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“Talvez um dia nós pudéssemos tentar”: Trump elogia a perpetuação de Xi Jinping no poder

A ‘CNN’ teve acesso à gravação de um evento privado em que o mandatário enaltece o líder do regime chinês

Amanda Mars
Trump, à esquerda, com o líder chinês, Xi Jinping, em novembro em Pequim.
Trump, à esquerda, com o líder chinês, Xi Jinping, em novembro em Pequim.FRED DUFOUR (AFP)

Donald Trump gosta dos líderes autoritários – e esse ponto fraco não leva em conta guerras comerciais nem rivalidades geoestratégicas. Neste sábado, pouco depois de lançar mensagens anunciando aumentos nas tarifas – que afetariam sobretudo a China –, o presidente dos Estados Unidos elogiou o líder da potência asiática, Xi Jinping, por ter promovido sua perpetuação no poder. “Agora é o presidente vitalício. Presidente vitalício. Não, ele é genial”, disse Trump em um evento privado de arrecadação de fundos, segundo uma gravação à qual teve acesso a rede CNN. “E, olhem, ele pôde fazer isso. Talvez um dia nós também possamos.”

O Comitê Central do Partido Comunista anunciou, em 25 de fevereiro, uma reforma constitucional que elimina o limite de dois mandatos e permite que Xi Jinping se perpetue à frente do regime. Logo depois, nas redes sociais a censura bloqueou qualquer termo que pudesse soar como uma crítica à iniciativa. Nos EUA, país que se considera líder do mundo livre, a Constituição proíbe mais de dois mandatos consecutivos desde 1951. Antes disso, porém, tradicionalmente os presidentes não passavam mais de oito anos na Casa Branca, com a exceção de Franklin D. Roosevelt, que foi eleito quatro vezes.

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Apesar da natureza antagônica de ambas culturas políticas, o atual presidente americano gosta de Xi. Na reunião deste sábado ele repetiu elogios, qualificou-o como um “grande cavalheiro”, disse que é o presidente chinês mais poderoso dos últimos “100 anos” e recordou como o havia tratado bem em sua visita de novembro passado.

Washington se mostra contraditória. EUA e China têm pelo menos duas frentes importantes abertas: as disputas comerciais e o conflito da Coreia do Norte. Trump fez do déficit comercial da economia norte-americana seu cavalo de batalha, e a China é o principal responsável por essa diferença entre o que o país importa e exporta. Além disso, os dois países discordam sobre a estratégia a seguir com o regime norte-coreano e sua escalada nuclear, já que Washington exige mais contundência por parte de Pequim. Não só isso: a nova estratégia de segurança apresentada em dezembro recupera a linguagem de rivalidade da Guerra Fria e aponta para a China e a Rússia como rivais que pretendem erodir a fortaleza dos EUA.

Mas, ao mesmo tempo, Trump tem boa sintonia com os líderes desses países. Elogiou várias vezes o presidente russo, Vladimir Putin, quando sua própria Administração o acusa de ter orquestrado uma campanha para interferir nas eleições presidenciais. Trump também tem dedicado boas palavras a líderes criticados por organismos de direitos humanos, como o egípcio Abdel Fatah al Sisi, o turco Recep Tayyip Erdogan e o filipino Rodrigo Duterte.

No evento de sábado, Trump também mostrou sua obsessão com Hillary Clinton, a rival democrata que ele derrotou nas eleições há quase um ano e meio. “Hillary é uma pessoa feliz? Vocês acham que é feliz?”, disse. “Quando chega em casa de noite, ela diz: ‘Que vida maravilhosa’? Não acho. Nunca se sabe. Espero que seja feliz.” O presidente lançou um ataque velado contra o procurador-geral, Jeff Sessions, ao afirmar que o sistema eleitoral é “manipulado” e ao lamentar que ainda não haja “pessoas adequadas ali”.

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