_
_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Cansados de Putin

As enormes manifestações contra a corrupção mostram que a sociedade russa exige transparência o quanto antes

O líder opositor russo Alexei Navalny faz selfie durante protesto em fevereiro passado.
O líder opositor russo Alexei Navalny faz selfie durante protesto em fevereiro passado.KIRILL KUDRYAVTSEV (AFP)

A detenção e a prisão do líder opositor russo Alexei Navalny, assim como as de várias centenas de manifestantes que protestavam contra a corrupção do sistema – apontando especialmente para o primeiro-ministro, Dmitry Medvedev –, são uma boa medida do grau de autoritarismo vivido pela Rússia de Vladimir Putin.

O presidente russo não deveria ignorar o mal-estar de dezenas de milhares de russos que se manifestaram domingo pelas cidades do extenso país euroasiático. Em vez de acusar Navalny – que já obteve, numa ocasião, um parecer favorável da Corte Europeia de Direitos Humanos – de desobedecer a autoridade e incitar a violência, os tribunais russos poderiam levar em consideração as contundentes provas oferecidas pelo próprio Navalny sobre o império imobiliário de Medvedev, financiado por oligarcas e outros interesses obscuros.

Mais informações
Centenas de manifestantes são detidos em protesto na Rússia, dentre eles o líder da oposição
Rússia afirma que o mundo se aproxima de uma nova guerra fria
Genro de Trump é convocado para depor no Senado por escândalo da espionagem russa

Do mesmo modo, a polícia, em vez de invadir a sede do Fundo contra a Corrupção, deter vários funcionários e confiscar o material reunido, deveria estar a serviço da investigação de um esquema que gera um justificado e profundo mal-estar na população. A União Europeia (UE) acerta ao qualificar as detenções de domingo como um “ataque à democracia”. Silenciar a voz de quem protesta pacificamente é incompatível com um mínimo regime de liberdades.

Não deixa de ser paradoxal a constante ingerência russa nos processos democráticos atuais e na política dos países da Europa. Vimos a profundidade dessas interferências na campanha eleitoral dos Estados Unidos. E agora observamos como Putin vincula-se com forças reacionárias, como as representadas por Marine Le Pen na França e Viktor Orbán na Hungria.

O presidente russo deveria se concentrar em regenerar um sistema que se distancia cada vez mais dos usos democráticos, em vez de tentar influir em outros. As intensas manifestações do fim de semana mostram que, apesar do temor vivido pelos que se atrevem a denunciar a corrupção do sistema, a sociedade russa não está em silêncio. Dentro e fora do país, aumenta a saturação em relação a Putin. É uma boa notícia para a democracia e os democratas.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_