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Atleta paralímpico surpreende e ganha Maratona de Barcelona

Queniano Jonah Kipkemoi supera favoritos, e etíope Helen Bekele bate recorde na categoria feminina

Clara Blanchar
O keniano Jonah Kipkemoi comemora vitória na Maratona de Barcelona.
O keniano Jonah Kipkemoi comemora vitória na Maratona de Barcelona.Quique García (EFE)

Insólito pódio na Maratona de Barcelona. O vencedor da corrida foi o queniano Jonah Kipkemoi, corredor de meio-fundo de 27 anos, atleta paralímpico de atletismo nos Jogos de Londres 2012. Em teoria, participou da maratona como “coelho”, corredor que a organização da competição contrata para que imponha um bom ritmo aos atletas favoritos. Kipkemoi cruzou a linha de chegada com um tempo de 2h08min57s. Insólito, porque foi sua primeira maratona. Mas a ausência de última hora do principal favorito e também do segundo por uma lesão no bíceps femoral no quilômetro 30 fez com que Kipkemoi ficasse sozinho na reta final... se sentiu bem, assumiu a liderança — na etapa final, com uma subida pela avenida Paral·lel — e cruzou a linha de chegada sozinho.

A etíope Bekele bate o recorde da prova

Se o pódio masculino na maratona foi totalmente queniano, ao feminino subiram três etíopes. A ganhadora foi Helen Bekele, que bateu por 22 segundos o recorde da prova com um tempo de duas horas, 25 minutos e 04 segundos. A segunda foi Melesch Tsegaye (2h 26m 44s) e a terceira, Robi Aberash Fayesa (2h 27m 04s).

A chegada de Bekele foi épica, com a locutora oficial da organização e o público gritando nos últimos metros. Os tempos das primeiras atletas já apontavam a recorde ao passo pela média maratona, mas quilômetro a quilômetro as distâncias se recortavam.

Completou a façanha com uniforme de “coelho” e nem ele, cujo contrato constava que devia chegar ao quilômetro 35, conseguia acreditar. Kipkemoi vai deixar Barcelona com 10.000 euros (cerca de 33.000 reais) por ter vencido a prova em menos de 2h09min, além dos 3.000 euros que havia recebido por correr como “coelho”. Sua deficiência é resultado de sequelas de uma queimadura que sofreu em casa, ainda adolescente, e que afetou seu braço direito e rosto. “Havia corrido meias maratonas e tinha ido bem, mas não esperava esta marca. Estou realmente surpreso”, disse ao descer do pódio.

O segundo classificado, outro queniano, também participou como coelho. Chama-se Jacob Cheshari e cruzou a linha de chegada meio minuto depois, com um tempo de 2h09min24s. Em terceiro lugar ficou Justus Kiprotich (2h11min38s), compatriota dos dois primeiros. O primeiro espanhol a cruzar a linha de chegada foi Samir Ait Bouchamane (2h17min28s), marroquino casado com uma catalã e com licença da Federação Catalã de Atletismo. Jaume Leiva, que tentava atingir o tempo mínimo para se classificar para o Mundial de Londres, saiu da competição com problemas musculares.

A etíope Helen Bekele, ganhadora da Maratona de Barcelona.
A etíope Helen Bekele, ganhadora da Maratona de Barcelona.Quique García (EFE)

A Maratona de 2017 — em Barcelona, a maratona é sempre no primeiro ou segundo domingo de março — foi especial. Porque comemorou-se a maratona de 25 anos atrás, quando a cidade sediou os Jogos Olímpicos. Após a largada, soou o Barcelonaaaaaa, da famosa canção da cerimônia de abertura dos Jogos nas vozes de Montserrat Caballé e Freddie Mercury. Participou da prova um dos seis medalhistas daquela maratona olímpica, o alemão Stephan Freigang, de 49 anos. Completou a competição com um tempo de pouco mais de três horas.

Foi também foi insólita a participação de Adnan Almousa Faramali, um refugiado sírio que mora no Líbano. A história deste rapaz, de 19 anos, a quem um disparo o deixou em uma cadeira de rodas há cinco anos, apareceu em uma reportagem da TV3. E foram a rede de TV pública catalã, a Rádio Catalunha e a Generalitat (governo regional) que conseguiram o visto especial para que ele viajasse a Barcelona e disputasse a maratona. A participação também foi possível devido ao apoio da associação Corre Comigo, uma entidade criada pelos irmãos Toni e Dídac Muñoz em memória do irmão, que morreu em consequência de uma paralisia cerebral, e com quem costumavam participar da maratona, empurrando sua cadeira de rodas.

Corrida de protesto

Cercados por câmeras e fotógrafos, Adnan e seu pai — também refugiado, mas da Palestina — comentaram, auxiliados por um tradutor, “a emoção de estar em Barcelona”. “Estou muito feliz”, disse, lembrando de como gostava de andar de bicicleta antes da guerra. De fato, no dia em que uma bala perdida o atingiu, voltava de bicicleta depois de comprar pão. Agora, participou de uma corrida de 10 quilômetros. “Com minha presença aqui, espero representar os refugiados de todo o mundo e fazer um chamado muito forte para que sua situação melhore”, disse.

A Maratona de Barcelona voltou a ser uma festa nas ruas por onde passou. Uma trajetória de luxo pelos principais pontos turísticos da cidade — Sagrada Família, Torre Agbar, Paseo de Gràcia, Arc de Triomf, orla marítima, Camp Nou, ponte Calatrava...— para uma prova cada vez mais internacional. Neste ano, metade dos 20.000 inscritos era de outros países. De 181 países! E 20% eram mulheres.

RESULTADOS

Homens:

1º Jonah Kipkemoi Chesum (Quênia) 2:08:56

2º Jacob Cheshari Kirui (Quênia) 2:09:24

3º Justus Kiprotich (Quênia) 2:11:38

4º Kiplagat Peter Kiptoo (Quênia) 2:12:10

5º Kemboi Matew (Quênia) 2:14:24

Mulheres

1ª Helen Bekele (Etiópia) 2:25:04

2ª Melesch Tsegaye (Etiópia) 2:26:44

3ª Robi Aberash Fayesa (Etiópia) 2:27:04

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