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Felipe González: “A política não vai salvar a democracia”

Ex-primeiro-ministro espanhol se despede da cátedra José Bonifácio da USP alertando sobre crise política mundial

Sebastiao Moreira (EFE)
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Felipe González, primeiro-ministro espanhol entre 1982 e 1996, se despediu na última quinta-feira da cátedra José Bonifácio, que dirigiu durante o último ano na Universidade de São Paulo. No ato, que ocorreu na própria universidade, e ao qual acudiram personalidades centrais na relação do Brasil com o mundo de língua espanhola, como os cônsules do Peru, Bélgica, Estados Unidos e Portugal, além de empresários, González deixou a cátedra José Bonifácio nas mãos da ex-embaixadora do México no Brasil, Beatriz Paredes Rangel e ofereceu, como resumo, uma análise do que aprendeu. “Em 2015, quando me ofereceram a cátedra, eu aceitei. Estava preocupado com a saúde da democracia representativa e em uma cátedra é permitido duvidar, não evitar as realidades complexas”, contou o ex-primeiro-ministro.

Para justificar seu pessimismo com a democracia, González enumerou: “A globalização cria dependências nos movimentos do capital global”, quer dizer, obriga a seguir os mercados. “E os cidadãos perguntarão onde está a urna para tirar um mercado e colocar outro”. Também parecia um problema a livre distribuição de informação. “Um tuíte, sem demonstrar que seja verdade ou mentira, goza do mesmo grau de credibilidade que a informação mais contrastada do meio mais rigoroso”.

Tudo isso parecia um problema e aí chegou o ano de sua cátedra. “2016 não parou de me dar razão. Pensem em tudo que aconteceu, para começar aqui no Brasil, o país que me deu a cátedra”, explicou, na única referência à política brasileira em sua intervenção. Mas também lembrou os outros acontecimentos que sacudiram o mundo no ano passado: o Brexit no Reino Unido, a votação do não na Colômbia e a vitória de Donald Trump na eleição dos Estados Unidos. “Nós nos transformamos em um mundo global que se olha no umbigo do local”.

Antes de que a homenagem terminasse com um concerto da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo sob a batuta do maestro espanhol, Alexis Soriano, que tinha vindo graças à colaboração do consulado com a Acción Cultural Español, González finalizou com o melhor da experiência. Ter guiado um grupo de alunos em busca de soluções para acabar com a crise da democracia representativa. “Eu me preocupava em ficar no think tank e não passar ao action tank. A universidade deve ser entendida como fonte de propostas para salvar a democracia porque está claro que a política não vai fazer isso.”

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