7 fotosDeslocamentos forçadosImagens cedidas pelo jornalista Rubens Valente, autor de Os fuzis e as flechas História de sangue e resistência indígena da ditadura mostram a relação entre os militares e diversas etnias na época da ditadura militarTalita BedinelliSão Paulo - 24 jul. 2017 - 19:43BRTWhatsappFacebookTwitterBlueskyLinkedinLink de cópiaA ditadura militar também usou os próprios indígenas para promover a perseguição aos índios brasileiros. "Queirós Campos [primeiro presidente da Funai] pôs em prática uma controversa Guarda Rural Indígena, a Grin, e abriu espaço para a abertura de um 'reformatório' indígena, um eufemismo para prisão", relata o jornalista no livro. Os índios recebiam treinamento militar e, em 2012, surgiu a evidência de que também recebiam aulas de tortura. "Imagens feitas pelo documentarista Jesco von Puttkamer, de 5 de fevereiro de 1970, mostram dois índios da Grin carregando, durante uma parada militar, um índio pendurado em um pau de arara", conta Valente.Arquivo Sedoc (Serviço de Gestão Documental) da Funai em Brasília-DF (cedida por Rubens Valente)Os índios Cinta-Larga, de Rondônia, também sofreram com as ações de contato do Governo. Fazendeiros e seringalistas reclamavam que estavam sendo prejudicados pelos índios, que flechavam seu gado e atacavam seus trabalhadores. A área de caça da etnia também foi afetada pela construção da BR-364, aberta em 1967. O contato causou inúmeros surtos de doenças entre os índios.Arquivo Sedoc (Serviço de Gestão Documental) da Funai em Brasília-DF (cedida por Rubens Valente)Os índios Kreen-Akarore, também chamados de Panará, viviam no entorno da futura estrada Cuiabá-Santarém, que começaria a ser construída no início da década de 1970, e, por isso, uma frente de atração foi montada na área pela Funai. Ao longo dos anos seguintes, a situação de saúde tornou-se grave entre os índios, que contraíram gripe e diarreia trazidas pelos trabalhadores, e dezenas deles morreram.Arquivo Sedoc (Serviço de Gestão Documental) da Funai em Brasília-DF (cedida por Rubens Valente)Com as denúncias na imprensa, o Governo resolveu transferir os Panará para o Parque Nacional do Xingu, relata o jornalista Rubens Valente. Imagem mostra os íindígenas sendo retirados do entorno da construção da estrada em um avião do Governo brasileiro. "Os índios não acreditavam. Na cabeça deles, não cabe que alguém vai tirar você de seu território. Esse nível de maldade eles não entendem. Eu passava a noite [dizendo]: Eles não vão voltar com vocês. E eles respondiam: Dénia, nós vamos passear, vamos conhecer [o Xingu] (...) Eles levaram os índios dizendo que iam passear", relatou no livro Odenir Pinto de Oliveira, um então jovem indigenista que trabalhava na Funai na época.Arquivo Sedoc (Serviço de Gestão Documental) da Funai em Brasília-DF (cedida por Rubens Valente)Um grupo de 79 Panará foi levado de avião ao Xingu, a cerca de 250 quilômetros de seu território tradicional. Acreditando que, de fato, apenas visitariam o Xingu, os indígenas não levaram nenhum de seus pertences.Arquivo Sedoc (Serviço de Gestão Documental) da Funai em Brasília-DF (cedida por Rubens Valente)Nos primeiros meses, 17 índios Panará morreram vítimas de doenças na nova área. Longe das terras tradicionais, eles sofreram também de depressão e apatia, conta o livro.Arquivo Sedoc (Serviço de Gestão Documental) da Funai em Brasília-DF (cedida por Rubens Valente)As terras dos Panará foram posteriormente ocupadas por colonos, com o aval do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (Incra). "O conjunto das terras recebeu o nome de 'Gleba Iriri', escriturada em nome da União em outubro de 1980, com superfície total de 473 mil hectares. A partir do final dos anos 1970, cidades inteiras nasceram sobre a antiga terra indígena", relata Valente no livro.Arquivo Sedoc (Serviço de Gestão Documental) da Funai em Brasília-DF (cedida por Rubens Valente)