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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Pela Catalunha

A Catalunha é essencial para a Espanha: o federalismo é melhor do que a ruptura

Dia da Catalunha, comemorado nesta segunda, 11 de setembro.
Dia da Catalunha, comemorado nesta segunda, 11 de setembro.Sandra Montanez (Getty Images)

A Catalunha comemorou sua Diada (Dia da Catalunha) nesta segunda-feira. Como de costume, combinou o caráter festivo, o impulso reivindicatório e a tentativa de capitalização política do amplo sentimento popular nacionalista. Isso foi feito de maneira diversa, como diversa é a sociedade catalã, cuja pluralidade alguns procuram reduzir à postura única. Mas as diferentes convocações políticas e eventos culturais mostraram esse pluralismo, em que a maioria continua sendo antirruptura, como ratificou neste domingo a pesquisa do EL PAÍS. Houve um concorrido cortejo independentista, que deveria evitar os modos bruscos e os incidentes dos quais até agora se esquivou, bem como o uso partidário do desejo de concórdia suscitado pelos atentados de 17 de agosto, aparentemente distantes no tempo, mas próximos pelo sofrimento atual de tantas vítimas. E outros atos de distinto e antagônico caráter político, bem como o prazer particular e familiar de muitos.

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Esse pluralismo interno – como também acontece com toda a sociedade espanhola – é um valor supremo a ser preservado. Outra coisa é que esteja sendo traduzido em uma fragmentação política marcada por uma extremada e condenável polarização, como alcançou com triste sucesso a estratégia independentista oficial: mais merecedora de vitupério por seu caráter reducionista do que criticável por seu fim último, equivocado, mas legítimo, se for ajustado às exigências processuais do ordenamento democrático vigente. A afirmação de uma catalanidade pacífica, legal e liberal, e sua derivada vontade (de longa trajetória) para aprofundar no autogoverno, canalizada democraticamente, devem ser objeto de reconhecimento de todos os espanhóis e, em boa medida, o são. Sem ser superficial, não importa tanto como isso se traduza no aspecto nominal – nação, nacionalidade, comunidade .. – desde que integre identidades, não aumente dissensos e se concentre nos conteúdos.

Reconhecer é requisito para respeitar. E a contribuição dos catalães para a tarefa comum é muito respeitável. Não apenas por causa do tamanho de sua economia (um quinto do PIB espanhol), mas por causa de seu caráter de ponta de lança. De vanguarda na criação de setores: no passado, nas indústrias têxtil leve, metalúrgica e química; mais tarde, na indústria automobilística, nos serviços industriais e culturais, do cinema à publicidade e o design; hoje, na tecnologia avançada, da farmacêutica à biotecnologia. E do aporte de talento para a inovação: cinco das primeiras universidades espanholas são catalãs; as patentes representam um terço do total; as startups igualam em número ao conjunto; a exportação arrasa.

A Espanha não pode ser entendida sem sua cultura industrial (e os valores de esforço, trabalho, qualidade, emulação), sem sua contribuição cultural, editorial e artística, que se estende a abordagens políticas descentralizadoras, do federalismo do século XIX ao Estado regional de 1931 e ao autonômico de 1978. A Espanha é um Estado liberal, próximo, avançado e europeísta graças a muitas contribuições e, entre elas, as catalãs se destacam com especial brilho próprio. Nem ignorantes nem suicidas deveriam ignorar esses fatos.

Por conseguinte, é lógico que a Catalunha pressione para aumentar a roupagem política em que se desenvolve. E é a coisa inteligente a fazer: ampliá-la, em vez de desfiá-la e abandoná-la. Tudo é perfectível, mas seria insensato esquecer que nunca antes a língua catalã, apesar do seu estatuto administrativo aperfeiçoável, foi tão difundida na história; jamais como desde a Transição se abriu o canal (às vezes obstruído) para o exercício do poder político dos catalães, em casa e na de todos; nunca o nome da sua capital, Barcelona, andou com tanta admiração por todo o mundo.

É preciso resolver esse desconforto provocado pelas deficiências do sistema e pelos episódios de recentralização. E atender o clamor por novas articulações, sempre melhores do que a desarticulação. Este jornal tem pedido diálogo e negociação sobre a questão catalã. E propostas e medidas criativas e integradoras. E novos horizontes para o autogoverno. Com tanta insistência na defesa da legalidade, do Estatuto e da Constituição. A melhor definição e melhoria das competências da Generalitat; uma melhoria no financiamento e nos investimentos estruturais: um estatuto oficial das línguas autonômicas nas Universidades e outras instituições do Estado; uma melhor visibilidade da cultura catalã como patrimônio comum; uma reforma constitucional federal que inclua os fatos diferenciais; uma distribuição geográfica de centros e órgãos oficiais.

Defendemos tudo isso e continuaremos a fazê-lo. Um programa como esse deve ser ativado prontamente. Mas a atual deriva de ruptura, endogamia e confronto provocada pelos independentistas ao som da corneta do extremismo antissistema da CUP (Candidatura de Unidade Popular) impediria essas soluções e nos levaria a um desastre compartilhado. “Per Catalunya!”, bradou o presidente da Generalitat Lluís Companys um momento antes de perder a vida, em 1940, nas mãos do pelotão de fuzilamento. Todos os catalães e espanhóis podem se sentir orgulhosos de clamar: Pela Catalunha! Em liberdade. Com paz. Em concórdia.

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