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A bomba econômica da Superliga europeia de futebol: 7 bilhões de euros para os clubes mais ricos

12 clubes mandaram cartas à UEFA e à FIFA para proteger-se de possíveis sanções caso continuem com o projeto. 48 horas após seu nascimento, Superliga é abandonada por seis dos clubes fundadores

Ladislao J. Moñino
Florentino Pérez, presidente do Real Madrid e da nova Superliga europeia.
Florentino Pérez, presidente do Real Madrid e da nova Superliga europeia.Angel Díaz (EFE)
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A criação da Superliga —iluminada por 12 dos clubes mais importantes da Europa incluindo Real Madrid, Barcelona e Atlético—, iniciativa disruptiva de competição fora da UEFA, representa uma ameaça multidimensional que afeta os alicerces das estruturas tradicionais das ligas nacionais e da distribuição da receita gerada pela indústria do futebol. O enfraquecimento da UEFA como organizadora e distribuidora da riqueza gerada pelas competições europeias será notável e aponta para o prenúncio de uma dura batalha legal contra a qual os clubes rebeldes já buscam proteção. Como apurou o EL PAÍS, tanto a UEFA como a FIFA receberam cartas dos membros da Superliga nas quais alertam que já apresentaram ações judiciais cautelares, diante das medidas que estas organizações podem tomar para impedir que a nova liga saia adiante. As equipes da nova competição pretendem continuar disputando campeonatos nacionais e competições europeias até que o novo projeto se consolide. A temporada 2022-23 é considerada a meta para o início da competição inovadora.

“Terceiros não podem fazer uso de nossos direitos, nossos ativos e mostrem suas marcas para atingir seus objetivos enquanto somos convidados, sem o direito de abrir a boca “, expõe um dos líderes de clube fundador da Superliga. Os 12 clubes que romperam com o consenso do futebol europeu protestam contra o monopólio comercial que, segundo eles, a UEFA exerce sobre bens que consideram seus. Cada vez que um jogo da Champions League ou Europa League é disputado, os participantes são obrigados a dispensar seus patrocinadores em placares de vídeo, painéis e outdoors. Um documento exibido aos clubes da LaLiga e aos altos escalões do esporte espanhol, ao qual este jornal teve acesso, mostra que os fundadores da Superliga reservam a exploração de certos direitos em seus próprios aplicativos e plataformas digitais.

As bases do projeto descrevem uma holding de empresas com uma sede na Espanha, para gestão e concorrência, e outra na Holanda, para a venda de direitos televisivos. A sustentabilidade econômica da Superliga seria supervisionada por um órgão de controle financeiro com poder sancionador. Essa autoridade garantiria que os participantes atendessem a certos requisitos. Por exemplo, os clubes não podem exceder 55% de seu orçamento entre os salários dos jogadores e da equipe técnica, transferências e comissões para os agentes e, além disso, os membros devem acumular pelo menos três anos de ganhos antes de abater o valor dos impostos. Os clubes fundadores iriam distribuir 3,525 bilhões de euros para investimento em infraestruturas esportivas, financiado por investidores. Esses fundos também podem ser usados para aliviar os efeitos da crise do coronavírus sobre os clubes de futebol integrantes. O banco americano JP Morgan já anunciou que será um dos financiadores.

A distribuição desse dinheiro, caso sejam 15 os clubes fundadores (os 12 iniciais mais três convidados), seria assim: 350 milhões de euros para seis clubes, 225 para quatro, 112,5 para dois e 100 para três clubes, divididos de acordo com um sistema interno não sujeito à classificação de cada ano. As receitas da televisão estão estimadas em cerca de 4 bilhões de euros, dos quais 264 milhões iriam para a devolução do patrocinadores durante 23 anos. Ou seja, o grande bolo econômico ultrapassaria os 7 bilhões de euros por temporada. Está também prevista a criação de um fundo de solidariedade para ligas, federações e clubes, que ultrapassaria o da UEFA, mas seria controlado pelos próprios membros da Superliga. Essas diferenças são capazes de quebrar o sistema pelo qual historicamente os presidentes da UEFA e da FIFA alimentavam suas eleições e seus mandatos. Não só o atual ecossistema financeiro do futebol está em xeque, mas também o de sua representação.

A criação da Superliga e o enriquecimento dos clubes rebeldes reduziriam significativamente as competições domésticas. As perdas da LaLiga com a redução dos direitos audiovisuais, patrocínios, ingressos e assinaturas é estimada em cerca de 1,8 bilhão de euros. Devido ao caráter quase fechado da Superliga, os 12 clubes fundadores (seis ingleses, três espanhóis e três italianos), além de outros três que poderiam se somar a eles, não seriam rebaixados. Haveria apenas cinco vagas gratuitas por ano, o que prejudica as demais ligas.

Um dos maiores obstáculos que a Superliga deve encontrar é a rejeição que gera na torcida. As ligas nacionais não servirão mais para dar aos clubes mais modestos a chance de enfrentar os grandes nas competições europeias. Isso vai contra um dos alicerces que tornaram o futebol grande ao longo de sua história: a possibilidade do pequeno vencer o grande. Manifestações de fãs do futebol estão planejadas por toda a Europa. Os do Liverpool já abriram fogo, e espera-se que mais torcedores de times da Superliga se somem aos protestos.

O ajuste do calendário também será complexo. Ligas e federações nacionais pretendem usar isso para torpedear o projeto. A Superliga está projetada para começar em meados de agosto e ser disputada durante a semana, exceto na final. O novo projeto da Copa do Mundo de Clubes organizado pela FIFA, com 24 participantes e 2023 como possível data de início, também ficaria relegado a segundo plano. Até agora, o calendário internacional é administrado pela FIFA em coordenação com suas seis confederações. O órgão presidido pelo suíço Gianni Infantino terá que fazer uma renda de bilro quase impossível se as equipes nas ligas nacionais e nos jogos das seleções não forem reduzidas.

Viabilidade do novo projeto é questionada

Na Inglaterra, o clamor generalizado na Inglaterra entre a classe política e entre os torcedores fez com que os seis clubes ingleses abandonassem o projeto da Superliga na terça-feira, apenas 48 horas após seu nascimento. É um golpe fatal no plano traçado entre 12 dos clubes mais poderosos da Europa que tinham desafiado a UEFA e a FIFA e estavam determinados a mudar as estruturas e o modelo de negócio da indústria do futebol.

A debandada parece enterrar aquela que se perfilava como a grande revolução na indústria do futebol. O ambicioso plano, rotulado de não solidário pela UEFA, pelas federações e pelas ligas nacionais, desmoronou poucas horas após sua criação.


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