Chefe do Twitter: “As redes sociais acarretam riscos, e assumimos a responsabilidade de arrumá-las”
Jack Dorsey e a executiva do Facebook Sheryl Sandberg fazem ‘mea culpa’ no Congresso dos EUA
Os gigantes tecnológicos retornaram nesta quarta-feira, 5, ao Capitólio para entoar um mea culpa e tentar convencer os senadores, a apenas dois meses de eleições legislativas cruciais, de que suas companhias estão hoje mais preparadas para combater as ingerências estrangeiras. Sheryl Sandberg, diretora operacional do Facebook, e Jack Dorsey, executivo-chefe do Twitter, compareceram ao mesmo Comitê do Senado onde suas respectivas companhias reconheceram, há quase um ano, que a Rússia utilizou contas falsas para difundir mensagens políticas nas eleições presidenciais de 2016, que levaram Donald Trump à Casa Branca. “Demoramos demais para identificar isso e para agir, a ingerência foi completamente inaceitável”, reconheceu Sandberg.
Quando os membros da comissão lhe pediram que definisse uma rede social, Dorsey, à frente de uma que conta com mais de 300 milhões de usuários, falou de “uma praça pública”. “Estimula e abriga conversas”, explicou, “mas também acarreta riscos”. “Estávamos mal equipados para a imensidão dos problemas que detectamos. Abuso, assédio, exércitos de trolls, propaganda através de robôs, campanhas de desinformação… isto não é uma praça pública saudável”, admitiu Dorsey, “e assumimos a responsabilidade completa de arrumá-la”.
Os dois executivos do Vale do Silício apresentaram estilos antagônicos. Sandberg, curtida na política como assessora do Governo Clinton, falou com sobriedade, olhando nos olhos de seus interlocutores. Dorsey, prototípico executivo tecnológico, que se definiu como tímido, lia do celular. Os escassos dois metros que os separavam na mesa simbolizavam a distância entre as duas elites norte-americanas, a de Washington e a de San Francisco. Mas os dois compartilharam protagonismo com uma cadeira vazia, a deixada, à direita de ambos, pelo Google, que declinou o convite dos legisladores num gesto que o senador republicano Marco Rubio qualificou de “arrogante”.
As três companhias há meses são questionadas por sua desproporcional influência na maneira de pensar das pessoas, por seu manejo deficiente dos dados pessoais que os usuários lhes confiam e por sua vulnerabilidade à manipulação por parte de atores estrangeiros. Sandberg e Dorsey responderam com tom conciliador, reconhecendo sua responsabilidade, detalhando as medidas já adotadas e mostrando a disposição de trabalhar conjuntamente com seus concorrentes, com legisladores e com as forças de segurança para responder aos desafios comuns.
Esta foi a quarta viagem que altos executivos das grandes companhias tecnológicas fizeram a Washington nos últimos meses para depor ao Congresso. O próprio Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, submeteu-se a 10 horas de interrogatório em dois dias de abril deste ano. Praticamente desde a chegada de Trump à presidência, o Senado investiga a suposta ingerência russa nas eleições de 2016, denunciada pelos serviços de inteligência norte-americanos. O presidente Trump qualifica o assunto como uma caça às bruxas com motivação partidária.
Antes da audiência, Trump quis desviar o foco e, sem apresentar provas, acusou as “superprogressistas” empresas tecnológicas de estarem interferindo nas eleições de novembro. O próprio Dorsey responderia à tarde no Congresso às acusações sobre o suposto viés antirrepublicano das companhias tecnológicas. “O Twitter não utiliza a ideologia para tomar decisões”, disse Dorsey.
Os legisladores não puderam ocultar certo ceticismo quanto à capacidade dessas companhias tecnológicas de agirem por conta própria contra os desafios. ”Ainda há muito trabalho por fazer. E sou cético quanto a vocês serem finalmente capazes de responderem sozinhos a este desafio. O Congresso vai ter que agir”, resumiu o senador democrata Mark Warner. “A era do faroeste nas redes sociais vai acabar. Para onde vamos a partir daqui é uma pergunta em aberto.”
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