Emprego tem leve melhora e mais vagas com carteira assinada, mas informais superam e desafiam recuperação

Desemprego entre setembro e novembro deste ano fica em 11,2%, contra 11,6% no mesmo período de 2018. Vagas formais foram 33,4 milhões, mas informais somam 38,8 milhões

Homem em busca de trabalho mostra carteira de trabalho em 20 de março.AMANDA PEROBELLI (Reuters)

O presidente Jair Bolsonaro conseguiu dar um respiro do noticiário negativo nesta sexta-feira com um alento para a economia. A taxa de desemprego registrou uma leve queda no trimestre entre outubro e novembro deste ano, ficando em 11,2%. É uma melhora de 0,4 pontos porcentuais em comparação ao mesmo período do ano passado, o que equivale a 300.000 pessoas que saíram do status de desocupação (sem nenhuma atividade remunerada, seja formal ou informal). Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ao todo, o Brasil ainda conta com 11,9 milhões de pessoas sem trabalho, mas os dados sugerem que há uma perspectiva de melhora, mesmo que a conta-gotas. Na comparação com o trimestre anterior (junho/julho/agosto deste mesmo ano) foram 702.000 pessoas que lograram uma fonte de renda, seja por bicos, atividade remunerada por contra própria ou em empregos com carteira assinada. A variação entre as duas comparações (mesmo trimestre do ano passado, 300.000 vagas extra, e trimestre anterior, 702.000) se explica porque ao longo de 2019 o desemprego chegou a subir. Do segundo semestre em diante, porém, ele vem perdendo um pouco de força, ainda que lentamente. Os dados divulgados nesta sexta também levam em conta a contratação a partir de novembro de empregos temporários no comércio para as vendas de final do ano.

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Já aparecem também vagas criadas no setor de construção, (2,7% de aumento, ou 180.000 postos de trabalho novos no setor), indicando sinais de retomada no segmento que ficou estagnado nos últimos anos. Em 2018, o setor como um todo encolheu 2,5%. Segundo Adriana Beringuy, analista da PNAD Contínua, já há quatro meses o setor tem começado a mostrar alguma reação.

Também na comparação com o trimestre de setembro a novembro de 2018, o país registrou uma leve melhoria no setor industrial, com a criação de 321.000 novas vagas. A equipe econômica do Governo está confiante de que a agenda de reformas —tanto a da Previdência que já ocorreu este ano, como a tributária e administrativa, prometidas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes — vai incentivar as empresas a investir mais, o que pode reforçar a criação de empregos em 2020. A expectativa do mercado é que o país cresça por volta de 2,2%, o dobro do crescimento esperado para este ano, e há quem aposte que a alta pode chegar a 3%.

O grande desafio é reduzir a informalidade do mercado de trabalho, que hoje está na faixa dos 41%. Dos 94,4 milhões de brasileiros consideradas ocupados, ou seja, que trabalharam ao menos uma hora em trabalho remunerado (com dinheiro, ou com benefícios como moradia e alimentação) no período da pesquisa, 33,4 milhões têm carteira assinada, ou 378.000 pessoas a mais no mercado formal em comparação com o trimestre anterior. A maioria das vagas veio do comércio, de olho nas vendas de final de ano, explica Adriana Beringuy.

Outros 24,6 milhões trabalham por conta própria, o que inclui tanto empregadores sem registro e sem funcionários, como atividades como faxina, motorista de aplicativo ou entregadores. Foram 303.000 pessoas a mais nesse status no período. O IBGE considera que 38,8 milhões de brasileiros estão dentro da categoria informal, incluindo os que trabalham por conta própria.

“O movimento da carteira (assinada) é positivo, mas não é suficiente para um mudança na estrutura do mercado de trabalho”, diz Beringuy. “A despeito dessa reação, durante o ano todo houve um crescimento nas categoria relacionadas à informalidade, que são conta própria e empregados sem carteira”, completa. A analista reconhece, contudo, que a criação das vagas informais pode ser um passo que anteceda uma reação. “Mas não dá para antecipar nada. É preciso esperar os primeiros meses de 2020 para ver como o mercado se comporta”, diz.

Já o rendimento médio real ficou em 2.332 reais, com pouca variação sobre o trimestre anterior ou ao ano passado. Mas a massa de rendimento teve uma leve melhora, chegando a 215 bilhões de reais, uma alta de 2,1% sobre o trimestre anterior, e 3% sobre o mesmo período de 2018. Essa expansão se explica pelo maior número de pessoas trabalhando: o total de 94,4 milhões representa um recorde na série histórica da PNAD Contínua.


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