Quando o banco queima como protesto artístico

Artista russo Piotr Pavlenski foi preso em Paris após incendiar uma agência bancária

Piotr Pavlenski, na agência que incendiou.SARAH CONSTANTIN (ACTIVISTA DE FEMEN)

A última performance do russo Piotr Pavlenski, que na madrugada de domingo para segunda-feira incendiou uma sucursal do Banque de France, em Paris, é uma das menos dolorosas que este artista político já realizou. Ele já havia, por exemplo, pregado os testículos no solo da Praça Vermelha de Moscou, costurado a boca e cortado o lóbulo de uma orelha para protestar pela situação na Rússia de Vladimir Putin. Mas esta última pode ser a que custará mais caro. Pavlenski permanece preso e o banco ameaça processá-lo. Ele pode ainda ter colocado em risco o asilo político que recebeu neste ano com sua esposa, Oksana Chaliguina, também presa por participar de sua última ação artístico-política.

A nova ação, chamada Eclairage (iluminação), aconteceu no meio da madrugada e teve como testemunhas alguns jornalistas avisados pouco antes pelo próprio artista que, junto a sua esposa, se plantou na icônica praça da Bastilha de Paris, espalhou gasolina pela agência bancária e se colocou na frente de sua porta, diante das chamas, vestido totalmente de preto.

“Incendiar o Banque de France é iluminar a verdade que as autoridades querem que a gente esqueça”, afirmou Pavlenski em um comunicado distribuído depois de sua ação.

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“A Bastilha foi destruída pelo povo revolucionário; o povo a destruiu como símbolo do despotismo e do poder. Neste mesmo local, um novo núcleo de escravidão foi destruído. O  Banque de France se apoderou da praça da Bastilha. Os banqueiros tomaram o posto dos monarcas. A grande Revolução Francesa fez da França um símbolo de liberdade para o mundo inteiro. Em 1917, graças a este símbolo, Rússia se lançou à liberdade (…) O renascimento da França revolucionária desencadeará o incêndio mundial das revoluções. Neste fogo, Rússia começará sua libertação”, ressaltou o manifesto do artista, publicado nas redes sociais por, entre outras pessoas, Inna Shevchenko, do movimento Femen.

A ação é praticamente uma réplica do incêndio que Pavlenski, de 33 anos, provocou em 2015 na entrada da Lubianka, a sede histórica do serviço secreto russo FSB, herdeiro da KGB, em uma representação gráfica que chamou de “as portas do inferno”. O artista passou sete meses em prisão preventiva. Ele também costurou os lábios em protesto pela detenção do grupo Pussy Riot e encenou uma uma escrotofixação na praça Vermelha de Moscou como uma “metáfora da apatia, da indiferença política e do fatalismo da sociedade russa”.

Junto a sua mulher e a seus dois filhos, Pavlenski chegou à França em janeiro de 2017 e solicitou asilo político, após fugir da Rússia, onde foi acusado de uma agressão sexual contra uma atriz (algo que o artista nega), lembra Le Monde.

Depois de sua última ação, o Banque de France afirmou à emissora France Info que apresentará um processo contra o artista e sua esposa. Segundo o RT, veículo financiado por Moscou, Pavlenski poderia perder seu asilo político se as autoridades francesas considerarem que ele pode ser uma ameaça para a segurança ou a ordem pública.

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