Por que a lava não derrete o próprio vulcão?

A parede que o estrutura é formada de um material vulcânico mais antigo, com um ponto de fusão maior. Além disso, influem a pressão e a condutividade térmica

Cratera do vulcão de La Palma.Daniel Roca (AP)

Estamos vendo estes dias, na erupção do novo vulcão de La Palma, como a lava destrói o que encontra pelo caminho e, no entanto, como diz a pergunta, não derrete o próprio vulcão. Em princípio, todos os elementos que apresentam ponto de fusão inferior à temperatura da própria lava, estimada entre 800 °C e 1200 °C, são engolidos pelas correntes de lava e integrados em sua massa: casas, estradas, mobiliário urbano, instalações industriais e agrícolas, etc.

No entanto, o que em geologia chamamos de “rochas encaixantes” resiste. Essa rocha é o material pelo qual o magma passa em sua ascensão à superfície e sua saída para o exterior. São várias as razões pelas quais não se funde. A principal delas é que o material que sobe do manto terrestre e acaba saindo pela boca do vulcão é uma rocha fluida de natureza basáltica que está a uma temperatura inferior à necessária para derreter a rocha por onde passa. Esta rocha que forma a parede encaixante tem uma composição diferente daquela que sobe por ser um material vulcânico mais antigo, com um ponto de fusão mais alto.

Além disso, a pressão influencia. A rocha que forma a estrutura vulcânica está sujeita a uma pressão maior do que os elementos da superfície. Estes últimos sofrem apenas a pressão atmosférica, mas as rochas em seu interior também estão sob o que chamamos de pressão litostática, que é a pressão exercida pelas camadas sobrepostas de material. Quanto mais alta a pressão, mais alto é o ponto de fusão. Portanto, essa característica aumenta a dificuldade da lava em destruir a rocha que forma o cone do vulcão.

E há ainda outra razão a acrescentar: as rochas têm baixa condutividade térmica, e mais ainda se contiverem água. Dou um exemplo para você ter uma ideia: nas mesmas condições, enquanto o cobre tem condutividade térmica de 385 W/m.K, a olivina (um mineral muito presente nas rochas vulcânicas) tem condutividade térmica de 5 W/m.K Isso significa que a temperatura e o calor do magma, à medida que sobe pela estrutura vulcânica, dificilmente se propaga e interfere pouco na rocha por onde passa.

Mas o fato de não derreter não significa que não o altere de algum modo. Esse magma ascendente deixa uma certa marca nas paredes, chamada de anatexia ou anatexis, que é uma fusão parcial das rochas; uma auréola de contato que vai esmorecendo. E é parcial porque, como você sabe, as rochas são compostas de diferentes minerais e nem todos os que compõem a parede encaixante têm o mesmo ponto de fusão, então algumas são mais afetadas do que outras pela temperatura da lava ascendente.

Como conclusão, a resposta à sua pergunta é que a rocha do edifício vulcânico é uma espécie de cofre blindado à fusão, principalmente devido à sua natureza, já que o ponto de fusão dessas rochas é superior à temperatura do magma ascendente, à alta pressão a que são submetidas, o que, por sua vez, também aumenta seu ponto de fusão, e à baixa condutividade térmica dos materiais rochosos, que dificilmente propagam o calor.

Rosa María Mateos é doutora em Geologia e pesquisadora do Instituto Geológico e de Minérios da Espanha IGME-CSIC

Pergunta enviada via email por Paula García

Coordenação e redação: Victoria Toro

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