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Resíduos desde o supermercado até as cinzas Saint Louis, no Senegal, é uma cidade costeira usada para acumular resíduos biodegradáveis, mas a irrupção de plásticos e outros materiais gera dificuldades no gerenciamento do lixo A infinidade de resíduos descontrolados se acumula nos cantos, árvores, ruas e margens do rio Senegal, quando passa pela cidade de Saint Louis. O lixo atinge o cenário dos cartões postais desta vila, antiga colônia francesa de casas em tons pastéis, patrimônio da Unesco. A imagem torna-se enlameada com toneladas de lixo não gerenciado, que poluem suas águas, obstrui instalações, é engolido pelo gado e infecta sob os pés de milhares de crianças e adultos. "Há apenas três caminhões de lixo para 250.000 pessoas. Na verdade, existem sete, mas quatro não funcionam. Sempre falta alguma peça", reconhece o chefe do Gabinete do Conselho da Cidade, Mai Biteye. "Sabemos que temos que fazer muito mais", acrescenta. Na foto, lixo a poucos metros do mercado de peixe de Guet Ndar. MARTA MOREIRAS Lixeiras, varredores municipais, subcontratados, contêineres e carroças puxadas por animais que conseguem entrar nas ruas estreitas ou na areia, onde o caminhão não pode entrar, são os meios para coletar todo o lixo. Tudo termina misturado em um aterro sanitário a 15 quilômetros ao sul da cidade, em Gandon. ÁNGELES LUCAS O Governo do Senegal aprovou em 2015 uma lei para proibir produção, importação, posse, distribuição e uso de sacolas plásticas de baixa micronagem, além de favorecer o manejo racional de resíduos plásticos. Um extenso regulamento no nome, mas frouxo na execução. São as crianças que vendem centenas de sacolas plásticas amarelas e azuis no mercado de Saint Louis, onde Pape Arona trabalha coletando o lixo da unidade de alimentos. "Há muito plástico, restos de comida, tem de tudo no chão", diz o varredor municipal de luvas, máscara e óculos escuros. ÁNGELES LUCAS "A batalha é mais importante em Saint Louis do que em Dakar, ainda há mais margem de manobra para que uma solução efetiva possa ser executada; é uma cidade intermediária, mais importante na África, porque também é onde a população mais cresce com as migrações urbanas ", diz o arquiteto Thomas Mfomo. ÁNGELES LUCAS "Toda a cadeia de valor de resíduos falha no Senegal. Os contêineres de uso único invadiram o país em poucas décadas (os plásticos em particular) e interromperam os padrões de consumo sem que a população fosse educada para administrá-lo, o serviço público não cumpre a sua função de coleção, e quando é realizada, não há solução de tratamento viável e o governo repele essa necessidade a cada ano", considera a presidenta da Zéro Déchet Sénégal, Charlotte Spinazze. ÁNGELES LUCAS "Tudo chega misturado a Gandon e sabemos que nosso sistema de coleta não é eficiente, que temos que multiplicar o número de caixas e reorganizar a seleção do lixo, além de começar a trabalhar na economia circular. Por exemplo, que com o plástico se façam lixeiras a serem distribuídas pelas casas, já estamos estudando isso”, diz Aly Sine, diretor técnico de serviços municipais. Na imagem, um dos contêineres em que o lixo do mercado é despejado, em Saint Louis. ÁNGELES LUCAS Um caminhão de lixo passa em frente à Prefeitura, onde um grupo de mulheres subcontratadas para limpar a areia das estradas protesta por não receber salários. "Eles não nos pagam há três meses, e não podemos continuar assim", reclamou entre várias colegas. Fontes municipais afirmam que a empresa subcontratada não está transferindo o salário. ÁNGELES LUCAS "É um problema real, não existe uma cultura de gestão de resíduos entre a população local, e também falta infraestrutura", diz o arquiteto Thomas Mfomo, que fez um trabalho intitulado "Unidade didática de reciclagem urbana. Intervenção na trama de Saint Louis. Como recuperar espaços urbanos degradados para alcançar maior satisfação do cidadão?" Nele, se propõe um centro de reciclagem urbana com usos industriais e educacionais. Na imagem, várias pessoas lavam seus animais no rio. ÁNGELES LUCAS "Na história já está a solução: Saint Louis é uma cidade costeira e tradicionalmente tem resíduos orgânicos como a pesca, que são biodegradáveis. Antes, não eram gerados tantos resíduos nocivos, mas com a introdução de produtos importados, tem chegado bastante plástico, sobretudo no campo da alimentação, porque o comércio têxtil e eletrônico ainda não proliferou", diz Mfomo, que afirma que o lixo, desde que bem gerenciado, tem impacto positivo para a população. ÁNGELES LUCAS "Na África, a política mais comum nos países é a proibição ou [a criação de] impostos sobre sacolas plásticas. A Mauritânia foi a primeira a adotá-lo, e aprovou a perda de até 70% do ganho devido à má gestão de sacolas plásticas. Já tomaram medidas semelhantes Senegal, Costa do Marfim, Mali, Gana, Quênia, Etiópia, Malauí, Ilhas Maurício, Zanzibar (Tanzânia) e Uganda, Em Cameroun e na África do Sul há impostos ", diz o relatório Desafios e soluções emergentes de plástico terrestre na África (2017), da revista científica Elsevier. ÁNGELES LUCAS Aly Sine, diretor técnico de serviços municipais, indica que há conversações com as pessoas que vão para o aterro coletar lixo, também usado para construir as fundações de suas casas. "Vamos ver de que maneira podemos formalizar a situação daqueles que usam o lixo, porque vimos que proporciona alguma riqueza", diz o funcionário. ÁNGELES LUCAS "No Senegal, a produção de resíduos é estimada em 190 quilos por ano por habitante, a maioria dos quais são abandonados ou queimados, o que causa considerável poluição no solo, no ar e no oceano. A geração de resíduos se amplifica na medida em que aumenta a população e o desenvolvimento urbanos e, além disso, os resíduos são importados a granel dos países desenvolvidos, que por sua vez produzem cada vez mais resíduos. O melhor resíduo é aquele que não é produzido; rejeitar, evitar, reutilizar, estas são as razões da nossa luta ", informa a associação Zéro Déchet Sénégal. MARTA MOREIRAS