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Uma Inglaterra jovem, mestiça e inspirada no Tottenham

A seleção dirigida por Gareth Southgate, classificada para as semifinais depois de 28 anos, apresenta um modelo de jogo heterodoxo e imita o estilo de Pochettino

Os jogadores ingleses comemoram a classificação para as semifinais depois de derrotar a Suécia.
Os jogadores ingleses comemoram a classificação para as semifinais depois de derrotar a Suécia.FACUNDO ARRIZABALAGA (EFE)
GORKA PÉREZ

Quando Mauricio Pochettino (Murphy, Argentina, 46) foi contratado pelo Southampton em janeiro de 2013, depois de quatro temporadas no Espanyol, sua relação com o clube e a imprensa inglesa não começou da melhor maneira quando ele disse em sua apresentação: "Desculpem-me, mas não falo inglês". Como ele reconheceria mais tarde, depois de completar duas temporadas notáveis com o Saints e já como técnico do Tottenham, não é que ele não conhecesse o idioma de Shakespeare, mas não sentia que pudesse explicar-se com precisão por meio dele. "Por causa do meu nível de inglês, às vezes minhas explicações parecem pobres, e é por isso que mantive um tradutor durante minha estada em Southampton", reconheceu em agosto de 2014, em sua primeira coletiva de imprensa em inglês, uma obrigação contratual.

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Hoje, quatro anos depois daquele episódio, Pochettino não possui o título de Sir, mas seu trabalho em Londres não só repercutiu no crescimento de um clube que voltou à elite, como também beneficiou a uma Inglaterra que, depois de 28 anos, voltará a disputar as semifinais de uma Copa do Mundo. Cinco dos 23 jogadores ingleses convocados na Rússia jogam no Tottenham (Kane, Alli, Trippier, Rose e Dier) e seu técnico, Gareth Southgate, compôs uma seleção que replica o ecossistema do time londrino. "O jogador inglês tem capacidade para aprender como qualquer outro", reconhecia Pochettino ao EL PAÍS pouco tempo depois de chegar a Inglaterra. Amante da tática e do trabalho com a categoria de base, seu leque de esquemas (variou a colocação dos meias pontas e os volantes sobre o campo, bem mais livres e com maior capacidade de reação depois de combinações rápidas) ampliou o horizonte futebolístico de uma seleção (e um país) que tem recursos ofensivos à margem do seven-eleven (bola larga nas extremidades para que se concentrem no atacante).

Com uma formação 3-5-2 muito pouco britânica, Southgate encontrou a maneira de explorar as características de um grupo no qual se misturam diferentes perfis de jogadores e que não replica nem a morfologia nem a fisionomia das últimas seleções inglesas. "Somos uma equipe cuja diversidade e juventude representam um país moderno. Somos o reflexo de uma nova identidade e esperamos que as pessoas se conectem conosco", assegura o técnico. Raheem Sterling nasceu há 23 anos em Kingston, a capital de Jamaica. Mede 1,70 m e é capaz de alcançar a velocidade de 35 quilômetros por hora. Walker, Young e Rose também contam com a mesma ascendência jamaicana, e Dele Alli (22 anos, 1,88 m) é inglês de nascimento, mas seu pai, Kehinde, é oriundo da Nigéria. O pai de Harry Kane, máximo artilheiro da Copa do Mundo, com seis gols, é irlandês, e Delph e Loftus-Cheek são descendentes de guianeses.

Com uma idade média de 25,9 anos, a mais baixa entre as quatro seleções classificadas para as semifinais e a terceira mais baixa da Copa, atrás de Alemanha (25,7) e Nigéria (24,9), Southgate, que de encarregar-se da seleção em junho de 2016 ocupou-se da sub-21 (conseguiu 27 vitórias, três empates e só três derrotas em 33 jogos), não desviou sua atenção das categorias de base de um país que colecionou vários sucessos nos últimos campeonatos. Em 2017, a sub-17 inglesa proclamou-se campeã do Mundo, a sub-19 venceu o título europeu e a sub-20, o mundial. Um dos jogadores que mais vêm se destacando na Rússia é o goleiro Jordan Pickford (titular em todas as categorias de base da Inglaterra), uma das apostas pessoais de Southgate, e pertencente a essa geração de jogadores que observa de longe as derrotas do passado de seus compatriotas em Copas do Mundo e Campeonatos Europeus.  

A seleção dos Três Leões bem poderia ter sido prejulgada como a dos três cachorros, mas se algo demonstrou até o momento é que ainda não tem vontade de voltar para casa, rompendo a maldição do slogan Football's coming home, que marcou a Eurocopa de 1996, quando a Inglaterra caiu contra a Alemanha na semifinal, com uma pênalti perdido precisamente por Southgate. Grande parte do trabalho realizado pelo inglês tem a ver com o do argentino que, quando decidiu explicar-se em outro idioma, o fez de tal forma que muitos tomaram nota de suas palavras e agora estão colhendo seus frutos.

Jogadores do Tottenham reinam nas semifinais

Além dos cinco representantes do Tottenham na Inglaterra, outros quatroestão repartidos entre as demais seleções classificadas para as semifinais. É o caso dos belgas Toby Alderweireld, Jan Vertonghen e Mousa Dembele, e do goleiro francês Hugo Lloris. Os seguintes na lista são o Manchester City e o United com sete jogadores, seguidos do Chelsea com seis.

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