Sexo sim, beijos, não: estas são as novas regras do flerte em tempos de pandemia
Entre as medidas de distanciamento, especialistas destacam um “protocolo" seguro de aproximação
Depois deste ano, flertar será mais estranho do que nunca. Alcançar o difícil equilíbrio entre proteger-se e desfrutar os prazeres eróticos parece ser a meta, mas combinar o uso de máscaras, o distanciamento seguro e a aproximação íntima de novos amigos parece impossível. Não é preciso ir muito longe para encontrar exemplos: experiências como um simples beijo podem ser muito sexuais e desencadear os processos fisiológicos que acompanham a excitação, mas, como diz Francisca Molero, médica, sexóloga clínica e presidente da Federação Espanhola de Sociedades de Sexologia, “neste momento, beijar uma pessoa que acabamos de conhecer é totalmente desaconselhável”. E o que conta com a aprovação dessa especialista?
A covid-19 mudou muitas coisas e inevitavelmente reformulará o que é conhecido como pular de galho em galho. “Os rituais terão que ser transformados”, acrescenta a sexóloga. “Antes da pandemia, as interações amorosas haviam mudado e muitas pessoas começavam um relacionamento romântico já por meio do sexo; se funcionasse, elas se davam a chance de continuar se conhecendo. Agora, vão precisar se sentir mais seguras para se tornarem íntimas.” E como? “Deve ser compensado com a comunicação visual, e não verbal”, diz Molero. “O olhar, os gestos terão muita importância erótica ... Pode ser que passemos a dar mais espaço à sedução, àquela comunicação erótica que não é corporal. Mais à moda antiga? Certamente”.
Manter a distância interpessoal não impede que se tenha muito tato ao iniciar as manobras de sedução. O objetivo ainda é atrair a outra parte... e não espantá-la. Portanto, cuidado com as medidas de higiene. São necessárias, mas você precisa saber como pedi-las. Dizer de cara a alguém que tem que ir lavar as mãos pode fazer a pessoa ir, sim, mas não voltar. Para administrar a situação, a primeira coisa a fazer é lembrar-se de que você se ama muito. “Quanto mais autoestima a pessoa tem, mais ela se cuida”, diz a psicóloga Miren Larrazábal. “Uma vez assimilado, devemos expressar isso diretamente e sem rodeios, sabendo que estamos reivindicando um direito. Você pode dizer assim: ‘Nós vamos estar bem melhores, você e eu.’ Mesmo assim, como faziam as mulheres na época das campanhas publicitárias para convencer o homem a colocar a camisinha, você pode oferecer o seu próprio álcool em gel. É conveniente ser proativo.”
Quanto à máscara, causaram surpresa as diretrizes divulgadas pelo Departamento de Saúde de Nova York em 8 de junho, entre as quais consta a recomendação de uso desse elemento de proteção durante o sexo. Se você é um dos que se espantaram, considere que, segundo Francisca Molero, "tem que estar presente, é óbvio": incorpore-a com imaginação no jogo erótico, como um véu ou disfarce. O guia também recomenda que as pessoas que tiveram diferentes parceiros sexuais se submetam a testes mensais ou de cinco a sete dias após cada encontro.
A normalidade do sexo a dois metros
O contato físico com a nudez de outra pessoa, um dos estímulos do sexo no casal, entra em conflito com os famosos dois metros de separação. Mas existem práticas que podem substituir a clássica fricção dos corpos e são, segundo Molero, igualmente agradáveis. “Sexo virtual também é sexo, e pode ser uma alternativa por meio de mensagens que criam essa intimidade e, a partir daí, se você tiver mais confiança, decidir se pode se permitir a parte presencial. E também, brincar de pedir à outra pessoa que faça tal ou qual coisa enquanto olhamos; e a masturbação, é claro.”
É melhor isso do que ficar perguntando sobre o histórico amoroso recente da pessoa ou querer ver exames médicos, como se o coronavírus fosse uma DST. “De todo modo, é bastante inútil, porque pode ser que você não tivesse covid uma semana antes, quando fez o teste, mas depois se contagiou. Aqui, as únicas medidas são a prevenção e a vacinação, quando existir”, diz Molero. A psicóloga Miren Larrazábal considera que perguntar ou pedir provas “nessa situação não garante nada, porque a pessoa poderia ter se contagiado mais tarde em uma reunião.”
É por isso que a psicóloga também defende o resgate de práticas menos frequentes, assumindo que isso será apenas por um tempo. “Essa nova normalidade também é uma nova sexualidade, embora transitória”, diz ela. “E, portanto, devemos tomar medidas excepcionais e ser mais criativos. Podemos praticar a masturbação juntos, mantendo a distância de segurança. Tudo isso temos que incorporar ao nosso repertório de comportamentos sexuais e devem ser os mais frequentes enquanto durar esse estado excepcional “.
Existe a transmissão sexual?
Estudos sobre a presença do coronavírus no esperma são contraditórios. A prestigiada Clínica Mayo resume assim a questão: “No momento, não há evidências de que a covid seja transmitida por sêmen ou fluidos vaginais, mas o vírus foi detectado no sêmen de pessoas que se recuperaram, ou estão se recuperando do vírus. Mais pesquisas serão necessárias para se determinar se a covid pode ser transmitida sexualmente”.
Além dos dois metros de separação, as autoridades de saúde observam que deve haver um contato superior a 15 minutos para que seja considerado de risco. O mundo mudará tanto neste verão a ponto de levar embora o sexo rápido? “Na realidade, não se deve brincar com os 15 minutos”, diz Francisca Molero, “porque pode ser que o tempo passe voando e você não se dê conta, e não é o caso de ficar checando o relógio para vigiar a duração da exposição. As recomendações teóricas são excelentes e baseadas em evidências, mas, na prática, é difícil. É mais fácil ter em mente o distanciamento seguro.”
Em suma, como afirma a sexóloga, “não é o verão para ser promíscuo” ―no caso da Europa. Mas também não é o caso de pôr um limite ao número de amantes. “Se os relacionamentos se baseiam em sexo virtual, sedução e medidas seguras, as pessoas podem ter muitos.”