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Donald Trump modera seu discurso mais extremo

Magnata passa Dia de Ação de Graças em sua mansão na Flórida Ele suavizou as propostas mais radicais na primeira fase da transição

Pablo de Llano Neira

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, descansou na quinta-feira enquanto se preparava para a transição que o levará à Casa Branca em 20 de janeiro. Em meio a um forte esquema de segurança, e com os apresentadores de TV trabalhando de terno na praia, Trump passou o Dia de Ação de Graças com a família na sua mansão Mar-a-Lago, na Flórida.

Patrulha da Guarda Costeira vigia a mansão de Trump.
Patrulha da Guarda Costeira vigia a mansão de Trump.G. MORA (AFP)

O futuro mandatário começou o dia com uma mensagem no Twitter, anunciando “avanços” nas suas conversas com a empresa de ar condicionado Carrier, para evitar que a firma transfira sua unidade de produção de Indiana para o México. “Estou trabalhando duro, até no Dia de Ação de Graças, para que a Carrier fique nos EUA”, escreveu. Uma mensagem coerente com o discurso protecionista que manteve na campanha, ao contrário de outras ideias que foi moderando.

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Desde sua vitória nas urnas em 8 de novembro, Trump suavizou várias ideias que lançou como sinais de identidade política na disputa pelo Salão Oval. Três dias depois da noite eleitoral, e um depois de se reunir com Barack Obama, Trump afirmou que estava aberto a aprovar uma versão “modificada” da lei de acesso à saúde conhecida como Obamacare, antes criticada por ele como um “desastre total” e que seria substituída por outra “muito melhor e menos onerosa”.

De Obama, a quem chegou a chamar de “fundador do Estado Islâmico”, Trump opinou, após o encontro, que lhe parecia “um homem muito bom”. Nesta semana, afirmou ao The New York Times que espera ter uma “relação longa e proveitosa” com o antecessor.

A construção de um muro na fronteira com o México para evitar a imigração ilegal, ou o reforço do já existente, foi uma de suas promessas. Mas não mencionou o muro na segunda-feira, numa mensagem de vídeo sobre suas prioridades presidenciais, nem na entrevista ao jornal. “Construirei um muro e farei com que o México pague”, repetia na campanha, além de chamar os imigrantes sem documentos de “estupradores”. “Estou convencido de que precisamos de uma reforma migratória”, disse ao Times. Embora tenha deixado o símbolo do muro de lado, após a vitória eleitoral Trump anunciou que prevê a deportação de até três milhões de imigrantes sem documentos.

O novo presidente tampouco voltou a falar sobre a possibilidade de proibir, temporariamente, a entrada de muçulmanos nos EUA. “Quando for eleito, suspenderei a imigração de regiões do mundo com uma história comprovada de terrorismo (...), até que saibamos como acabar com essa ameaça”, afirmou em 2015, após um atentado contra uma boate em Orlando. Inclusive flertou com a ideia de criar uma base de dados sobre muçulmanos (“é algo sobre o qual deveríamos começar a pensar”, disse à Fox News), uma postura incorreta que o porta-voz da equipe de transição descartou dias atrás: “O presidente eleito nunca defendeu nenhum tipo de sistema para rastrear indivíduos por sua religião”.

O que Trump eliminou completamente ante o Times foi sua promessa de nomear um promotor para investigar os e-mails enviados por Hillary Clinton quando era secretária de Estado. “Não quero prejudicar os Clinton. Ela já sofreu de muitas formas diferentes”, comentou. Num debate com a rival democrata, Trump disse a Hillary que, se ele fosse presidente, ela estaria “atrás das grades”.

A defesa da tortura por afogamento simulado foi uma de suas maiores bravatas. “Gosto muito. Não acho que seja suficientemente dura”, disse num ato. Não rejeitou o método na entrevista ao The New York Times, mas tirou-lhe importância aludindo a uma conversa recente com o general da Reserva James Mattis, que poderia ser seu secretário da Defesa. “Ele me disse: ‘Nunca pensei que fosse útil’. Dê-me algumas cervejas e um maço de cigarros e posso conseguir mais [informações].”

Trump também conteve as críticas à teoria da mudança climática. “É um assunto que vou seguir de perto. Tenho a mente aberta, e seremos cuidados a respeito”, disse ao jornal, embora agregando um toque cético ao dizer que “o dia mais quente da História foi em 1890 ou algo assim.” Na campanha, ele se mostrou disposto a cancelar a participação dos EUA no Acordo de Paris contra o aquecimento global, que já em 2012 havia descrito como “uma invenção dos chineses para que a indústria dos EUA não seja competitiva”.

Sua decisão que mostrou maior continuidade com o extremismo da campanha foi nomear como conselheiro Steve Bannon, um agitador midiático próximo de correntes racistas e antissemitas. Na entrevista ao Times, Trump repudiou os lemas nazistas entoados num ato em favor da supremacia branca em Washington.

Mas o vetor que manteve mais solidamente é a oposição aos tratados comerciais assinados pelos EUA. No vídeo de segunda, ele afirmou que em seus primeiros 100 dias retirará o país do Tratado Transpacífico, que considera “um golpe mortal contra as fábricas norte-americanas”.

O presidente eleito passará este fim de semana em sua mansão. Espera-se que retome as sessões com sua equipe de transição nesta sexta e anuncie a nomeação de Ben Carson como secretário de Desenvolvimento e Habitação. Carson é um neurocirurgião que tentou ser o candidato republicado e foi desqualificado por Trump, que agora o descreve assim: “É um homem talentoso que ama as pessoas.”

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