Pênis feminino e gatos líquidos: conheça as pesquisas mais criativas – e inúteis – premiadas em Harvard
Pesquisadores brasileiros que descobriram um morcego vampiro e uma espécie de inseto em que fêmeas têm pênis e machos vagina estão entre os vencedores do Ig Nobel
Por mais um ano, o histórico Teatro Sanders de Harvard ficou completamente lotado para a premiação mais louca da ciência, o Ig Nobel, a paródia dos prêmios suecos que “primeiro fazem rir e depois pensar”. E nesta edição há brasileiros nas equipes vencedoras. Rodrigo Ferreira, da Universidade Federal de Lavras, juntamente a uma equipe de cientistas brasileiros e suíços foi ganhador do prêmio de biologia com a descoberta em uma caverna brasileira de uma espécie de inseto em que as fêmeas têm pênis e os machos têm vagina. “Um descobrimento que deixa todos os dicionários defasados” por sua definição de pênis, como disseram os cientistas.
Já a pesquisadora brasileira Fernanda Ito, juntamente com o canadense Enrico Bernard e com o espanhol Rodrigo A. Torres, da Universidade Federal de Pernambuco, ganharam na categoria nutrição com a descoberta de morcegos da caatinga nordestina, que, diante da escassez de alimentos, tiveram que mudar seus hábitos e passaram a se alimentar de sangue humano.
O evento, do qual participaram como em todos os anos prêmios Nobel de verdade (Eric Maskin e Oliver Hart, de Economia e Roy Glauber, de Física), teve diversos momentos hilariantes enquanto eram entregues uma dezena de prêmios em outras tantas categorias científicas. E como em todos os anos, os premiados receberam uma astronômica premiação em espécie: uma nota de dez trilhões de dólares de Zimbábue, em homenagem ao vencedor do Ig Nobel de Economia de 2009, Gideon Gono, que como presidente da Reserva Federal do país emitiu essas notas para, supostamente, combater a hiperinflação.
A cerimônia, dirigida por Marc Abrahams (incentivador da premiação pela revista que reúne todos esses improváveis estudos: Annals of Improbable Research), incluiu a estreia de A Ópera da Incompetência, uma miniópera que consiste em “um encontro musical entre o Princípio de Peter e o efeito Dunning-Kruger”, de acordo com a organização. “Fala de como e por que pessoas incompetentes chegam ao topo... e o que isso significa a todos”. Esses foram os premiados:
- Ig Nobel de Biologia: Para uma equipe de cientistas brasileiros e japoneses que descobriram em uma caverna brasileira um inseto que arrepiaria os mais conservadores. Nessa espécie, as fêmeas têm pênis e os machos têm vagina. Publicado pela prestigiosa Current Biology, não sabemos se esse estudo fará com que ocorram protestos pelas cavernas do Brasil. Para maior escândalo, a fêmea penetra o macho de 40 a 70 horas até recolher todo o seu esperma.
- Ig Nobel de Nutrição: Também viaja ao Brasil, para cientistas que encontraram o primeiro vampiro de uma espécie de morcego que efetivamente se alimenta de sangue humano. O estudo se chama: "O que temos para o almoço?".
- Ig Nobel de Física: A um pesquisador francês por um ensaio em que reflete sobre a possibilidade de que um gato se encontre ao mesmo tempo em estado sólido e líquido, mostrando numerosas fotos de felinos enchendo com seu corpo recipientes como vasilhas e copos. Escrito com humor, o autor utiliza a física de fluidos para descrever essa capacidade felina e afirma que nenhum animal sofreu maus-tratos durante sua redação. “O gato se adapta ao seu recipiente”, defendeu o autor na cerimônia.
- Ig Nobel da Paz: Para uma equipe internacional de pesquisadores por demonstrar que o uso do didgeridoo australiano pode ajudar a melhorar a apneia do sono e os roncos. De acordo com o estudo, assinado pelo primeiro homem a experimentar em si próprio essa ideia, são necessários quatro meses de treinamento, cinco vezes por semana, com esse instrumento bem pouco prático para se levar à cama.
- Ig Nobel de Economia: Esse prêmio vai para a Austrália, onde um casal de estudiosos quis comprovar como o contato prévio com crocodilos afetava os riscos que tomavam em jogos eletrônicos. Concretamente, os sujeitos do estudo seguravam durante um minuto um crocodilo jovem em suas mãos antes de apostarem.
- Ig Nobel de Anatomia: Dessa vez, como no Prêmio Nobel, um avanço científico conquistado há décadas foi reconhecido. Concretamente, o trabalho publicado em 1993 por um médico britânico que se perguntava “Por que os idosos têm as orelhas grandes?”. Segundo seus dados, isso ocorre pois crescem 0,2 milímetros por ano.
- Ig Nobel de Dinâmica de Fluidos: Para um cientista sul-coreano que estudou a melhor forma para se caminhar com uma xícara de café sem que o balanço interno provoque um derramamento do líquido. De acordo com seu trabalho, caminhar de costas reduz esse balanço na xícara. “Talvez isso se deva ao fato de que não estamos acostumados a caminhar de costas”, afirma Jiwon Han, que admite em seu estudo que “caminhar de costas pode ser um método menos prático para se evitar o derramamento de café”. Han reconhece que caminhar de costas “aumenta drasticamente as possibilidades de se tropeçar em uma pedra e se chocar em um colega que também pode estar caminhando da mesma forma (isso definitivamente causaria um derramamento)”.
- Ig Nobel de Medicina: Para um grupo de neurocientistas britânicos e franceses que estudaram no escâner cerebral a resposta da matéria cinzenta das pessoas que têm nojo de queijo.
- Ig Nobel de Cognição: Para pesquisadores italianos que estudaram detalhadamente se os gêmeos idênticos são capazes de diferenciarem a si mesmos de seus irmãos por fotos. De fato, em imagens nas quais só eram vistos seus traços faciais, os gêmeos idênticos não conseguiam se reconhecer. O autor principal desse trabalho, Matteo Martini, é ligado à Universidade de Barcelona.
- Ig Nobel de Obstetrícia: É a primeira vez que esse prêmio, após vinte e seis edições, dá uma premiação nessa categoria. A vencedora é uma equipe espanhola, comandada por Marisa López-Teijón, por descobrir que os fetos escutam melhor a música se o aparelho musical for colocado dentro da vagina de sua mãe do que se colocado em sua barriga. Concretamente, graças a esse aparelho, os pesquisadores do Instituto Marquès descobriram que o feto reage a esse estímulo auditivo a partir da 16° semana de gestação, dez semanas antes do descrito pela ciência até hoje, segundo sua explicação.
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