As crianças abusadas e as famílias de desaparecidos não encontrarão consolo vendo ‘Dois Papas’
No filme, o grande duelo interpretativo entre dois colossos acaba empatado. Como acaba empatada a história real
![Bento XVI (Anthony Hopkins) e Francisco (Jonathan Pryce), em ‘Dois Papas’.](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/6OX35MRNTHNWCVGA6FVIHYI4ZE.jpg?auth=323c8caa4b20009935236e440bd233b91f087367e7c45295dc4b97fb363c8c79&width=414)
Quando nos submetemos de bom grado ao tão anunciado duelo de atores, mas também de doutrinas, que nos traz o filme Dois Papas, podemos ver que pouca coisa muda na Igreja Católica quando muda um Papa.
O resultado é tremendo. Em primeiro lugar, porque a Igreja católica (a representante da única religião verdadeira, não se esqueça) sai vencedora vença quem vencer o duelo. Nisso, o filme de Fernando Meirelles é inequívoco e fiel à realidade. Porque não se conhece nenhuma ocasião em que tenha ocorrido o contrário.
O ruim é que a história pretende que seja a mesma coisa para quem a vê. Ganhe a opção que ganhar entre Joseph Aloisius Ratzinger (Anthony Hopkins) e Jorge Bergoglio (Jonathan Price), daria na mesma aos católicos, porque nenhum dos homens iria dar mais de si além do que se esperava deles. E a Igreja não iria realmente perseguir os golpistas e torturadores e os abusadores de crianças.
Porque nunca o fez.
Na Espanha o filme deveria vir acompanhado de algum documentário que situasse os católicos em relação à Igreja e ao franquismo durante os 40 anos em que ocorreram com absoluta impunidade os abusos sexuais contra menores em uma grande quantidade de colégios e paróquias, e as torturas e execuções em quase todas as delegacias de Polícia.
O sorriso complacente de muitos espectadores e espectadoras ao final do longa-metragem se apagaria. Porque a Igreja católica não foi somente um ator passivo na brutal história franquista, e sim um ator bem pago em troca de seu silêncio, mas também de sua participação nos fatos.
As crianças abusadas de todo o mundo e as famílias de desaparecidos no Chile, Argentina e muitos outros países, não encontrarão consolo vendo este filme. Um grande duelo interpretativo entre dois colossos do assunto, que acaba empatado.
Como acaba empatada a história real. Porque a estrutura de poder dentro da instituição não muda. Há um padre alemão que gosta de filosofia, que enfrenta de bom humor outro padre que gosta dos pobres. O segundo também está de bom humor.
Eu acho que, após ver o filme, só as mulheres deveriam ficar de bom humor, porque não são responsáveis por tanta violência.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
¿Tienes una suscripción de empresa? Accede aquí para contratar más cuentas.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.