Latam Argentina fecha e deixa 1.715 pessoas desempregadas

A maior companhia aérea da América Latina argumenta que no país sul-americano "a viabilidade de um projeto sustentável não é visualizada"

Um avião da Latam estacionado com outros da sua concorrente Aerolineas Argentinas no aeroporto de Buenos Aires em 14 de abril de 2020.Juan Ignacio Roncoroni (EFE)
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A Latam Argentina parou de voar. A companhia aérea chilena anunciou nesta quarta-feira o fechamento de sua subsidiária, com 1.715 empregados, depois de vários anos de crise. “No complexo contexto da pandemia e suas consequências a longo prazo, não é possível visualizar alternativas de continuidade para as operações”, afirmou a empresa em um comunicado. O desaparecimento da Latam no país deixa a empresa pública Aerolineas Argentinas em situação próxima ao monopólio, apenas com a concorrência das low cost Flybondi e JetSmart.

A Latam foi criada em 2010 a partir da fusão da chilena LAN e da brasileira TAM. A LAN operava na Argentina desde cinco anos antes e no seu melhor chegou a contar com doze aeronaves e a dominar 18% do mercado local. Em 2019, transportou três milhões de passageiros. Mas a subsidiária argentina nunca obteve a rentabilidade proporcionada pelas subsidiárias do Chile e do Brasil: nos meses anteriores à paralisação por conta da quarentena, suas receitas representavam apenas 1,8% da receita total do grupo.

As sucessivas ondas de desvalorização que caracterizaram o mandato do conservador Mauricio Macri prejudicaram sua capacidade financeira e se refletiram em fortes prejuízos: 132 milhões de dólares (cerca de 640 milhões de reais) em 2018 e 133,4 milhões em 2019. Em 2019, já fechou várias rotas. A concorrência de uma empresa subsidiada como a Aerolineas Argentinas também foi crucial. Entre 2011 e 2020, a Latam Argentina perdeu 325 milhões de dólares. Nesse mesmo período, a Aerolineas, que em 2019 teve prejuízos de 680 milhões e calcula números negativos de até 900 milhões para este ano, recebeu do Estado 4,79 bilhões de dólares.

Quando a pandemia obrigou a cancelar os voos na Argentina, em 20 de março, a Latam tentou negociar com os sindicatos uma forte redução salarial de até 50%, mas não conseguiu chegar a um acordo. Enquanto a subsidiária norte-americana suspendeu os pagamentos nos termos do capítulo 11 da lei de falências para fazer frente às dívidas, a subsidiária argentina não obteve apoio por parte do Governo de Buenos Aires. Finalmente, dada “a dificuldade de gerar os múltiplos acordos necessários para enfrentar a situação atual”, a empresa optou pelo fechamento. Os voos para o exterior serão retomados quando a quarentena terminar, operados por outras subsidiárias. Todas as rotas internas, com doze destinos no total, desaparecem. As passagens já compradas serão reembolsadas.

A Latam Argentina apresentou na quarta-feira ao Ministério do Trabalho um Processo Preventivo de Crise para se desvincular de seus 1.715 funcionários. O processo pode ser complexo, porque uma lei proíbe demissões enquanto durar a situação excepcional de confinamento e quarentena no país.

Roberto Alvo, o principal executivo da “holding” Latam, afirmou que a decisão era “lamentável, mas inevitável”. “A Latam deve se concentrar hoje na transformação do grupo para se adaptar à aviação pós-pandemia”, explicou. Em março, a CEO da subsidiária argentina, Rosario Altgelt, já havia definido a situação da empresa como “dramática”. Apesar dos problemas, nesses meses de fechamento de fronteiras, a Latam Argentina fez vários voos de repatriamento, transportando cerca de 16.000 pessoas.

Pablo Biró, secretário-geral da Associação de Pilotos de Linhas Aéreas, destacou que a Latam como um todo lucrou 430 milhões de dólares nos últimos dois anos. Biró exigiu que o Governo tomasse medidas para defender os trabalhadores da Latam Argentina e acrescentou que, com o fechamento, a companhia aérea estava fazendo “uma extorsão” contra o presidente Alberto Fernández.

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