Cacique Turu Arara: “A nossa briga é para que os brancos não desmatem tudo”
Quatro famílias se instalaram na fronteira do território indígena com a rodovia Transamazônica para tentar conter a extração ilegal de madeira. O EL PAÍS visitou a recém criada aldeia e a terra devastada
Lideradas pelo cacique Turu, quatro famílias Arara deixaram, em fevereiro de 2018, a aldeia Laranjal, a maior das cinco instaladas no interior da floresta, para se estabelecerem na recém criada aldeia Arado.Lilo ClaretoA recém criada aldeia Arado está na fronteira do território indígena com a rodovia Transamazônica, uma imensa rodovia transversal que começou a ser construída no final dos anos 60, durante a ditadura militar, para o unir o Brasil de este a oeste e colonizar a Amazônia. Enormes trechos, como os 35 quilômetros entre os municípios de Uruará e Medicilândia que fazem fronteira com as terras dos Arara, permanecem com terra batida e esburacados.Lilo ClaretoQuando as quatro famílias decidiram se mudar para a aldeia Arado, tinham um único objetivo: tentar coibir, até agora sem armas, apenas com sua presença, a ação de invasores que roubam madeiras valiosas. Quase todas as noites saem com caminhões carregados com Jatobá, Ipê, Massaranduba ou Angelim.Lilo ClaretoDa Transamazônica é possível ver dezenas de ramais na mata por onde entram e saem os caminhões e máquinas que, pouco a pouco, vão carcomendo o interior da floresta. Por fora a mata parece intacta. Por dentro, uma devassa. Há pedaços de tronco e árvores caídas por todas as partes. Marcas de pneu e pacotes de cigarro indicam que a presença de "brancos" na floresta é recente.Lilo ClaretoA preservação da terra dos Arara é importante para garantir o futuro das novas gerações de indígenas desta etnia. Atualmente mais de 300 índios vivem nas terras demarcadas pelo Governo Federal. "Nós sobrevivemos da mata, da caça de macacos, jabutis... A nossa briga é para que os brancos não desmatem tudo", explica o cacique Turu.Lilo Clareto"Já fizemos denúncias para as autoridades, mas até agora não tomaram providências", acusa Turu, de 37 anos. "É triste", repete a cada minuto.Lilo ClaretoMobidi Arara é o pai do cacique Turu e o ancião da aldeia. Tem 85 anos e só fala o idioma próprio dessa etnia, o Karib.Lilo ClaretoJá as crianças Arara da aldeia falam português, além do Karib, e frequentam a escola pública da região.Lilo ClaretoA tensão aumentou desde a eleição de Jair Bolsonaro. O atual presidente brasileiro vem dizendo desde a época da campanha eleitoral ser contra a demarcação de terras indígenas e promete liberar atividades econômicas, sobretudo mineração, nos territórios protegidos pelo Estado brasileiro.Lilo ClaretoDe acordo com a Rede Xingu +, formada por aldeias e comunidades dessa região do rio Xingu, somente no mês de julho 5.895 hectares de terras indígenas foram desmatados, um aumento de 213% com relação ao junho e 436% a mais que em julho de 2018. "Quando o presidente ganhou, entraram nas terras e fizeram uma bagunça", recorda Turu, que na foto aparece ao lado de sua esposa, Elaine Xipaya.Lilo ClaretoUma mulher da aldeia Arado utiliza folhas de uma palmeira babaçu para fazer a cobertura de sua casa. Consegue mantê-la seca nos dias de chuva e fresca nos dias de muito calor, uma constante nessa região da Amazônia. Se bem feita, essa cobertura pode resistir até dois anos.Lilo ClaretoElaine Xipaya, esposa de Turu, segura seu filho, na aldeia Arado.Lilo ClaretoKatiely Raissa Arara, uma das meninas da aldeia Arado.Lilo ClaretoTibegoni Arara, outra das crianças da aldeia Arado.Lilo ClaretoUma criança da aldeia Arara.Lilo ClaretoSalantiel Arara, um dos meninos da aldeia Arado.Lilo ClaretoMaisa Arara, uma das meninas da aldeia Arado.Lilo ClaretoUm bebê Arara, na aldeia Arado.Lilo ClaretoDuas das crianças Arara que residem na aldeia Arado, no Pará.Lilo ClaretoCrianças Arara brincam no poço de água perto da rodovia Transamazônica. Lilo Clareto