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Como ser um astro da programação e assessorar a IBM com apenas 15 anos

Um jovem canadense narra o caminho que o levou a se tornar um respeitado arquiteto de redes neuronais, um ramo da inteligência artificial que ensina as máquinas a 'pensar'

O jovem Tanmay Bakshi.
O jovem Tanmay Bakshi.

“Olá, sou Tanmay Bakshi, tenho oito anos e frequento a escola pública de Great Lakes”. Estas são as primeiras palavras que o menino canadense pronunciou no seu canal do Youtube. “A primeira coisa que fiz, a do terminal, era simplesmente um vídeo de brincadeira, sem som nem nada. Tinha um Mac novo, acabava de criar uma conta no Gmail e queria fazer alguma coisa.”

Era o ano 2010, e o youtuber novato dedicava suas primeiras palavras ao Visual Basic, uma linguagem de programação criada pela Microsoft. A vozinha fina de Bakshi dizendo “agora vem a pequena parte de código” causa um impacto semelhante ao que teria sido escutar o Bambi pronunciando um discurso de Winston Churchill.

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Youtube, IBM e conferências

160 vídeos e 272.000 assinantes mais tarde, o Bakshi adolescente dedica seu último vídeo a explicar como estruturar dados de linguagem natural. Mas nem tudo foi YouTube. Também escreveu um livro, assessora empresas como IBM e Apple, participa de outros projetos junto a grandes empresas do setor educacional e farmacêutico e de vez em quando sai em turnê como palestrante em eventos e conferências como a KeepCoding Conect. Tudo isto sem ter completado 15 anos.

O Bambi já está mudando de voz. Acaba de chegar à Espanha com uma hora e meia de atraso, procedente do Reino Unido. Antes, tinha passado pela Alemanha. Subiu um momento até o seu quarto e desceu preparado para as entrevistas. Fresco como uma alface, ostentando uma camiseta com as siglas IOT – sigla de “internet das coisas” – escritas em código binário. Sua mãe ficou dormindo, seu pai assiste à conversa em segundo plano: “Sempre viajamos com ele”, afirma, sorridente.

Puneet Bakshi, desenvolvedor, foi crucial nos rumos que seu filho trilhou. “Quando comecei, tinha 5 anos. Realmente não tinha nada melhor para fazer. Passava o dia olhando como meu pai programava. Ele viu essa curiosidade e me convenceu a começar a aprender”, recorda o jovem.

No começo era um passatempo. Nada sério. Sua diversão para depois do colégio, em que permaneceu até o sexto ano. “Depois de passar para a ser educado em casa, e sobretudo depois de entrar em contato com a IBM, as coisas começaram a ficar mais intensas.”

Olá, IBM, sou Tanmay, e você errou

Aos 11 anos, quando a programação começava a ficar pequena, Bakshi topou com o machine learning (“aprendizado de máquina”). Sua primeira aproximação ao mundinho foi propiciada pelo Watson (IBM). “O motivo pelo qual me centrei nele foi que senti que você não precisa saber muito de machine learning no backend [o motor de um programa]. Basicamente você lhe dá os dados e ele te dá as respostas.” Tudo ia bem, até que ele topou com um erro no sistema de conversão de documentos.

Depois, a coisa melhorou. Despertou o interesse da IBM após tornar públicas suas impressões sobre a falha do Watson no Stack Overflow, um fórum sobre programação. “Isso os levou ao meu canal do Youtube. Finalmente entraram em contato comigo, e três meses mais tarde criei meu primeiro aplicativo do Watson, o Ask Tanmay”, prossegue. Assim, começaram —e continuam— três anos de simbiose: para Tanmay, mentores; para a IBM, as impressões de um outsider autodidata.

Quando comecei, tinha 5 anos. Não tinha nada melhor para fazer

É possível que os chamegos da IBM levem-no a descumprir as exigências da educação formal? Tanmay acha que não, mas tem claras as vantagens do aprendizado dentro de casa: “É muito mais conveniente e mais prático. Se você olhar o meu canal do Youtube, verá que tenho vídeos de outros cursos. Posso criá-los porque não estou limitado ao meu curso, posso avançar e retroceder até onde quiser”.

E há também a flexibilidade. Bakshi proferiu seu primeiro discurso inaugural aos 11 anos, em Las Vegas, perante um mar de 25.000 pessoas, e sua agenda não ficou mais simples desde então. “Posso ficar em dia [com os estudos] nos fins de semana, ou à noite. Por exemplo, ao vir à Espanha não precisei perguntar ao meu colégio se eu podia. Teria sido tecnicamente possível com a educação formal, mas não é prático”, conclui.

Plano de estudos

Em sua biografia do Twitter, sob uma foto com Will Smith, o jovem canadense se descreve como “arquiteto de redes neuronais”. O título é autoconcedido. Uma vez entendido o funcionamento e alcance do Watson, lançou-se aos mesentérios do machine learning. “As redes neuronais profundas me fascinaram por todas as diferentes aplicações abstratas em que são empregadas: classificação de dados visuais, compreensão da linguagem natural...”, recorda.

Seu mestre, a internet. E sua paciência, imprescindível. Em programação, nada sai de primeira. “À medida que ia trabalhando com isso, percebia que tudo era questão de tentativa e erro”, conta. A diferença entre Bakshi e o resto dos mortais da sua idade é que, para ele, esta busca por erros era um jogo. “E a mera satisfação de conseguir resolvê-lo faz tudo valer a pena.”

Não estou limitado ao meu curso, posso avançar e retroceder até onde quiser

Como base, tomou um estudo “muito simples e muito antigo” sobre retropropagação —um método de treinamento—, um papel e uma caneta. “Desenhei uma rede neuronal muito simples e a refiz várias vezes. Isto me deu uma ideia de como funcionam.” O próximo passo foi traduzir o esboço para o Python. “Escrevi minha própria biblioteca de brinquedo para entender como tudo funcionava. É algo que não vou utilizar nunca mais, mas me deu uma boa base”, reflete.

Precisamente a ineficiência de precisar localizar ele mesmo os recursos para avançar em sua aprendizagem o convenceu a seguir apostando no seu canal do Youtube. “Acredito que a pessoa mais jovem que eu pude ajudar tinha 8 anos, e a mais velha até agora tinha 84. É um espectro muito amplo, e eles estão por todo o mundo. Isto para mim é a prova de que há gente de todo tipo que precisa de ajuda”, raciocina.

Heróis improváveis

Nem era preciso, mas vamos dizer: Tanmay Bakshi não é um adolescente convencional. Ainda perto do final da infância, combina suas viagens com estágios de verão na IBM. Seu plano para os próximos três anos é seguir como até agora.

E se pudesse aprender com uma equipe de todo o mundo? “Vou lhe dizer vários e depois escolho.” Pensa com o carinho de quem confere suas figurinhas de futebol. Gosta de como Geoffrey Hinton trabalha. Sabe que no Google e na Apple estão fazendo um grande trabalho, assim como John Kelly na IBM... “Sabe? Acho que ficaria com Joshua Bengio”, arremata. O professor da Universidade de Montreal é para Bakshi “o pai do machine learning” e lidera a equipe do Instituto de Algoritmos de Aprendizagem de Montreal (MIL). “Há muitos trabalhos geniais que ele e sua equipe já fizeram. Por exemplo, o Theano era uma das maiores bibliotecas de machine learning, e de fato costumava ser uma das mais eficientes. Tinha suporte para múltiplos GPUs, muito antes que outras tivessem. Definitivamente é alguém com quem eu gostaria de aprender.”

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