_
_
_
_
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

Humilhar para governar

Incitar o desprezo deliberadamente significa renunciar à legítima crítica racional para apostar no desejo gratuito de machucar e humilhar

Máriam Martínez-Bascuñán
Diego Mir
Mais informações
Congressistas atacadas por Trump: “Não mordam a isca, isso é uma distração”
Trump: “Se os imigrantes ilegais estiverem descontentes nos centros de detenção, que não venham”

Que a maior autoridade da principal potência mundial seja capaz de dizer a quatro congressistas – o chamado esquadrão – um “voltem aos lugares de onde vieram” reflete, mais uma vez, a ruptura dos mais elementares limites típica da era Trump. Mas a falta de liberalismo do presidente não é o principal problema; a questão é como suas bases o seguem, que o apoiavam nessa semana aos gritos de “mande-a embora!”. As declarações de Trump são racistas e machistas, evidentemente, mas captam e amplificam com habilidade a ressonância emocional de parte da população. Nada do que o coroou como Troll Supremo dos EUA se entenderia, diz Martha Nussbaum, sem essa paixão que carcome os sistemas democráticos: a inveja.

Essa sensação de estagnação que destroça o sonho americano da mobilidade social leva muitas pessoas a culpar por seu fracasso aqueles pelos quais se sentem postergados: os imigrantes que roubam seus trabalhos e as mulheres que sobem no status social. Mas o repúdio também se dirige às elites políticas e econômicas, incluindo a imprensa, acusados também pelo populismo de esquerda de conspirar para manter o status quo. Esquecemos que incitar deliberadamente o desprezo, como acontece, evidentemente, com os insultos ao novo prefeito de Madri, significa renunciar à legítima crítica racional para apostar no desejo gratuito de machucar e humilhar.

A política da inveja aproveita a inevitável insegurança de condições de vida desvalorizadas e um estado de ansiedade diante de um sentimento de ultraje, um lugar onde ser branco e homem é o único privilégio que resta. É indiferente que seja falso, pois o nacionalismo identitário facilita esse barco salva-vidas. E ainda que seu caldo de cultura talvez esteja mais nos que ocuparam e geriram o poder nos últimos 30 anos, o magnata encontrou a liderança perfeita: só precisa jogar sal na ferida.

Existem líderes que, diante das inseguranças existenciais e econômicas, apelam à fraternidade para combater o medo, apresentando programas de proteção social que o desgastam. Outros, entretanto, se ufanam em potencializar o componente revanchista da ira, renunciando a um discurso que cultiva a virtude da população e entendendo as relações sociais como um jogo de soma zero: para corrigir nosso orgulho devemos humilhar os outros. Porque ninguém nasce homofóbico, classista e racista. O ódio, da mesma forma que a fraternidade, se cultiva, mas depende – tanto lá como cá – da altura política dos que escolhemos para nos representar, geralmente tão tristemente narcisistas como nosso próprio reflexo.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_