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França ativa alerta máximo de terrorismo após ataque que matou uma brasileira

Simone Barreto Silva, de 44 anos, é uma das três vítima do atentado. Governo promete uma resposta “implacável” após a prisão do autor do ataque. “É a França que está sendo atacada”, avisa Macron

Pessoas acendem velas do lado de fora da Basílica de Notre-Dame de l'Assomption, em Nice, em homenagem às três vítimas do atentado.
Pessoas acendem velas do lado de fora da Basílica de Notre-Dame de l'Assomption, em Nice, em homenagem às três vítimas do atentado.VALERY HACHE (AFP)
Silvia Ayuso

Um ataque brutal deixou claro para os franceses na quinta-feira que a ameaça extremista ainda está presente. A França está mais uma vez em estado de alerta máximo de terrorismo, após o assassinato de três pessoas na Basílica Notre-Dame em Nice, incluindo uma brasileira, na região sudeste do país, em um ataque a faca. O agressor foi detido e, segundo autoridades locais, assumiu o ataque como um ato islâmico. Trata-se de um imigrante irregular de origem tunisiana. Também foram registrados ataques a alvos franceses na cidade de Avignon e na Arábia Saudita, que não deixaram vítimas ― ainda não está claro se esses incidentes possuem relação com o de Nice. “Claramente, é a França que está sob ataque”, declarou o presidente Emmanuel Macron.

A brasileira Simone Barreto Silva, de 44 anos, que vivia na França, foi uma três pessoas mortes no ataque. Em nota divulgada pelo Itamaraty, o presidente Jair Bolsonaro apresentou suas condolências aos familiares e amigos da vítima, e também estendeu sua solidariedade ao povo e Governo franceses. Promotores encarregados do combate ao terrorismo abriram uma investigação contra o autor por “homicídio e tentativa de homicídio relacionado a ato terrorista” e “associação terrorista”.

"Se voltamos a ser atacados é pelos nossos valores, pelo nosso gosto pela liberdade, por essa possibilidade no nosso território de acreditar livremente e não ceder a nenhum espírito de terror. Eu digo claramente: não vamos ceder a nada ", disse Macron em Nice, em uma declaração semelhante à que ele fez após a decapitação, duas semanas atrás, fora de Paris, de Samuel Paty, um professor de ensino médio que havia mostrado em uma aula sobre liberdade de expressão caricaturas do profeta Maomé. Esse ataque chocou uma França, que, desde então tem sido alvo de protestos e boicotes de vários países muçulmanos.

O que aconteceu em Nice foi um “ataque terrorista islâmico”, disse Macron. O atentado, que provocou uma cascata de condenações nacionais ―inclusive do Conselho Francês de Culto ao Muçulmano (CFCM)― e internacionais, pode assumir um complicado rumo político: o agressor confesso é um imigrante irregular recém-chegado à Europa . “No momento de sua prisão, ele carregava um documento da Cruz Vermelha italiana dizendo que ele era um cidadão tunisiano nascido em 1999. As primeiras investigações confirmam sua identidade”, explicou o presidente francês.

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Una nota en una estantería vacía en la que se puede leer "retiramos todos los productos fabricados en Francia", en un supermercado de la ciudad de Kuwait, como parte de un boicot en protesta por las caricaturas que mostraban al profeta Mahoma publicadas en los medios de comunicación franceses.
Plano de Macron contra o islã radical desata uma onda de protestos em países muçulmanos
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O primeiro-ministro Jean Castex descreveu o ataque em Nice como “ignóbil” e elevou o alerta terrorista no país ao seu nível mais alto. “Este ataque tão covarde quanto bárbaro deixa todo o país de luto”, disse Castex em um breve discurso à Assembleia Nacional.

O prefeito de Nice, o conservador Christian Estrosi, denunciou o ataque na cidade como um ato de “islamofascismo” e afirmou que o suposto agressor, que está sendo atendido num hospital após ser baleado por policiais que chegaram ao local logo depois do atentado, assumiu a motivação religiosa do seu ato. “Nice, como a França, está hoje pagando um tributo muito pesado ao ser vítima mais uma vez do islamofascismo (…). O autor dos atos não parou de repetir em looping diante de nós ‘Allahu akbar’ [Deus é grande] quando era atendido por médicos no local dos fatos”, declarou Estrosi.

Outros ataques também foram registrados em diferentes lugares: a Embaixada da França na Arábia Saudita confirmou o esfaqueamento de um vigilante, que foi ferido, em seu consulado em Jeddah, segunda maior cidade do país. De acordo com vários meios de comunicação franceses, um homem também foi morto pela polícia em Avignon quando ameaçou policiais com uma faca. De acordo com a estação de rádio Europe1, ele se lançou sobre eles, também gritando Allahu akbar.

Os ataques ocorrem em um momento sensível na história da França. Há menos de duas semanas houve a morte de Samuel Paty, o professor de História decapitado nos subúrbios de Paris por ter mostrado, numa aula sobre a liberdade de expressão, caricaturas de Maomé publicadas pela revista satírica Charlie Hebdo e que motivaram o atentado contra o semanário em janeiro de 2015. A morte de Paty gerou uma onda de protestos no país, com milhares de pessoas marchando em memória do professor. Além disso, nesta semana, a tensão aumentou consideravelmente devido aos protestos em vários países muçulmanos contra a firme defesa da França ao direito de exibir caricaturas do profeta ou outros símbolos religiosos.

Brutalidade

O ataque desta quinta-feira ocorreu por volta de 9h (5h em Brasília) na Basílica de Notre Dame, no centro de Nice. Além da brasileira, outros dois homens também foram vítimas. Eles morreram dentro da igreja, enquanto Simone Barreto Silva conseguiu fugir do templo e se refugiar em um bar próximo. Ela morreu logo depois dos ferimentos. Pelo menos uma das vítimas teria sido degolada ―ou mesmo decapitada, de acordo com vários meios de comunicação, citando fontes oficiais. O prefeito da cidade não quis confirmar explicitamente esse ponto, embora tenha dito que eles foram assassinados “de forma horrível”.

Nice é uma cidade que conhece bem a ameaça terrorista: em 14 de julho de 2016, 86 pessoas morreram ali quando um extremista atropelou com um caminhão a multidão que comemorava a data nacional da França. A Assembleia Nacional, que debatia a entrada em vigor nesta noite do novo confinamento nacional como consequência da expansão da pandemia da covid-19, guardou um minuto de silêncio por este novo ataque que ocorre quando a França ainda não se recuperou do atentado contra Paty.

Mais violência

Pouco depois do ataque em Nice, a Embaixada da França na Arábia Saudita confirmou o ataque ao seu consulado em um comunicado. Conforme explicado pela legação diplomática, o agressor foi detido pelas forças de segurança sauditas “imediatamente após o ataque”, cuja vítima, um funcionário vigilante de uma empresa de segurança, está sendo tratada em um hospital, mas não corre perigo. “A Embaixada da França condena veementemente este ataque contra um edifício diplomático que não se justifica de forma alguma (...) Apelamos aos nossos compatriotas para que mantenham a máxima vigilância”, acrescentou o comunicado.

Ainda pouco se sabe na época do suposto ataque em Avignon. A mídia local confirmou que a polícia matou um homem que se atirou contra alguns policiais com uma faca, por volta das 11 horas da manhã, embora no momento apenas a estação Europe1 afirme que houve gritos religiosos quando o agressor foi morto.

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