_
_
_
_
_

Os choques da campanha polarizada se trasladam a universidades

USP e a UnB tiveram atos pró e contra presidente eleito. PM precisou intervir para separar grupos em Brasília

Manifestação contra o fascismo na USP.
Manifestação contra o fascismo na USP.Sebastiao Moreira (EFE)

O clima de polarização e violência política que tomou conta das eleições este ano, tendo feito ao menos duas vítimas fatais, ameaça migrar para dentro das faculdades do país. A Universidade de São Paulo e a Universidade de Brasília tiveram nesta segunda-feira atos a favor e contra o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Nos dois casos a Polícia Militar precisou ser acionada nos campi para evitar que os grupos contrários se encontrassem. Para acirrar ainda mais os ânimos, a deputada estadual eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL-SC), publicou um vídeo nas redes sociais pedindo para que os alunos gravassem vídeos de seus professores fazendo "manifestações político-partidárias ou ideológicas" na sala de aula. Segundo ela, esta semana “muitos professores e doutrinadores estão inconformados e revoltados” com a eleição de Bolsonaro.

Mais informações
Ciro critica “interesses mesquinhos” e quer liderar uma oposição sem PT
Mercado dá boas vindas a Bolsonaro e segue passos de Paulo Guedes para a economia real
Trump e as potências da América Latina e Europa cumprimentam Bolsonaro

A tensão nas universidades do país ocorre uma semana após ao menos 35 campi terem sido alvo de ações dos Tribunais Regionais Eleitorais em busca de material eleitoral. Em alguns casos, faixas com dizeres antifascistas que não mencionavam candidatos tiveram que ser retiradas, afrontando a liberdade acadêmica e de expressão dos alunos. A Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, condenaram as batidas.

Em São Paulo, o clima de conflagração começou nas redes sociais, com um evento chamado Marcha do Chola (sic) Mais, organizado pelo perfil USP Livre, que apoia o capitão da reserva. O grupo chamou um ato que pretendia sair da Escola Politécnica da USP, considerada mais conservadora, e iria percorrer a principal avenida da universidade na tarde desta segunda-feira. “Dada a vitória de Jair Bolsonaro, convidamos você a participar da marcha da vitória e um circuito de natação nas lágrimas da esquerda. (...).Vamos juntos cantar e comemorar. Vai ter arma para o cidadão de bem sim! Vai ter menor em Pedrinhas sim!!!!”, dizia o texto do evento, que chegou a ter mais de 2.800 pessoas confirmadas. No caminho do ato convocado estavam os prédios da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), reduto histórico da defesa de movimentos sociais e de ideais democráticos.

Enquanto os simpatizantes de Bolsonaro se reuniam na Poli, na outra ponta da avenida da principal avenida da USP, no prédio da História e Geografia (FFLCH), centenas de estudantes se organizavam para realizar um ato próprio, de repúdio ao fascismo. “Eu saí para trabalhar e aí fiquei sabendo que haveria uma manifestação pró-Bolsonaro que iria passar aqui na frente”, conta Carlos Quadros, 28, doutorando em História Econômica pela USP. “Vim para cá porque acho que temos que defender o conhecimento de qualquer ataque obscurantista”, afirma. Segundo ele, os estudantes se reuniram no local “de forma espontânea”. Às centenas os alunos se aglomeravam no vão do prédio, onde realizaram uma assembleia e decidiram seguir em caminhada até a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, uma antes da Poli. “Precisamos mostrar que estas pautas fascistas não tem lugar na universidade pública!”, disse uma estudante ao microfone.

No final, pouco mais de 20 pessoas compareceram ao ato de apoio a Bolsonaro, que sob forte escolta da Polícia Militar deu uma volta nos jardins do prédio da Poli e logo se dispersou. Já os estudantes da FFLCH marcharam até a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, e os dois grupos não chegaram a se encontrar.

De qualquer forma, a possibilidade de um confronto entre estudantes de direita e de esquerda chamou a atenção das autoridades da USP. A diretora da FFLCH, professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, gravou um vídeo nesta segunda-feira para tranquilizar os alunos. “Nós não temos nada a temer, tampouco devemos aceitar provocações de pessoas externas à nossa comunidade”, afirmou a docente. “Não cabe aceitar qualquer tipo de violação aos nossos princípios. Vamos nos proteger e proteger os nossos prédios, que são nosso patrimônio e nos dão condições de continuar defendendo nossos princípios. Não há nada a temer”, concluiu. Arruda disse ainda que estava em contato com o reitor da USP, Vahan Agopyan, e que ele havia garantido a segurança de todos.

Na Universidade de Brasília um protesto com cerca de 10 manifestantes pró-Bolsonaro foi expulso de dentro do espaço conhecido como Ceubinho por mais de 200 alunos contrários ao presidente eleito, aos gritos de “Racistas, fascistas, não passarão!”. Segundo a Folha de S.Paulo, a Polícia Militar agiu para separar os dois grupos e evitar uma confusão maior. Ciente dos atos, a reitoria chegou a pedir o apoio da Secretaria de Segurança Pública do DF e da Polícia Federal. De acordo com nota oficial, no último fim de semana, foram registradas atos de vandalismo de “cunho político partidário”, dentre eles a destruição de cartazes de uma exposição dos estudantes do curso de graduação em Museologia, intitulada “Se essa rua fosse mina”. A equipe da Prefeitura do Campus, que já recolheu os adesivos e limpou as pichações, agora trabalha em um levantamento das imagens das câmeras de segurança para proceder aos encaminhamentos necessários de investigação e identificação dos responsáveis.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_