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Coluna
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E agora?

É necessário e urgente uma reforma política que acabe com essa anormalidade de dezenas de partidos, que na maioria das vezes servem apenas para se venderem à melhor oferta

Juan Arias
Manifestante protesta na av. Paulista em dezembro de 2016.
Manifestante protesta na av. Paulista em dezembro de 2016.MIGUEL SCHINCARIOL (AFP)
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“Ainda nos restam as pequenas utopias que nos ajudam a viver”

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entregou a caixa da Pandora com os nomes de centenas de políticos contra os quais pede a abertura de processo criminal por corrupção. Embora ainda não saibamos oficialmente seus nomes, não é difícil adivinhar que o furacão irá sacudir todos os partidos e a todas as ideologias. A sociedade brasileira, como no filme de Pedro Almodóvar, está “à beira de um ataque de nervos” e se pergunta, entre envergonhada e incrédula: “E agora?”.

Como ocorreu na Itália em 1992 com a chamada operação Tangentopoli [tangente em italiano significa suborno] — um caso de corrupção político-empresarial com muitas semelhanças com a situação atual do Brasil, que levou à prisão de 800 pessoas e varreu os grandes partidos da República —, as forças políticas brasileiras estão se organizando na tentativa de se salvarem do dilúvio. Na Itália eles conseguiram, com uma série de leis do Congresso, paralisar a ação regeneradora dirigida pelo juiz Antonio Di Pietro. E deram um jeito de aprovar uma espécie de indulto aos condenados. O resultado final não foi dos melhores, já que o desaparecimento dos políticos e dos partidos afundados pela corrupção deu margem à ascensão do bilionário Silvio Berlusconi, que acabou governando por 20 anos, deixou uma herança que os italianos chamam de “maldita” e ainda tem assuntos pendentes com a Justiça.

O que vai acontecer no Brasil? Como irá se comportar a opinião pública? E, sobretudo, o que fazer depois que a classe política ficou acéfala, sem, além do mais, que se vislumbrem no horizonte soluções viáveis, capazes de encaminhar a política hoje sentada no banco dos réus? Difícil fazer profecias neste momento. Algo, entretanto, começa a parecer claro: sem fazer meia dúzia de reformas, o perigo é não só que tudo fique igual, como na Itália, mas inclusive que piore, já que a política brasileira arrasta o peso de uma história onde os valores democráticos são ainda jovens e frágeis.

É necessário e urgente uma reforma política que acabe com essa anormalidade de dezenas de partidos, que na maioria das vezes servem apenas para se venderem à melhor oferta. Urge pensar na possibilidade de uma reforma do Estado, possivelmente acabando com a Presidência da República para dar lugar, como nas democracias modernas, ao parlamentarismo com a figura de um primeiro-ministro. Recordo que a Itália nunca foi tão próspera econômica e culturalmente como na época em que os Governos duravam uma média de apenas dez meses. Eram a sociedade, o empresariado, a cultura, a classe operária e até a arte que, com sua força criativa, mantinham o país à tona.

O Brasil precisa acabar com essa farra das campanhas políticas milionárias, um esbanjamento inútil e superado pelas novas tecnologias da comunicação. As campanhas hoje se fazem nas redes, mais do que na rua, com toda a sua parafernália de ruídos e lixo. É necessário acabar com a impunidade propiciada pelo foro privilegiado dos políticos, que perdeu todo o seu sentido original de assegurar a liberdade de expressão para se transformar numa couraça contra a Justiça. É preciso acabar com os partidos sem ideologia nem programas alternativos, com a reeleição a cargos públicos, com os privilégios e benesses dos que desejam fazer política, o que deve ser um serviço à sociedade, e não um seguro de vida e de impunidade. E, por que não?, uma mudança de Constituição, para adaptá-la àquilo que mudou no mundo e no Brasil desde a sua promulgação.

A grande pergunta, a do milhão, é quem seria capaz atualmente, com autoridade moral e liderança intelectual, de levar a cabo essas reformas: os políticos acusados ou condenados por corrupção? Os juízes? Os movimentos sociais? A pressão de uma opinião pública hoje salomonicamente dividida entre gregos e troianos e, ao que parece, sem esperanças de reconciliação? Talvez nenhum desses setores possa sozinho resolver a charada. Talvez a única possibilidade de esperança consista numa milagrosa conscientização dos que sobrarem vivos na Arca de Noé, depois do castigo do dilúvio. Tomara.

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