_
_
_
_
Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

O czar Putin e o coroinha Rajoy

O esquema de utilizar a Catalunha para sabotar a UE exige uma resposta clara do Governo espanhol

O presidente russo Vladimir Putin, durante uma visita recente a Istra
O presidente russo Vladimir Putin, durante uma visita recente a IstraSPUTNIK (REUTERS)

Uma vez que a única política externa espanhola é a Catalunha, nossa precária e indolente diplomacia carece de habilidade e de valentia para acusar Putin de ter organizado uma campanha de sabotagem para a unidade territorial da Espanha. E não porque caiba ao czar ou lhe interesse a pitoresca ambição libertária do poble català mas porque lhe convém conspirar contra a estabilidade da União Europeia, expondo-a aos vaivéns do nacionalismo e do populismo.

Mais informações
Editorial | Contra a mentira
O que, de fato, está acontecendo na Catalunha?
O mundo governado por mentiras das ‘fake news’ abre ciclo de debates FAAP-EL PAÍS

O presidente espanhol Mariano Rajoy não quer se meter “nessas confusões” que tanto o desconcertam. E seus ministros pretendiam mimetizar-se na passividade e no low profile, a ponto de os ministros de Defesa e Relações Exteriores se valerem do eufemismo e do circunlóquio para fugir da alusão direta a Putin. Chegou a conceder-se, no máximo, que a campanha de propaganda nas redes sociais e nas mídias da pós-verdade procedia de “território russo”. Uma abstração que pretendia encobrir a autoria intelectual de Putin. E que nem sequer satisfez o Kremlin, cujos porta-vozes consideram intoleráveis as hipócritas insinuações do Executivo marianista.

Obcecada pela Catalunha e escondida na proa da França e Alemanha, ocorre que a Espanha carece de relevância geopolítica. Perdeu seu antigo prestígio de ultramar e evitou pronunciar-se nas grandes crises, muitas delas, como a síria ou a ucraniana, vinculadas ao papel agitador e protagonista desempenhado pelo instinto predador de Vladimir Putin.

O hiperpresidente russo agitou os conflitos territoriais que rodeiam seu império – Adjara, Crimeia, Ossétia do Sul, Lugansk... – e descobriu que o vespeiro da Catalunha representa o melhor álibi para corromper a União Europeia em suas dúvidas e incertezas. Explica-se assim a ferocidade e a obstinação da campanha, inoculando por acréscimo o veneno antidemocrático nas suscetíveis redes sociais. Que são imediatas mas não espontâneas em sua natureza reativa. E que conseguiram incorporar ao independentismo catalão a simpatia da opinião pública internacional, arraigando-se inclusive a impressão de uma pátria oprimida.

Mariano Rajoy não pode se esconder no refúgio de sua prosaica inibição. Denunciar Putin, levar a ciberguerra russa ao escrutínio do Parlamento, significa estimular a represália do grande ogro pós-soviético, mas não fazê-lo equivale a transigir com o nebuloso esquema que aspira a questionar a unidade territorial da Espanha como pretexto para acabar por balcanizar a União Europeia. O paradoxo consiste em que Madri e Moscou estavam – e estão – de acordo em não reconhecer a independência do Kosovo. O antecedente de uma região que culminaria em Estado significava uma transgressão à soberania sérvia – nação irmã da Rússia – e era um argumento precursor da reivindicação catalã, mas o consenso de antes não contradiz a incongruência contemporânea do czar. Kosovo é uma piada no esquema de sua megalomania imperial, um acidente de amnésia em seu plano de colocar a Europa de joelhos.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_