Um ‘Brexit’ autodestrutivo
O Governo de May fica quase sem especialistas em Europa, poucas semanas depois de iniciar o processo de sua saída
A recente renúncia de Sir Ivan Rogers como representante permanente (embaixador) na UE não é uma história diplomática sem importância. É um símbolo categórico da capacidade autodestrutiva do Brexit para o Reino Unido.
Rogers era um diplomata independente, tinha trabalhado com ministros europeístas e com o eurocético David Cameron para obter um acordo especial de permanência com a UE, e conseguiu. E era um dos poucos conhecedores em seu país do funcionamento e dos personagens da UE, preparação fundamental para evitar que o Brexit acabe sendo tão desajeitado e lesivo como já está sendo prejudicial.
Rogers renunciou pela pressão dos brexiters mais radicais. Usaram o vazamento de seu relatório discreto ao Governo no qual argumentava que qualquer novo acordo com a UE vai precisar de uma década de negociação, para atacá-lo e repreendê-lo.
Londres fica assim quase sem especialistas em Europa, a poucas semanas do início das negociações de sua saída. Este déficit é somado à total falta de técnicos experientes em negociar acordos comerciais, tarefa que a UE realizava para o Reino Unido (e outros sócios) desde sua integração.
A falta de profissionais credenciados no Governo May agrava sua bússola inexistente no Brexit: o próprio Rogers reconheceu que ignorava os objetivos concretos da operação. Dificilmente poderia conhecê-los, porque não existem, tirando a demagogia chauvinista e xenófoba.
Até agora o Brexit estava corroendo a economia britânica: o colapso da libra não impulsionou as exportações, relegando-as ao pior lugar entre as grandes economias. Politicamente, dividiu a sociedade e criou tensão na unidade dos reinos e territórios que compõem o país. Agora, esmaga a tradicional neutralidade e independência da Administração e seus funcionários em relação ao Governo. Assim, o Brexit está desfigurando e distorcendo o Estado britânico, em detrimento principalmente de seus cidadãos.
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