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Novas multas de trânsito: um 7x1 contra os selfies no volante

A partir desta terça, o valor da multa triplica para os motoristas ansiosos que checam o celular e tiram fotos enquanto dirigem

Gil Alessi

Há alguns anos o brasileiro vem sendo sistematicamente punido e atacado em suas maiores paixões. Primeiro foi o futebol: poucas vezes um resultado dentro de campo precisou de duas mãos para representar os gols sofridos pela seleção. Depois veio o baque nas eleições municipais. Estaria o “maior carnaval do planeta” ameaçado pela eleição de um prefeito evangélico e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus no Rio de Janeiro? Mal sabiam os foliões que a cereja do bolo ainda estava por vir. Nesta terça-feira, na calada da véspera do feriado de finados, nossa paixão por mexer no telefone celular enquanto dirigimos foi golpeada com um reajuste no valor da multa. Aquela selfie ao volante para postar nas redes sociais e mostrar como o trânsito está engarrafado e não anda custará 293,47 reais.

É a nova política de multas que passa a vigorar em todo o Brasil a partir desta terça-feira. Antes do reajuste, uma conferida rapidinha no Facebook enquanto o farol não abre (só para ver quantos likes tem a foto tirada no carro minutos antes) saia por 85,13 reais. O aumento no valor da multa para quem fala ou manuseia o telefone celular enquanto dirige foi de 244%. Antes tratava-se de uma infração média, agora é gravíssima, e rende 7 pontos na carteira de habilitação. Estudos apontam que o risco de acidentes aumenta 23 vezes se o motorista estiver enviando uma mensagem de texto. Ou seja, aquele “Tô atrasado chego em 10”, que demora cinco segundos para escrever, aumenta exponencialmente a chance de seu atraso ser maior ainda em função de um acidente.

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Mas esta não é a única novidade na legislação de trânsito. Estacionar em vaga de idosos ou deficientes, outro clássico do brasileiro ao volante (“vou ali rapidinho”), também passa a ser infração gravíssima, com apreensão do veículo. Se recusar a soprar o bafômetro (até o senador Aécio Neves já fugiu...) ou a fazer um exame clínico para constatar a presença de álcool no sangue, que antes não era infração, agora passa a ser gravíssima, com multa multiplicada por 10 (2.934,70 reais), recolhimento da habilitação e suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Os valores de todas as infrações também foram reajustados, e quem atingir 20 pontos na carteira ficará com ela suspensa por seis meses – hoje o prazo é de um mês.

“Ah mas isso é indústria da multa!”, dirão alguns motoristas (parte deles logo após ler estas linhas enquanto dirige). Críticas à parte, os números de acidentes trânsito no país são sombrios. A cada ano mais de 40.000 pessoas morrem em acidentes de trânsito em todo o Brasil, número que permanece estável desde 2010. Já os acidentes com feridos graves, que exige internação, não param de crescer desde 2008. Em 2015, foram 200.000 vítimas. Os dados são do Ministério da Saúde. Além do incalculável custo emocional para os acidentados e suas famílias, o trânsito selvagem custa ao país 40 bilhões por ano, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Mas nem tudo são trevas para o motorista ávido por usar o celular ao volante. O Departamento Nacional de Trânsito irá adotar um sistema de pagamento de multas por aplicativos, que concederá descontos ao infrator – que podem chegar a 40% do valor.

As novas medidas que valem à partir desta terça-feira fazem parte de um pacote de leis sancionadas pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) em maio, pouco antes de seu afastamento pelo Senado. À época o Governo justificou o aumento com o argumento de que os valores não eram reajustados há 19 anos.

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