Japão entroniza o imperador Naruhito
Cerimônia ocorreu nesta terça, seguindo o estilo mais tradicional, cheia de gestos solenes e perante mais de 2.000 convidados vindos de 174 países
Era Tóquio, no século XXI, mas poderia ser Kioto um século antes. A cerimônia de entronização do 126º imperador japonês, Naruhito, herdeiro da casa real mais antiga do mundo, transcorreu nesta terça-feira seguindo o estilo mais tradicional, cheia de solenes ritos milenares e perante mais de 2.000 convidados vindos de 174 países. “Prometo atuar de acordo com a Constituição e cumprirei minhas responsabilidades como símbolo do Estado e da unidade do povo japonês, tendo sempre como meta a felicidade do povo e a paz do mundo”, afirmou o soberano, vestindo uma túnica laranja-escuro reservada para as ocasiões mais formais. Poucos minutos mais tarde, o primeiro-ministro Shinzo Abe proclamava três vezes, com os braços erguidos: “Banzai!”, “longa vida ao imperador!”.
A jornada para Naruhito, de 59 anos, havia começado com uma série de cerimônias xintoístas. De túnica branca e touca preta, dirigiu-se a um dos santuários no palácio imperial para comunicar sua coroação a seus ancestrais. Entre os convidados da cerimônia estava o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que falou sobre a possibilidade de o embaixador Nestor Forster assumir a embaixada do Brasil em Washington, agora que seu filho Eduardo Bolsonaro assumiu a liderança do PSL na Câmara dos Deputados. “Obviamente, o Eduardo desistindo que eu mande o nome dele ao Senado [para sabatina ao cargo de embaixador], tendo em vista a importância que ele está ganhando na política dentro do partido, o Forster é um bom nome para ser consolidado lá [em Washington]”, disse Bolsonaro à imprensa durante a viagem ao Japão.
Tudo se desenrolou com precisão milimétrica na cerimônia principal, a Sokuirei-Seiden-no-Gi, equivalente a uma coroação nas tradições europeias. No salão dos Pinheiros (Matsu-no-Ma) do palácio imperial, reservado para as maiores celebrações, aguardavam os membros da família real: os príncipes com trajes de gala, e as princesas com idênticos quimonos cortesãos de várias camadas. Imóveis. À frente, o trono imperial, o Takamikura, uma estrutura octogonal com 6,5 metros de altura, arrematada em ouro e laca. Fechado por cortinados roxos e decorado com motivos de animais mitológicos, esse trono pesa oito toneladas e simboliza a montanha pela qual, segundo a tradição xintoísta, o neto de Amaterasu, a deusa do Sol, baixou à Terra para reger os destinos do Japão. Ao lado do Takamikura, um pouco mais baixo, o trono da imperatriz Masako, o Michodai.
Ao som de um gongo, os mordomos abriram as cortinas dos tronos, mostrando o imperador com seu cetro. Junto ao soberano, dois dos tesouros imperiais, a joia e a espada, para certificar sua legitimidade. Também os selos imperiais, com a mesma função. A imperatriz ostentava um elaborado quimono de corte em tons pastel e avermelhados, que procuravam evocar a luz do sol.
Em meio a um profundo silêncio, um mordomo retirou o cetro de Naruhito. Outro lhe entregou o texto de seu discurso. “Depois de ter ascendido ao trono imperial de acordo com a Constituição do Japão e a lei de medidas especiais sobre a Casa Imperial, proclamo agora minha coroação aos que estão no país e no exterior”, anunciou Naruhito.
Um discurso muito breve, que leu com voz firme e em que repetiu a ideia com a qual foi proclamado imperador em 1º de maio, o primeiro dia da nova era Reiwa (“bela harmonia”), quando sucedeu ao seu pai, Akihito, que abdicara na véspera: que trabalhará para garantir a felicidade e prosperidade do povo japonês e a paz mundial, e seguirá o exemplo de seu progenitor, um pacifista convicto.
O mordomo então lhe devolveu o cetro. Era a vez de Abe, que concluiu sua felicitação ao imperador com os três “banzai”. Uma salva de 21 tiros de canhão saudou o novo imperador. Os convidados à cerimônia —exibida ao vivo pela televisão pública NHK— acompanhavam as cerimônias a partir de outros salões, separados por um pátio do Matsu-no-Ma. Na primeira fila, entre representantes de outras casas reais europeias, o príncipe Charles da Inglaterra consultava seu programa. O ex-primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi mantinha uma expressão solene.
Apesar das previsões de mau tempo, não choveu durante a cerimônia. No lado de fora, grupos de populares se aglomeravam às portas do palácio para manifestar suas felicitações ao novo monarca. Em toda Tóquio, a cerimônia era exibida em telões, e alguns dos cidadãos que a assistiam imitavam o primeiro-ministro na hora de fazer uma reverência.
Os festejos prosseguirão nesta noite com um banquete oficial para 400 pessoas e uma cerimônia do chá na quarta-feira. Também na quarta-feira, o primeiro-ministro Abe será o anfitrião de outro banquete formal.
De acordo com o programa, estava previsto que os imperadores participassem de um desfile em um carro aberto, para que os cidadãos pudessem lhe transmitir suas felicitações. Mas essa parte da cerimônia foi adiada para 10 de novembro, em sinal de luto pelas vítimas do supertufão Hagibis, que deixou pelo menos 79 mortos e 10 desaparecidos ao passar pelo arquipélago nipônico, há 10 dias.
Os ritos da entronização seguem os passos da cerimônia que elevou Akihito, em 1990, realizada pela primeira vez em Tóquio. Era também similar à do avô no novo imperador, Hirohito, em 1928, embora aquela tenha ocorrido em Kioto, a antiga capital imperial.
Akihito, que não assistiu à cerimônia, anunciou em 2016 que abdicaria quando sua saúde não lhe permitisse mais cumprir como desejava sua função de símbolo do Estado e da unidade japonesa. Era a primeira vez em quase 200 anos que um imperador desejava renunciar, algo que não estava previsto na legislação. Finalmente, o Governo aprovou uma lei extraordinária para lhe permitir deixar o trono: sua abdicação se tornou efetiva numa cerimônia solene em 30 de abril.
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