O desenhista que transforma as declarações de Trump em HQ
Frases do novo presidente se misturam a personagens célebres para parodiá-lo
Os quadrinhos já têm sua resposta ao governo de Donald Trump – e ela é muito divertida. Quem inaugurou essa tendência, poucos dias depois da vitória eleitoral do magnata, foi o espanhol Pablo Ríos, que contava dias atrás ao EL PAÍS que escreveu sua sátira de 44 páginas em apenas um mês: “Eu já sabia que ele ia ganhar”. Mas um dos pontos de vista mais originais veio do ilustrador Robert Sikoryak, que teve a ideia de misturar personagens históricos das HQs com as declarações mais célebres e impertinentes do presidente. O que começou como uma brincadeira na Internet está a ponto de virar um contrato com uma editora.
“Precisava responder por mim mesmo a Trump. Não sabia se meus leitores gostariam, achei que talvez estivessem cansados de ouvir as declarações dele, mas precisava fazer isso. Não sei se temos a responsabilidade de responder, mas todos temos o direito”, explica Sikoryak por email, dias depois do discurso de Meryl Streep ao presidente no Globo de Ouro. A ideia deste ilustrador, especialista em adaptar histórias de literatura clássica e poesia para os quadrinhos, era simples: pegar as declarações mais famosas de Trump e colocá-las em algumas das capas mais reconhecíveis na história das HQs. “Tive a ideia antes das eleições. Trump dizia as coisas mais loucas, e queria catalogá-las. Quando virou presidente-eleito, vi que era uma necessidade.”
As capas são todas paródicas, mas as palavras, por mais exageradas que pareçam, são literais. Trump luta como Magneto contra a Patrulha X: “Vamos ganhar tanto que talvez nos cansemos de ganhar, e vocês nos dirão: ‘Vocês ganham muito’”. Em outra confronta o Ligeirinho: “Quando o México manda sua gente, não são os melhores. Trazem drogas, crime e estupradores”.
É que, embora na sua boca pareçam as palavras de um tonitruante vilão, Sikoryak buscava realismo, mesmo que o projeto tivesse sido criado quase como uma brincadeira para seu tumblr pessoal. “Meu processo sempre envolve muita documentação. Recordava muitas declarações, mas procurei os documentos literais, e, de passagem, encontrei muitas outras. Só queria utilizar o que ele disse, não seus tuítes, e só o que havia dito durante as eleições. Não queria pôr nada alheio na sua boca. Então não há nada anterior a 2015. Quanto às HQs, voltei à minha própria coleção. O mais difícil era unir as frases com as capas certas. Isso foi um trabalho duro.”
Sikoryak, que publicou em papel de forma independente 16 das capas em preto e branco, já recebeu uma oferta de uma editora para expandir seu trabalho. Ele se considera parte de uma linhagem da paródia polícia nos EUA. “Eu me lembrava de ter visto algumas paródias anti-Obama chamadas Tea Party Comics. Não estava nada de acordo com o que diziam, mas eram chamativas e apaixonantes. Essa foi a inspiração”, reconhece o autor. “A sátira é algo que os quadrinhos fazem muito bem, e temos uma grande tradição graças a revistas como a MAD, na qual algumas das minhas ilustrações foram publicadas.”
Mas Trump não é novo nos gibis. Famoso há décadas, em várias ocasiões já virou personagem de HQ, e não só em paródias. Em 1988, sua incipiente carreira política o levava a aparecer nas páginas da Iron Man 227; um ano mais tarde, a DC se inspirava na capa do seu livro mais famoso, The Art of the Deal, para criar a biografia do vilão Lex Luthor; e em 2008 ele ameaçava denunciar Luke Cage. Em julho de 2016, a Marvel, que em 2008 incluiu Obama como presidente no seu universo, com direito a uma capa, se atreveu a transformar Trump em um de seus vilões mais extravagantes e exagerados, o cabeçudo MODOK, enquanto a Deadpool se apropriava do seu famoso penteado numa das suas capas, e isso que o executivo-chefe da editora, o desconhecido Ike Perlmutter, foi um dos grandes doadores da campanha presidencial.
Certamente não é a última vez que o vemos assim nos próximos anos. “Estou convencido de que o que acontece agora no mundo real irá se transferir também ao mundo dos quadrinhos”, sentencia Sikoryak, recordando outras alegorias, como quando o Capitão América enfrentou uma espécie do Nixon malvado depois do Watergate.
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