_
_
_
_

Lei sobre corrupção é revogada, mas protestos prosseguem na Romênia

Milhares de cidadãos pedem punições a membros do Governo por causa da polêmica lei que despenalizava esse crime em alguns casos

Manifestação contra o Governo em frente ao Parlamento romeno, neste domingo, em Bucareste.Foto: atlas | Vídeo: DANIEL MIHAILESCU AFP / Atlas
María R. Sahuquillo
Mais informações
Romênia despenaliza por decreto diversos crimes de corrupção

O recuo do Governo não apaziguou a Romênia. Dezenas de milhares de cidadãos saíram às ruas neste domingo, pelo sexto dia consecutivo, para clamar contra a corrupção e contra uma classe política que não lhes representa. Agora, eles exigem a apuração de responsabilidades, mesmo depois da retirada do polêmico decreto que pretendia despenalizar alguns casos de corrupção ativa, corrupção passiva e conflito de interesses, desde que o prejuízo decorrente não superasse o equivalente a 146.870 reais. O Governo do Partido Social-Democrata (PSD) já disse que não renunciará.

“Este Governo quis legalizar o roubo e a corrupção. É claramente uma amostra de qual pode ser seu caminho durante estes quatro anos”, exclama Alexandra Nor, de 29 anos. A seu redor na praça Victoria, em Bucareste, dezenas de milhares de pessoas – eram 500.000 no final da tarde, segundo a imprensa local – assobiam e gritam lemas contra o Governo do PSD. Nor sai para protestar com seus amigos desde terça-feira à noite, quando o Governo aprovou, de maneira quase surpreendente, a polêmica lei que despertou as maiores manifestações da história romena desde a deposição da ditadura de Nicolae Ceaucescu, em 1989. "Queremos que saibam que, haja o que houver, estaremos de olho neles, que estamos dispostos a sair às ruas, que não nos deixaremos enganar”, acrescenta Nor.

A capitulação do Governo, que, após uma reunião de urgência, publicou no domingo a revogação do decreto, não foi suficiente. Agora a população, indignada, quer gestos. O primeiro-ministro, Sorin Grindeanu, já descartou deixar o poder. “Não renunciarei, ganhamos as eleições com milhões de votos”, disse à rede de televisão particular Antena3. Fontes do partido social-democrata, no poder desde a vitória nas eleições de dezembro com 45% dos votos, informam que o bode expiatório pode ser o ministro da Justiça, Florin Iordache. Alguém que, segundo disse o próprio primeiro-ministro ao anunciar a retirada do decreto, “não soube comunicar bem” o texto. O presidente do PSD, Liviu Dragnea, admitiu à televisão local que o futuro do titular da pasta da Justiça está sendo discutido.

Dragnea, que também teria se beneficiado do decreto agora anulado e que não pôde ocupar a cadeira de primeiro-ministro justamente por ser acusado de corrupção, criticou os protestos desde o começo, por ver a oposição como a responsável por eles. "Se as manifestações continuarem após a revogação do decreto, isso deixará claro que se trata de um plano urdido após as eleições, para derrubar o Governo", afirmou no domingo. Frente à sede do Executivo, em Bucareste, por volta de mil pessoas se manifestaram para apoiar o Gabinete de Grindeanu.

Na praça Victoria, o ponto majoritário dos protestos dos últimos dias e onde no final da tarde de domingo as pessoas continuavam a chegar, Ciprian Gal clama contra os dirigentes romenos. “Com o que pretenderam fazer perderam legitimidade. Como vamos confiar agora em um Governo que faz esse tipo de manobra?”, se pergunta. O especialista em ciências ambientais, de 30 anos, lamenta pelo grave problema de corrupção na Romênia. Um problema, diz, que o Executivo só parece alimentar. A promotoria atualmente investiga 2.000 casos de abusos de poder de políticos no país.

"Como vamos confiar nesse Governo"

“Queremos um Governo que nos defenda dos crimes, que faça o possível para lutar contra a corrupção, não que a ampare”, diz Alex, de 30 anos (à direita, com o cartaz). Ao seu lado, sua namorada Alexandra e seu amigo Ciprian. Explicam que não protestam somente contra o Governo social-democrata, mas contra toda a classe dirigente que construiu e perpetuou um sistema “corrupto desde a base”.

"O que tentaram fazer é intolerável"

Alina Nagu comenta que é a primeira vez que participa de uma manifestação. No domingo, decidiu ir às ruas em Bucareste porque quer que a situação avance na Romênia. “O que tentaram fazer é intolerável, as coisas precisam mudar, uma luta de verdade contra a corrupção”, diz. Foi acompanhada ao protesto na praça Victoria pelos brasileiros Juliana e Franco, com sua filha Luísa. “Não somos daqui, mas vivemos aqui, nossa filha estuda em Bucareste, precisamos lutar contra esse problema”, diz Juliana.

"Todos presenciamos a corrupção"








No grupo formado por Andrea, Adrian, Mihai e Alin comentam que podem escrever um livro com os casos de corrupção que presenciaram. “Por isso é importante que os políticos vejam que estamos unidos, que saímos às ruas e não iremos nos deixar enganar”, diz Adrian, que se pergunta que outras “surpresas” o Governo prepara.








Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_