Impeachment de Trump fica em suspenso pelo desacordo nos termos do julgamento
Congresso dos EUA fecha para as férias de Natal sem data ao início do processo no Senado. Pelosi convida o presidente a dar o discurso do Estado da União em 4 de fevereiro
Os legisladores norte-americanos saíram para as férias de Natal na sexta-feira sem fechar um acordo sobre como ocorrerá o impeachment contra Donald Trump no Senado. A líder democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, se negou a despachar os dois artigos aprovados nessa semana na Câmara baixa contra o mandatário norte-americano. A medida tenta pressionar os republicanos para que aceitem ouvir novos depoimentos do caso em janeiro. O presidente do Senado, o republicano Mitch McConnell, já descartou essa possibilidade e seu partido acusa os democratas de querer prolongar o processo por falta de provas. Pelosi fez na sexta-feira o tradicional convite ao mandatário para que dê seu discurso do Estado da União à Câmara em 4 de fevereiro. Com a data do impeachment em suspenso existe a opção de que coincida com o julgamento político.
Trump confia plenamente em que os senadores republicanos não aceitem em bloco as acusações de abuso de poder e obstrução ao Congresso aprovadas na quarta-feira na Câmara dos Representantes. O Senado possui maioria republicana e os legisladores se mostraram fortemente contra o impeachment. Pelosi, a terceira maior autoridade dos Estados Unidos, considera que para que ocorra um julgamento justo é preciso ouvir os depoimentos de autoridades como o chefe de Gabinete, Mick Mulvaney, e o ex-conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton. O Governo de Trump se negou a entregar 71 documentos e o mandatário impediu o depoimento de 12 testemunhas.
O presidente do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes, o democrata Adam Schiff, acha mais relevante ter acesso à documentação do que escutar novos depoimentos. Em uma entrevista ao The Washington Post, Schiff se referiu à evidência encontrada nos e-mails e mensagens de texto de Kurt Volker, o então enviado especial dos Estados Unidos para a Ucrânia, e Gordon Sondland, embaixador na União Europeia, em relação às pressões de Trump a seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelenski. “As poucas mensagens que recebemos foram notavelmente incriminatórias”, afirmou. “É possível imaginar que se a pequena amostra de documentos que temos indica isso, quão condenatórios podem ser muitos dos outros documentos que a Administração se nega a entregar”.
Trump, que afirma que não se sente submetido a um impeachment, disse na sexta-feira que Pelosi está procurando um quid pro quo (barganha) no Senado. “Por que não fazemos um processo de destituição a ela?”, perguntou no Twitter. Na noite anterior a acusou de ter “medo” de despachar os dois artigos à Câmara alta porque o caso é “patético” e “uma fraude”. A Câmara dos Representantes não poderá enviar os artigos até que os legisladores voltem de seu descanso de final de ano em 7 de janeiro, de acordo com a Reuters.
A votação no Senado está prevista para janeiro. Os republicanos querem que seja o quanto antes, mas se os desacordos continuarem e se os democratas conseguirem que novas testemunhas deponham, o processo de destituição pode ser votado em fevereiro. Nesse caso, existe a possibilidade de que coincida com o discurso do Estado da União que será feito por Trump em 4 de fevereiro na Câmara dos Representantes. Nessa manhã, Pelosi fez o convite ao mandatário citando que é um dever constitucional. Trump, que dias atrás acusou a líder democrata de ter declarado “guerra à democracia americana” aceitou rapidamente o oferecimento.