Além da cloroquina, o que está sendo testado contra o coronavírus

Medicamentos usados para combater a Covid-19 foram aprovados para outras indicações e reaproveitados. Também estão sendo experimentadas duas vacinas em humanos

Funcionários do Instituto da Virologia da Universidade Philipps, em Marburg (Alemanha), que pesquisa uma vacina contra o coronavírus.Getty

Quando aparece uma crise como a provocada pelo novo coronavírus, não há tempo para desenvolver armas específicas para enfrentá-la. Novos fármacos precisam de muito tempo para provar sua segurança, mas há uma maneira de saltar alguns passos. É conhecida a história do Viagra, criado para tratar a angina de peito, mas que virou um sucesso de vendas quando se descobriu que favorecia as ereções. Algo parecido está ocorrendo com os medicamentos para a Covid-19: estão sendo reaproveitadas drogas com outros usos, na busca por alguma que tenha eficácia contra esse vírus ou seus efeitos.

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Vários produtos estão sendo testados em pacientes, alguns em ensaios mais avançados que outros. Além disso, já se estuda o uso de plasma sanguíneo de pessoas que superaram a doença e geraram anticorpos como tratamento para a Covid-19. Por último, em uma busca de mais longo prazo, mas que também pode evitar totalmente a doença em vez de apenas paliá-la, como fazem os antivirais, estão sendo experimentadas várias potenciais vacinas.

Como recorda a Agência Espanhola do Medicamento, “embora haja numerosos ensaios clínicos em andamento, não existem atualmente evidências procedentes de ensaios clínicos controlados que permitam recomendar um tratamento específico para o vírus SARS-CoV-2”. Entretanto, a necessidade e a falta de alternativas fazem que já estejam sendo oferecidos vários produtos promissores.

Remdesivir

Esta droga foi desenvolvida pelo laboratório farmacêutico norte-americano Gilead para tratar o ebola. Embora numa análise comparativa seja menos eficaz que ao menos outros dois fármacos para esse fim, sua atividade antiviral em experimentos com o novo coronavírus lhe deram uma segunda vida. Foi usada com bons resultados em pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 e já há dois ensaios clínicos na China, outros dois na Espanha e outros coordenados em nível internacional para provar sua eficácia. Os primeiros resultados são esperados para abril.

Lopinavir/Ritonavir

É parte do coquetel de antirretrovirais usados para conter o HIV. Este tratamento ficou conhecido ao ser empregado com sucesso por médicos do hospital Virgen del Rocío, de Sevilha (Espanha), para tratar o primeiro caso de contágio pelo SARS-CoV-2 registrado no país. Mas um caso individual de sucesso não se torna automaticamente um tratamento provado a ser oferecido com confiança aos pacientes de forma geral.

Em um teste clínico na China com 200 pacientes, este tratamento antiviral não mostrou um efeito benéfico significativo com relação a um grupo de controle que recebeu o tratamento habitual. Não obstante, os autores não descartam que outros estudos possam demonstrar um benefício. Entre outras coisas, cogita-se que a dose empregada para tratar o HIV não seja suficiente para o coronavírus, e que um aumento possa melhorar os resultados.

Cloroquina e hidroxicloroquina

Ambos os medicamentos começaram a ser usados contra a malária, mas seu emprego mais frequente hoje em dia é no tratamento de doenças autoimunes, como lupus e artrite. Seu potencial contra o SARS-COV-2 é, por um lado, que se observou sua capacidade de aniquilar os vírus, mas, além disso, tem efeitos anti-inflamatórios, algo que ajudaria os pacientes com pior prognóstico.

No momento não há ensaios clínicos publicados que provem a eficácia de nenhum destes fármacos, mas existem mais de 20 em andamento, principalmente na China, segundo a Agência Espanhola do Medicamento. “Considera-se que o nível de evidência ainda é baixo e se baseia nos dados pré-clínicos e de segurança em outras indicações”, apontam. Em experimentos de laboratório, viu-se que a cloroquina tem efeitos contra o SARS-COV-2, mas não demonstrou atividade em modelos animais ou em humanos frente ao vírus da gripe, dengue e Chikungunya.

Plasma sanguíneo

Outro dos tratamentos experimentais para fazer frente à avalanche de doentes é a transfusão direta de plasma sanguíneo de pessoas que se recuperaram da infecção. Na Espanha, está sendo preparado um ensaio clínico em que se provaria a eficácia do chamado plasma hiperimune. Esta estratégia já serviu para a gripe de 1918. Naquela pandemia, que matou 50 milhões de pessoas, os ensaios clínicos da época mostraram que o plasma dos sobreviventes reduzia pela metade a letalidade do vírus.

Outros tratamentos

Além dos mencionados anteriormente, há uma dezena de outros compostos que têm sido usados experimentalmente para frear o avanço da enfermidade em casos sem alternativas. O tocilizumab e o sarilumab, por exemplo, são imunossupressores empregados para doenças como a artrite reumatoide e que se mostram úteis para controlar processos inflamatórios provocados pelo vírus.

As vacinas

A OMS publicou uma lista de mais de 40 candidatos a vacina que estão sendo desenvolvidos por equipes de todo o mundo. No momento, só dois grupos iniciaram a primeira fase de ensaios clínicos em humanos a fim de provar a segurança e a capacidade de causar uma reação imunológica. Em primeiro lugar, a vacina mRNA-1273, desenvolvida por cientistas do NIAD (Instituto Nacional para as Alergias e as Doenças Infecciosas da Espanha) em colaboração com a companhia norte-americana Moderna. Esta equipe, dadas as circunstâncias e de forma pouco habitual, começou a testar sua vacina diretamente em humanos, embora ao mesmo tempo estejam sendo realizados os habituais ensaios com animais. O segundo projeto é o desenvolvido pela empresa chinesa CanSino Biologics em colaboração com a Academia Militar de Ciências Médicas da China. Embora existam possibilidades de que no final deste ano haja alguma vacina que demonstre sua utilidade, ainda serão necessários meses para produzi-las em massa e que cheguem a quem delas necessitar.

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