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2017 no Rio, um ano caótico e catártico
em imagens No ano, que começou com a posse do prefeito Crivella, Estado viu suas principais lideranças políticas serem presas, o Exército ocupar as ruas e as instalações olímpicas murcharem enquanto os servidores públicos continuavam sem receber Em 19 de janeiro, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, morreu em um acidente de avião no mar da região de Paraty, no Rio de Janeiro. Teori, de 68 anos, era o relator da Lava Jato no STF e as circunstâncias da queda do aparelho, ainda não esclarecidas, mantiveram o Brasil à flor da pele. Dada a importância do magistrado e seu papel nas investigações, multiplicaram-se as teorias da conspiração, embora as condições meteorológicas tenham sido apontadas por especialistas, na época, como a causa mais provável do acidente. Bruno Kelly (Reuters) 2017 arrastou uma forte ressaca de 2016. Após a euforia dos Jogos Olímpicos, o Rio iniciou o ano com intensos protestos de servidores públicos que até hoje não receberam o 13º salário e continuam com as folhas de pagamento atrasadas. Em fevereiro, a Polícia Militar, em plena crise de segurança, acenou com uma greve que foi, finalmente, contida pelos oficiais. A UERJ, sem os repasses necessários para manter suas pesquisas e as bolsas dos cotistas, também paralisou suas atividades. FELIPE FITTIPALDI Nunca tantas ambulâncias abriram caminho entre integrantes de escolas de samba em 33 carnavais do Sambódromo como no deste ano. Uma série de acidentes graves em dois dias seguidos de desfiles do Grupo Especial deixaram cerca de 30 feridos e colocaram em xeque os parâmetros da festa, o socorro às vítimas e a fiscalização das gigantescas alegorias que todo ano tomam a Sapucaí. A lição depois dos incidentes parecia uma revelação do que viria depois: era necessário repensar o modelo da maior festa do Rio de Janeiro baseado no gigantismo. Por motivos diferentes, a discussão se abriu de novo em junho, quando o prefeito Marcelo Crivella anunciou que cortaria a verba com que a Prefeitura financia as escolas de samba. O corte, de 24 para 12 milhões de reais, justificado pela crise, causou irritação entre os amantes da festa, que defenderam o evento como sendo parte da identidade e da história da cidade e como um motor econômico que gera retornos milionários para os cofres municipais. O corte também trouxe de novo à tona uma questão que é tolerada pelos cariocas em prol da festa: como e quanto gastam realmente as escolas de samba, cujas prestações de contas são um mistério, assim como a íntima ligação do Carnaval do Rio com a máfia que domina o jogo do bicho, as máquinas caça-níqueis e as apostas. Após a queda de braço, o Ministério da Cultura prometeu socorrer a escolas com 8 milhões de reais liberados pela Caixa, mas o acordo não foi fechado. A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) não cumpriu as "exigências", justificou a União. A Liesa, irritada, nega. Antonio Lacerda/ EFE Em março, durante uma operação contra o tráfico, a polícia executou dois suspeitos rendidos e matou a jovem Maria Eduarda da Alves da Conceição, de 13 anos, dentro da sua escola. A morte da adolescente em Acarí, na zona norte do Rio, revelou não só a truculência e despreparo que regem as ações de parte da tropa, mas também uma rotina de violência nas escolas, no meio do fogo cruzado. No Rio, os estudantes de escolas públicas aprendem a se proteger das balas perdidas e as aulas são frequentemente interrompidas pelos tiroteios entre policiais e traficantes e a disputa territorial de grupos criminosos. Diego Herculano/ AP O 2017 foi um ano trágico para a PM do Rio. No dia 11 de dezembro, a corporação já chorava a morte de 126 policiais assassinados. O número não alcança as 147 vítimas de 2016, mas destrinchar as causas ganhou prioridade na instituição e um relatório apontou alguns dos motivos de tantas mortes. Elas passam por um mau treinamento que pouco tem a ver com a realidade das ruas – o policial não treina com alvos em movimento, por exemplo –, chegando a armas e coletes obsoletos e veículos não blindados. O mesmo documento aponta os baixos salários que obrigam os PMs a viverem em áreas de risco e assumir trabalhos complementares, os ilegais bicos, assim como a corrupção na corporação – há policiais que morrem pelo envolvimento em atividades criminosas. Ao luto somam-se as precárias condições de trabalho –mais de 50% das viaturas não tem como circular– e a escalada de violência no Estado. Os confrontos no Rio, 4.212 em 2016, aumentaram 300% em apenas cinco anos, segundo dados do relatório da PM. Com os tiroteios cresceu a morte de policiais (275%), mas também de “marginais” (66%), como são denominadas genericamente pela corporação as vítimas nos confrontos. Agência O Globo Em julho deste ano, o Sítio Arqueológico Cais do Valongo, localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, ganhou o título de Patrimônio Mundial da UNESCO. O Cais do Valongo foi encontrado em 2011 durante as escavações feitas para a reforma da zona portuária. Segundo o antropólogo Milton Duran, suas ruínas são os únicos vestígios materiais da chegada dos africanos no país. O reconhecimento deve servir para o Rio não esquecer o horror da escravidão e promover a criação de um museu que recupere a memória da diáspora africana no Brasil. Tomaz Silva/ Agência Brasil A incapacidade financeira do Estado levou ao governador Luiz Fernando Pezão (MDB) a pedir ajuda das tropas. Assim, no dia 28 de julho, as Forças Armadas voltaram às ruas do Rio de Janeiro pela terceira vez em apenas um ano. Foram 8.500 militares, além de 620 agentes da Força Nacional, que vem participando de ações integradas com as forças de segurança locais. Os resultados porém, são questionados por especialistas em público e até pela cúpula de segurança pública fluminense em privado. As operações pontuais que contaram com o reforço de milhares de militares foram marcadas pelos vazamentos, a apreensão de pouco armamento –às vezes nem uma singela pistola–, ausência de grandes lideranças do tráfico entre os presos e falta de sintonia entre as tropas federais e estaduais. O último exemplo de colaboração entre militares e a Polícia Civil causou sete mortes em São Gonçalo em 11 de novembro. Até hoje nenhuma das corporações envolvidas assumiram a responsabilidade e ambas instituições sustentam que apenas encontraram os corpos já sem vida. Testemunhas, no entanto, declararam que viram homens com equipamento avançado, que a Polícia Civil não tem, desembarcar de helicópteros e se esconder na mata para depois atirar. Marcelo Sayão/ EFE Em 4 de agosto o Rio de Janeiro e o Brasil ficaram sem voz. Morria o cantor e compositor carioca Luiz Melodia, aos 66 anos, em decorrência de um câncer de medula óssea. Luiz Melodia se definia como um compositor "da perifa do Rio" e era amado na cidade. "Eu sou um compositor de tudo, mas [antes de tudo] sou um negro", disse, certa vez, na casa do cantor Zeca Pagodinho, por quem tinha muita admiração. Eduardo Zappia A luta pela libertação de Rafael Braga não é exclusiva de 2017, mas, por fim, em setembro deste ano, o Judiciário lhe deu uma trégua. Condenado em primeira instância a 11 anos e três meses de prisão por associação ao tráfico, o jovem, preso desde janeiro de 2016, foi autorizado a tratar uma tuberculose aguda em casa. Sua condenação, confirmada neste mês na segunda instância, foi baseada em um suposto flagrante –de 0,6 g de maconha e 9,3 g de cocaína– que a defesa de Braga denunciou ser forjado e o único depoimento contraditório de policiais. O ex-catador virou um símbolo do sistema penitenciário no Brasil, fundamentalmente negro e pobre, após ser o único preso durante os protestos de 2013 por portar uma garrafa de Pinho Sol. Defensoria Pública O domingo 17 de setembro foi um dia de pânico para os moradores da Rocinha, que mal sabiam que ali se iniciava um conflito pelo controle da favela cujo final ainda é incerto. Naquele dia um bando de criminosos armados invadiu a comunidade. Era uma disputa interna entre líderes da facção Amigos dos Amigos, que domina o tráfico de drogas na região, mas acabou afetando a cidade toda e provocou, uma semana depois, o envio das Forças Armadas à comunidade. A maior favela do Rio, e também a mais rentável para o tráfico, iniciava assim um período de instabilidade sem data de validade. Em 24 de outubro, ainda, uma turista espanhola foi morta pela polícia na comunidade. Os agentes disseram ter confundido o carro em que ela viajava com o de criminosos. O conflito trouxe ainda denúncias dos moradores contra os abusos da PM e escancarou que a integração e boa sintonia entre o Exército e as polícias locais estava longe de ser a ideal. Leo Correa/ AP O ano de 2017 trouxe dados novos suficientes para questionar se a vitória do Rio de Janeiro como sede olímpica foi uma farsa. A prisão, em 5 de outubro, de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde 1995, foi um deles. A suspeita é de que o Rio, com a mediação de Nuzman, comprou o voto do senegalês Lamine Diack, ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), por, pelo menos, dois milhões de dólares. Diack, além de ter votado a favor do Rio no processo de escolha da sede de 2016, ainda teria influenciado outros dirigentes esportivos do continente africano a fazerem o mesmo. A operação que prendeu Nuzman, que hoje responde em liberdade, conectou, pela primeira vez, a conquista dos Jogos com o esquema corrupto liderado pelo ex-governador Sérgio Cabral, que no mês de novembro fez um ano na prisão. R. Moraes/ REUTERS A prisão, no dia 22 de outubro, dos ex-governadores Rosinha e Anthony Garotinho foi uma nova virada de roteiro na novela de corrupção em que Rio mergulhou. Com o casal atrás das grades, foi necessário voltar 20 anos atrás para encontrar um ex-governador do Rio vivo que não estivesse preso. Os Garotinho não estavam sozinhos. Na prisão de Benfica onde foram enviados já aguardavam o veterano Cabral, o líder do PMDB fluminense e presidente da Alerj, Jorge Picciani, mais dois deputados estaduais peemedebistas, além de um séquito de ex-secretários e empresários envolvidos em esquemas corruptos. A última a chegar foi a ex-primeira dama e mulher de Cabral, Adriana Ancelmo, cujo direito de cumprir pena em casa foi anulado pela Justiça. O dia a dia dos detentos é agora parte do noticiário local. Nem todos, no entanto, vão passar a virada no ano na cadeia. Ancelmo e Garotinho foram libertados porque o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, acatou o pedido de suas defesas. Domingos Peixoto / Agência O Globo A foto acima, tomada na Cidade da Polícia do Rio de Janeiro este mês, deu a volta ao Brasil. E ao mundo. Nela, Rogério 157, o traficante mais procurado pelo seu envolvimento no conflito na Rocinha, sorri junto a uma policial civil, responsável pela sua captura. A imagem tirada para comemorar uma vitória revelou a vaidade dos seus protagonistas, mas foi alvo de críticas pela glamourização do criminoso até por parte da polícia, a falta de formalidade e o aparente bom clima entre figuras opostas da guerra contra as drogas que assola o Rio. Com a prisão de Rogério 157, que chegou a mudar de facção e foi abraçado pelo Comando Vermelho, as autoridades aguardam novos desdobramentos na Rocinha que ainda é disputada por bandas de traficantes rivais.