruísmo; falta de valores éticos e morais e incapacidade de se sentirem culpados. São pessoas sem remorso e arrependimento”. São pessoas sem ressonância afetiva com a dor alheia. Por vaidade exagerada, sentem-se acima de tudo e de todos. São personagens agressivos, mal-educados e provocadores.

O psiquiatra alemão os compara aos oligofrênicos e os descreve como pessoas que, se voltam atrás, não é para reconhecer seus erros, mas por estratégia. “Rancorosos e vingativos reagem com virulência”, e conclui significativamente: “Ninguém os detêm, salvo uma reprimenda enérgica judicial ou legal”.

Seria possível dizer que, se o capitão responde a esse distúrbio psiquiátrico, é inútil continuar esperando dele alguma conversão milagrosa. Agora os responsáveis são os que têm o poder, com a lei nas mãos, de pôr fim a essa barbárie que oprime cada vez mais este país, ameaçando deixá-lo à própria sorte, deixando que a epidemia o devore com gente morrendo nos corredores dos hospitais à espera de uma UTI.

Deixar um país inteiro à deriva, não por falta de recursos, mas de liderança, é um crime que também recai sobre as autoridades incapazes de intervir.

Seria de se perguntar se os militares que hoje apoiam o presidente em seu Governo também vão fechar os olhos. Se vão preferir ficar também eles presos no Titanic ou se preferirão abandoná-lo antes que seja tarde demais. O Brasil não merece este massacre que produz morte e desolação sem esperança de salvação.

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