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‘Tarde para la ira’ é o grande vencedor do Goya 2017

'Sete Minutos depois da Meia-noite’, de Bayona, ganha nove estatuetas

O ator e diretor Raúl Arévalo posa com o Goya.
O ator e diretor Raúl Arévalo posa com o Goya.JUANJO MARTÍN (EFE)
Gregorio Belinchón
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Os dois grandes vencedores da 31ª edição do prêmio Goya, Raúl Arévalo e J.A. Bayona, carregam o orgulho de ser crianças do bairro. De bairros populares, humildes. Desses que nasceram na migração de gente que no franquismo abandonou em massa os povoados e chegou a periferias e cidades-dormitório. Um cresceu no barcelonês Trinitat Vella; o outro, em Móstoles. Um se lembra do impacto que Super-Homem teve em sua infância. O outro não é capaz de recordar sua primeira vez no cinema, mas sim de ET e de ser o sócio 131 do videoclube Iris, onde se fartou de alugar filmes de Bruce Lee.

Nesta noite, seus passos se cruzaram de novo. O primeiro, o barcelonês, Juan Antonio García Bayona, levou nove Goyas com seu terceiro longa-metragem, Sete Minutos depois da Meia-noite, entre eles o de melhor diretor, em cerimônia realizada a três semanas do início da rodagem de seu salto para Hollywood, Jurassic World 2.

O outro, o vencedor da festa, Raúl Arévalo Zorzo, pôs seu filme, Tarde para la Ira, no alto do pódio, ao ganhar o prêmio de melhor filme. A consagração foi completada com os prêmios de melhor roteiro original, diretor estreante (segundo cabezón [apelido da estatueta de Goya] para Arévalo) e melhor ator coadjuvante (Manolo Solo).

Arévalo sonhou durante anos em dirigir um filme. No caminho entrou a atuação, e a ela se dedicou, ganhando um Goya por Gordos. O projeto de Tarde para la Ira é um sonho alimentado por nove anos. E esse primeiro longa-metragem fecha, de certo modo, um período de sua vida iniciado quando tinha 11 anos e rodou seu primeiro curta, Super Agente 000, no mesmo curral da casa de sua avó (no povoado segoviano de origem de sua família, Martín Muñoz de las Posadas) em que filmou uma das cenas inesquecíveis de Tarde para la Ira.

Vingança em 16 mm

Ao iniciar a cerimônia, o apresentador Dani Rovira lhe dedicou a seguinte frase: “Onze indicações para o primeiro. Raúl, faz o segundo, porque o cinema te pede”. Até que isso aconteça, Arévalo pode ficar tranquilo de ter feito o filme que queria: um thriller entalhado na vingança em super 16 mm, formato que não é revelado na Espanha. Por isso, ao fim de cada jornada, o material voava para a Romênia. Fez assim por acreditar nessa estética, por precisar que houvesse granulação e suor na tela, secura castelhana e vizinhança madrilenha, que os personagens parecessem reais.

E a coisa funcionou porque se cercou de seus amigos, atores poderosos como Antonio de la Torre, Luis Callejo, Manolo Solo, Raúl Jiménez e Ruth Díaz. E porque uma produtora, Beatriz Bodegas, da La Canica Films, hipotecou sua casa para tocar um projeto sem uma televisão privada para bancá-lo.

Tarde para la Ira —esse filme em cuja coqueteleira, ou antes botija, misturam-se Gomorra, os irmãos Dardenne, Jacques Audiard, Sob o Domínio do Medo e Carlos Saura— é o quarto filme de um estreante a ganhar o Goya de melhor filme. E fez isso com um orçamento de dois milhões de euros (cerca de 7 milhões de reais). Nada, em comparação com os 25 milhões de euros com que Bayona contou para rodar Sete Minutos depois da Meia-noite, que levou a maior parte de seus prêmios em categorias consideradas técnicas.

Emma Suárez, outra das caras de uma noite em que foram ouvidos apelos ao Governo para que apoie mais o cinema espanhol, reclamações para que haja maior participação feminina e reivindicações de cunho trabalhista na associação de atores, também sabe o que é lutar por sua independência. Suárez conseguiu uma dobradinha, algo que nenhum intérprete fez desde Verónica Forqué em 1987. Ganhou dois Goyas: como atriz, Julieta, de Pedro Almodóvar, e como atriz coadjuvante por La Próxima Piel, de Isaki Lacuesta. Tinham se passado 20 anos desde seu primeiro cabezón por El Perro del Hortelano. “Façamos filmes!”, gritou no palco.

Nenhuma surpresa —houve prêmios para os cinco grandes filmes— e tudo agradável numa festa que não foi possível deixar com menos de três horas de duração, em que Dani Rovira passou no teste e na qual a plateia se comoveu com a cantora Sílvia Pérez Cruz, que ganhou o Goya de melhor canção com Ai, ai, ai, um hino contra os despejos. Cantou seu estribilho num dos momentos mais memoráveis da noite. “É indecente gente sem casa, casa sem gente.”

Confira todos os ganhadores do Goya 2017:

Melhor filme

Tarde para la ira

Melhor direção

Jaun Antonio Bayona, Un monstruo viene a verme

Melhor diretor revelação

Raúl Arévalo, Tarde para la ira

Melhor roteiro original

David Pulido e Raúl Arévalo, Tarde para la ira

Melhor roteiro adaptado

Alberto Rodríguez e Rafael Cobos, El hombre de las mil caras

Melhor ator protagonista

Roberto Álamo, Que Dios nos perdone

Melhor atriz protagonista

Emma Suárez, Julieta

Melhor ator coadjuvante

Manolo Solo, Tarde para la ira

Melhor atriz coadjuvante

Emma Suárez, La próxima piel

Melhor ator revelação

Carlos Santos, El hombre de las mil caras

Melhor atriz revelação

Ánna Castillo, El olivo

Melhor música original

Fernando Velázquez, Un monstruo viene a verme

Melhor canção original

Ai, ai, ai, de Silvia Pérez Cruz, Cerca de tu casa

Melhor direção de produção

Sandra Hermida Muñiz, Un monstruo viene a verme

Melhor direção de fotografia

Óscar Faura, Un monstruo viene a verme

Melhor montagem

Bernat Vilaplana e Jaume Martí, Un monstruo viene a verme

Melhor direção artística

Eugenio Caballero, Un monstruo viene a verme

Melhor figurino

Paola Torres, 1898. Los últimos de Filipinas

Melhor maquiagem e cabelo

David Martí e Marese Langan, Un monstruo viene a verme

Melhor edição de som

Oriol Tarrago e Peter Glossop, Un monstruo viene a verme

Melhores efeitos especiais

Pau Costa e Félix Bergés, Un monstruo viene a verme

Melhor animação

Psiconautas, los niños olvidados

Melhor documentário

Frágil equilíbrio, de Guillermo García López

Melhor filme ibero americano

El ciudadano ilustre, de Gastón Duprat e Mariano Cohn

Melhor filme europeu

Elle, de Paul Verhoeven

Melhor curta-metragem espanhol de ficção

Timecode, de Juanjo Giménez Peña

Melhor curta-metragem espanhol de animação

Decorado, de Alberto Vázquez

Melhor curta-metragem espanhol de documentário

Cabezas habladoras, de Juan Vicente Córdoba

Goya de honra

Ana Belén

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