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Coluna
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Mais sexo e menos sátira política: o pacto da Netflix com a Arábia Saudita

A plataforma retira um capítulo da série 'Patriotic Act’, do comediante Hasan Minhaj, sobre o príncipe Bin Salman; em troca, Riad dá sinal verde para a explícita ‘Sex Education’

Hasan Minhaj, no programa de sátira política ‘Patriot Act’, na Netflix.
Hasan Minhaj, no programa de sátira política ‘Patriot Act’, na Netflix.
Ricardo de Querol

Poucas sociedades são mais conservadores que a da Arábia Saudita, mas agora será possível assistir no país a Sex Education, a libertina comédia britânica que deixa pouco espaço à imaginação. As pessoas poderão rir, ou se escandalizar, com as peripécias de jovens turbulentos, hétero e homossexuais, e com a mãe de um deles —sexóloga e a mais desinibida de todos. A Netflix fechou um acordo com o país para exibir essa e outras séries em troca da retirada de um capítulo de Patriot Act, do comediante Hasan Minhaj, dedicado ao príncipe herdeiro saudita, Mohammed Bin Salman, após o assassinato e o esquartejamento do jornalista e dissidente Jamal Khashoggi no consulado de Istambul, em 2018 - crime do qual o príncipe, também conhecido pela sigla MBS, é acusado de mandante.

O pacto —sexo por sátira política— é típico dos regimes que exibem gestos de abertura sem que seu poder seja posto em perigo. Reed Hastings, chefe da Netflix, diz que foi uma decisão muito difícil. O capítulo censurado continua no YouTube, justificou-se Hastings, que sacrifica um humorista incômodo mas conquista um grande mercado.

Coincidência ou não, o programa de Hasan Minhaj já tinha sido cancelado neste verão (no hemisfério norte) após a exibição de seis temporadas em dois anos. Uma pena: era um espaço singular, reflexo da sociedade multicultural de hoje. De origem indiana, muçulmano, progressista, um dos “100 mais influentes” segundo a revista Time, Minhaj faz monólogos sobre temas de atualidade em tom de divulgação, com mais informações de contexto que piadas, que também não são muito ácidas: seu sarcasmo se disfarça de ingenuidade.

O capítulo da discórdia recordava como Bin Salman foi recebido nos Estados Unidos como um astro do rock, seus expurgos de familiares, seu recorde de execuções, seus investimentos em empresas, a discriminação da mulher, seu papel na guerra do Iêmen (genial como é resumido em 40 segundos). Nada que não tenha sido dito antes —mas talvez fosse mais irritante na boca de um garoto que diz rezar em direção a Meca.

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