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‘Definitely Maybe’, 25 anos do disco sem importância mais importante dos anos noventa

Assim foi a história de ‘Definitely Maybe’, do Oasis, o álbum que mudou tudo sem mudar absolutamente nada

Noel e Liam Gallagher fotografados em Londres em 1995.
Noel e Liam Gallagher fotografados em Londres em 1995.Foto: Getty
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Quando Definitely Maybe foi editado, em agosto de 1994, havia meses que já ouvíamos falar do Oasis. Nós que tínhamos acesso à MTV, que tínhamos visto como Supersonic (uma música que, convenhamos, também não era nada demais) vinha sendo exibida constantemente num canal que ditava os gostos de meio mundo na época. Kurt Cobain tinha morrido uma semana antes da edição de Supersonic, mas o buraco que o Nirvana deixara na indústria musical continuava aberto. Haviam colocado uma carga explosiva no muro que separava o mundo comercial do alternativo. E as gravadoras ainda levariam anos para preencher aquele vazio, que permitia que grupos “alternativos” tocassem nas rádios comerciais e triunfassem.

A ironia é que Cobain detestava essa ideia de cair no gosto das massas (“Passei a vida toda tentando me manter longe do esporte e aqui estou, tocando num ginásio esportivo”, disse o músico, contrariado, num show de 1993), mas essa foi sua grande herança. O Oasis tinha assinado contrato com uma gravadora independente, a Creation, mas não ligava para essas indagações morais. Seus integrantes haviam solucionado a questão tomando como modelo uns rapazes de classe operária como eles. Talvez você já tenha ouvido falar: The Beatles.

E a Creation parecia acreditar nisso tanto quanto eles. Como no caso dos garotos de Liverpool, o negócio era superar o que se esperava de uma banda de guitarras. A revista Q recorda, em sua última edição, que Definitely Maybe foi anunciado, de forma muito eficaz, nos jornais esportivos e nos programas distribuídos nos estádios de futebol antes dos jogos. “Pouco tempo depois do lançamento, as mesmas pessoas que teriam feito piada de alguém caminhando na rua com um penteado no estilo dos Beatles e uma guitarra na mão agora exibiam penteados e guitarras por culpa do Oasis”, diz a revista.

Era para tanto? Talvez sim, talvez não, mas isso importa? Quase nada em ‘Definitely Maybe’ é o que parece

E as publicações especializadas também tiveram o seu papel. Renderam-se de forma absoluta, incondicional, incrível. Até a Mixmag, bíblia da música eletrônica, deu cinco estrelas (máxima pontuação) para o disco. E nem cinco minutos tinham-se passado de sua edição quando alguém o chamou pela primeira vez de “clássico”. Durante anos foi o modelo de disco a seguir, tanto que até os rapazes do Oasis ficaram irritados. “Se eu vir de novo um anúncio de um disco na TV que diga ‘Melhor algum de guitarra desde ‘Definitely Maybe’, vou dar um tiro em que tiver escrito essa merda!”, disse Noel Gallagher em 2006, quando os Arctic Monkeys, Franz Ferdinand e Kaiser Chiefs faziam sucesso.

A portada é tão clássica como a música que contém o disco. A fotografia foi tomada por Michael Spencer Jones em casa do guitarrista do grupo Paul 'Bonehead' Arthurs. A cada detalhe da imagem tem sua história.
A portada é tão clássica como a música que contém o disco. A fotografia foi tomada por Michael Spencer Jones em casa do guitarrista do grupo Paul 'Bonehead' Arthurs. A cada detalhe da imagem tem sua história.

Mas era para tanto? Talvez sim, talvez não, mas isso importa? Quase nada em Definitely Maybe é o que parece. Seu grande mérito é dar a impressão de que era o típico disco de um grupo que tinha se limitado a plugar os instrumentos e começar a tocar. Algo feito sem esforço aparente. Enquanto seus primos americanos se inclinavam para o heavy ou para a música experimental, eles eram simplesmente uma banda de garagem que cativava e agradava com sua tendência para o barulho instrumental. Tudo mentira: a realização do disco foi um horror que incluiu cinco estúdios, sessões abortadas, músicas compostas no minuto final e uma quantidade de técnicos e engenheiros de som e mixagem que deixaria até Beyoncé escandalizada.

Repitamos a pergunta: importa? Não muito. O que realmente tem relevância são as legiões de imitadores e um detalhe: o fato de que seja difícil se lembrar do que fazia sucesso antes de Definitely Maybe mostra que, efetivamente, foi um desses discos que mudam o ecossistema. Como dizia o único verso que tem sentido na primeira faixa do álbum, Rock’n’roll Star: “Não há saída fácil.”

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