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Trump semeia o caos no processo de transição da presidência dos EUA

Transferência de poderes entra na fase final, com a apreciação pelo Congresso da nova equipe

Manifestantes protestam contra a indicação de Jeff Sessions durante a sessão no Congresso que irá confirmar seu nome para a Justiça.
Manifestantes protestam contra a indicação de Jeff Sessions durante a sessão no Congresso que irá confirmar seu nome para a Justiça. CHIP SOMODEVILLA (AFP)
Marc Bassets

A transferência de poderes mais turbulenta das últimas décadas nos Estados Unidos entra em sua fase final nesta terça-feira, quando o Congresso passar a examinar alguns dos indicados a cargos de primeiro escalão do novo Governo. Nas últimas semanas, Donald Trump se chocou com o ainda presidente Barack Obama e contestou os serviços de espionagem do seu próprio país. Os conflitos de interesse do mandatário eleito, junto com seu agressivo uso do Twitter, marcaram também uma transição atípica, que prenuncia um período de forte incerteza para a principal potência mundial.

As eleições que deram a vitória a Trump ocorreram há menos de dois meses, mas seu impacto sobre a política norte-americana e as relações internacionais já é inegável.

Valendo-se de mensagens no Twitter, Trump – que só toma posse no dia 20 – causou oscilações nas Bolsas, pressionou grandes empresas a precipitarem decisões, questionou alguns dos pilares da diplomacia norte-americana, como a relação com a China e a doutrina sobre as armas nucleares, e solapou ações de Obama em sua relação com Israel. Também se colocou lado do presidente russo, Vladimir Putin, e do delator Julian Assange para desafiar a CIA e a outras agências de espionagem que apontam Moscou como responsável por uma campanha secreta que teria decidido a eleição em favor do republicano.

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Dia após dia, Trump vem se esforçando em desmentir quem vaticinava que, depois das eleições, o magnata adquiriria uma aura mais presidencial, um caráter mais afável, e seria capaz de se elevar acima das desqualificações e insultos que marcaram sua campanha.

Assim chegam Trump e sua equipe à semana em que começarão as audiências no Senado necessárias para confirmar os principais indicados a cargos no Executivo, e também quando o presidente eleito oferecerá sua primeira entrevista coletiva em seis meses. Trump abandonará a virtualidade do Twitter para saltar à arena da política em seu sentido mais tradicional. Em 20 de janeiro, depois de prestar juramento no cargo, sucederá oficialmente a Barack Obama.

Os indicados a cargos de primeiro escalão – um grupo heterogêneo composto por ideólogos conservadores, generais e multimilionários sem experiência de Governo – deverão responder a perguntas incômodas dos senadores sobre sua trajetória e suas opiniões. Os democratas, que são minoria no Senado – incapazes, portanto, de barrar as nomeações – aproveitarão as audiências para reforçar suas contradições com Trump. Comparecerão, entre outros, Jeff Sessions, um senador do Alabama que foi indicado para o cargo de secretário de Justiça; Rex Tillerson, o chefe da gigante petroleira ExxonMobil indicado ao comando do Departamento de Estado (chancelaria); John Kelly, o general dos Fuzileiros Navais que dirigirá o Departamento de Segurança Doméstica; e Mike Pompeo, congressista do Kansas indicado para dirigir a CIA.

Candidatos questionados

Jeff Sessions, um branco que cresceu no Sul profundo durante a época da segregação, abrirá a rodada de sabatinas nesta terça-feira. É provável que seja recordado o fato de que usou no passado palavras depreciativas sobre os negros e fez piadas a respeito a Ku Klux Klan, ou que nos anos oitenta, quando era procurador federal no Alabama, acusou de fraude eleitoral alguns ativistas que buscavam garantir o direito de voto para os afro-americanos sulistas.

Jeff Sessions, indicado para o departamento de Justiça, abre as sabatinas sob protestos: ele é acusado de racismo e fez piadas a respeito da atuação da Ku Klux Klan

Tillerson, futuro chefe de Relações Exteriores de um presidente que muitos aliados dos EUA veem com inquietação, terá de dar explicações sobre sua amizade com Putin. À frente da ExxonMobil, Tillerson reforçou a presença da petroleira na Rússia e se opôs às sanções da Administração Obama. Em 2013, Putin o condecorou com a Ordem da Amizade.

Kelly possivelmente será questionado sobre os vagos planos de Trump para construir um muro na fronteira com o México, e Pompeo deve ser pressionado a respeito das zombarias do presidente contra os espiões norte-americanos.

Os democratas tentaram adiar as audiências, alegando que o Gabinete de Ética do Governo não concluiu os obrigatórios relatórios sobre possíveis conflitos éticos dos candidatos. Walter Schaub, diretor desse órgão federal, observou numa carta que o calendário de audiências é motivo de “grande preocupação”. A pressa em acelerar a confirmação dos novos funcionários “deixa alguns nomeados com problemas éticos potencialmente desconhecidos ou sem resolver antes de suas audiências”.

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