Aos 21 anos, Alison dos Santos, o “Piu”, conquista o bronze nos 400 metros com barreiras em Tóquio

Atleta chegou em terceiro lugar, ao completar a prova em 46s72, e dá a primeira medalha ao Brasil na categoria. O ouro ficou com o norueguês Karsten Warholm, enquanto que o norte-americano Rai Benjamin conquistou a prata

O atleta Alison dos Santos celebra a medalha de bronze após a final do 400 metros com barreiras, em Tóquio.ANDREJ ISAKOVIC (AFP)
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Pela primeira vez, o Brasil tem um medalhista olímpico na prova de 400 metros rasos com barreira. E ele só tem 21 anos. Alison dos Santos, conhecido como “Piu”, chegou em terceiro lugar na prova realizada na madrugada desta terça-feira e conquistou a medalha de bronze, a 11ª do país nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. O brasileiro completou a prova em 46s72, novo recorde sul-americano. A medalha de ouro ficou com o atleta norueguês Karsten Warholm, que teve o tempo de 45s94, novo recorde mundial. Já prata acabou com o norte-americano Rai Benjamin, que terminou a prova em 46s17. “Eu não estou aqui só por mim, eu corro por outras pessoas também”, afirmou Alison em entrevista depois da prova, citando seu treinador e sua família. “Eu não represento o Alison, eu represento uma nação. Essa medalha não é só minha, é nossa, é do Brasil”, concluiu.

Alison já tinha deixado claro na semifinal que competiria pelo pódio inédito na prova. Ele fez o segundo melhor tempo das classificatórias, 47s31, que havia sido também sua melhor marca pessoal e o recorde sul-americano. Isso contando que desacelerou na chegada da semifinal para se poupar. Seu tempo ficou atrás do norueguês e campeão mundial Warholm —que ficou com o ouro nesta madrugada—, mas à frente do norte-americano Benjamin —que acabou com a prata. Piu já sabia que seriam seus dois maiores adversários. “Lógico que o Benjamin e o Warholm são favoritos ao ouro. Mas são oito chances na final. Todos brigam por três medalhas. Não dá para dizer quem vai levar. Espero que seja eu um deles”, previu ele.

E a final foi uma prova extraordinária. Os três primeiros tempos, de Warholm, Benjamin e Santos, foram os melhores da história das Olimpíadas. Três recordes batidos de uma vez só. Piu teria sido medalha de ouro e recordista mundial em qualquer outra prova olímpica dos 400 metros rasos com barreiras, com exceção desta. “Quando eu vi que o americano tinha feito na casa dos 45 segundos, achei que estava na prova errada”, brincou o brasileiro. Alison trouxe para o Brasil a primeira medalha individual em uma prova de pista no atletismo depois de 33 anos de jejum.

O pódio representa a chegada da fama para um menino tímido. Quando tinha 10 meses de idade, Alison sofreu um acidente com uma panela de óleo quente e teve sérias queimaduras na cabeça. Passou seu aniversário de um ano internado no Hospital do Câncer em Barretos. As lesões causaram cicatrizes na cabeça, peito e braço esquerdo, além de uma falha no cabelo. Por isso, adotou o boné como acessório essencial enquanto cresceu em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo. O apelido ele ganhou por uma homenagem a um colega mais velho da mesma cidade.

Alison começou como judoca na infância, mas logo chamou a atenção pelo porte físico —1,85m aos 14 anos de idade, 2,00m aos 21. Ele foi convidado para o atletismo por professores de um projeto social do Instituto Edson Luciano Ribeiro em visita a escolas da cidade. Edson Luciano é um velocista brasileiro medalha de prata na Olimpíada de Sidney, em 2000, no revezamento 4x100 metros rasos. Na primeira oportunidade, recusou por conta da timidez. Demorou alguns meses para aceitar o convite e, ainda assim, com certa cautela. Em sua primeira competição, no Centro Olímpico de São Paulo, correu com uma touca amarela emprestada por um amigo. E não parou mais de correr.

Os resultados vieram em baciada durante 2019. Sempre nos 400 metros rasos com barreira, Alison foi medalha de ouro nas Universíadas de Nápoles e no Pan de Lima. resultado expressivo veio logo na Universíada de Nápoles, em 2019, com a medalha de ouro nos 400 metros com barreira. Piu foi campeão pan-americano no mesmo ano, na mesma prova, em Lima. Ainda foi para a final do Mundial de Doha com o segundo melhor tempo, mas acabou em sétimo com 48s28. Dois anos depois, baixou para 47s31 numa semifinal de Olimpíada, e XXsXX para o pódio no final. Marcas expressivas de um jovem que tem tudo para se consolidar como um dos maiores nomes do atletismo brasileiro.

Piu foi o primeiro brasileiro a medalhar nesta prova olímpica. Antes dele, apenas Eronildes de Araújo e Everson Teixeira haviam disputado a decisão. Eronildes foi oitavo em Atlanta 1996 e quinto em Sidney 2000, já Everson foi sétimo em 96. Alison foi além, e só tem 21 anos.

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