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China aconselha estocar produtos básicos por causa da inflação e da crise de abastecimento

Algumas hortaliças já custam mais do que a carne devido às chuvas torrenciais que arruinaram colheitas e de focos de covid-19 que afetaram à distribuição de alimentos

Várias pessoas compram em um supermercado de Pequim (China), nesta terça-feira.
Várias pessoas compram em um supermercado de Pequim (China), nesta terça-feira.WU HONG (EFE)
Macarena Vidal Liy

O Ministério de Comércio da China recomendou às famílias que estoquem “certa quantidade de artigos de primeira necessidade, preparando-se para emergências”, em meio de uma preocupação generalizada por uma escalada incomum no preço das hortaliças, que em alguns casos já superam os da carne, e o medo de que surjam problemas de desabastecimento.

A orientação do ministério, emitida na noite de segunda-feira, cobra das autoridades locais que garantam a estabilidade dos preços e a disponibilidade dos produtos, vigiando o comportamento dos mercados para alertar a tempo para possíveis problemas.

Na internet, muitos cidadãos se perguntavam se a recomendação do ministério se devia às tensões com Taiwan, agravadas ao longo de outubro. Um assessor do ministério, Guan Lixin, teve que sair a público para esclarecer na mídia estatal que o alerta decorre “da abundância de desastres naturais registrados neste ano, da flutuação dos preços das hortaliças, do fenômeno meteorológico La Niña (que deve causar temperaturas especialmente baixas neste inverno no Hemisfério Norte) e dos casos de covid-19 em vários pontos do país”. “A ideia é tomar medidas para que haja um fornecimento adequado neste inverno e na primavera do ano que vem”, observou Guan em uma entrevista publicada pelo Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista da China.

A cada ano, o Governo chinês reforça as cadeias de suprimento de carne de porco —a proteína por excelência na grande potência asiática de 1,4 bilhão de habitantes— e de verduras para os meses de janeiro e fevereiro, quando se celebra o Ano Novo lunar e as famílias de todo o país se reúnem ao redor de suas mesas nas festas mais importantes do calendário.

Neste ano, os preparativos adquiriram ainda mais urgência. Em fevereiro, coincidindo quase por completo com os festejos de ano novo, Pequim sediará os Jogos Olímpicos de Inverno. O Governo aspira a que o acontecimento sirva de vitrine mundial para seus feitos e que não haja nenhum tipo de problema.

Mas os pequenos focos de covid-19 detectados em várias cidades forçaram a confinamentos totais ou parciais e afetaram as cadeias de suprimento, especialmente no norte do país —onde o inverno é especialmente duro e chega muito antes que no resto do território. As fortes chuvas fora de temporada destruíram colheitas em províncias como Shandong (leste), considerada um dos grandes celeiros nacionais. E as maiores inundações desde que se tem memória também arrasaram os campos na província de Henan, no centro do país.

Esse conjunto de circunstâncias fez os preços das verduras e legumes dispararem desde o mês passado. Em média, subiram 16% com relação a setembro, segundo os dados do Ministério da Agricultura. Mas alguns produtos tiveram uma alta muito mais acentuada. O preço do espinafre aumentou 157%; o brócolis e a couve-flor subiram 50% nas últimas quatro semanas, segundo a agência Bloomberg. Essas altas, consideram os analistas, elevarão o índice de preços ao consumidor na China para o mês de outubro.

Nas redes sociais, multiplicou-se no mês passado o uso de hashtags indignadas como “15 yuans [cerca de 13,30 reais] por um quilo de ervilha” ou “12,8 yuans por um quilo de espinafre”. Já o quilo da carne de porco oscila entre 15 e 20 yuans nos mercados atacadistas. O frango custa entre 14 e 20 yuans o quilo.

Já na semana passada, o Ministério de Comércio tinha sinalizado que agiria para evitar que cresça o descontentamento popular. Seu porta-voz, Shu Yuting, indicava que os funcionários fiscalizam as oscilações diárias nos preços de verduras, carne, grão e óleos, e acrescentou que esse departamento “recorrerá às reservas nacionais quando for necessário”. Entre as indicações divulgadas nesta segunda-feira, inclui-se que as autoridades locais armazenem hortaliças mais duradouras e reforcem os sistemas de fornecimento de emergência para casos de desastre.

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