Republicanos se mobilizam para manter Congresso se Trump perder
Empresário mantém confronto no partido depois de uma onda de repúdios
Donald Trump mantém seu confronto com o Partido Republicano enquanto uma inédita onda de deserções pressiona para que retire sua candidatura depois do vazamento de um vídeo com comentários ultrajantes sobre as mulheres. Muitos pesos pesados republicanos temem perder a eleição presidencial e, também, a Câmara de Representantes, que controlam amplamente, e o Senado, onde sua maioria é mínima –e que terá um terço de suas cadeiras renovadas. Esse é o motivo de muitas das retiradas de apoio pelas grosserias de 2005, quando tantas ofensas prévias não levantaram tal tempestade. A onda de desafetos não para de crescer. O último foi o presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, que anunciou nesta segunda-feira, horas depois do segundo debate presidencial, sua decisão de deixar de fazer campanha para Trump.
A não ser que Trump morra ou decida retirar a candidatura por conta própria, é praticamente impossível para os republicanos se livrarem do homem que os representa na eleição para presidente dos Estados Unidos. E isso, desde sexta-feira, semeou o pânico diante de uma possível vitória esmagadora de Hillary Clinton, impulsionada pelo último escândalo do empresário nova-iorquino, o mais ruidoso até agora, a um mês das eleições. Além da presidência está em jogo o Congresso (integrado pelo Senado e a Câmara de Representantes), e os republicanos temem que os eleitores que no fim de semana decidiram não votar em Trump fiquem em casa e também não apoiem o partido.
Que o vice-presidente do país, Joe Biden, tenha qualificado de "agressão sexual" as atitudes do candidato presidencial em relação às mulheres, relatadas pelo próprio Trump em um vídeo de 2005 divulgado recentemente, dá uma medida da gravidade da questão. Que alguém como Condoleezza Rice, secretária de Estado do republicano George W. Bush, exclamasse no sábado "Basta! Donald Trump não deveria ser presidente. Deveria se retirar" também reflete o ponto de inflexão.
O senador e ex-candidato presidencial republicano John McCain também retirou seu apoio. E o ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger escreveu: "Tenho sido um orgulhoso republicano desde que cheguei à América em 1968 (...), mas há uma etiqueta acima da de republicano: estadunidense. E quero lembrar a meus companheiros republicanos que não só é aceitável escolher um país acima do partido; é o seu dever".
A "retórica inacreditável" de Trump também foi qualificada pelo presidente Barack Obama como "perturbadora", mas o mandatário foi mais além ao referir-se ao candidato republicano. "Um dos aspectos mais preocupantes destas eleições é a retórica inacreditável que escutamos de seu representante", disse Obama durante um ato de arrecadação em Chicago. "Isso nos revela que [Trump] é suficientemente inseguro para buscar impulso esmagando outras pessoas. Não é um traço de caráter que eu recomendaria para a pessoa que ocupe o Salão Oval."
O vídeo mostra Trump no intervalo de um programa de televisão dizendo que ele, em sua condição de astro, pode fazer o que quiser com as mulheres, que lhe permitem tudo, como pegá-las pelos genitais. Afirma que as beija sem se preocupar se elas querem ou não e relata como tentou fazer sexo com uma mulher casada, entrando nela "como em uma puta".
Há comoção entre os republicanos, mas também um certo instinto de sobrevivência. Enquanto se multiplicavam os pedidos de muitos políticos para que seu candidato se retire e proliferavam os comunicados de condenação, o magnata escrevia no Twitter algo neste sentido: "Quantos santarrões hipócritas. Estão vendo os números de suas pesquisas baixarem".
A seu lado se mantém Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York. Muitos dos que no fim de semana estavam abandonando Trump nunca haviam estado com ele de verdade, afirmou Giuliani. "Claramente, ele se sente mal pelo que disse, se desculpou, e gostaria de passar a falar dos problemas que os norte-americanos enfrentam", acrescentou.
Giuliani teve de substituir a gerente de campanha, Kellyanne Conway, em um programa da rede de televisão conservadora Fox News, já que ela cancelou presença. Conway tinha sido elevada a um cargo mais alto em agosto em uma reestruturação da equipe de campanha para melhorar a imagem de Trump entre o eleitorado feminino.
O presidente do Comitê Nacional Republicano, Reince Priebus, não participou de outro encontro prévio ao segundo debate presidencial programado para a noite de domingo em Saint Louis (Missouri). Um email do comitê divulgado pelo jornal Politico afirma que houve uma ordem para interromper o envio de publicidade em nome do candidato. E Priebus está pedindo que os recursos para Trump sejam redirecionados para financiar as campanhas dos senadores, segundo The Wall Street Journal.
A média das pesquisas calculadas pelo portal Real Clear Politics, que ainda não aponta os efeitos desta tempestade, indica vitória de Hillary Clinton, com 47,5% dos votos, enquanto o republicano teria 42,9%. É uma incógnita se o vídeo machista mobilizará os eleitores democratas para irem em massa às urnas com a finalidade de colocar Clinton na Casa Branca ou se incomodará tanto os republicanos a ponto de decidirem dar as costas a seu candidato. Uma pesquisa do Politico e da Morning Consult logo depois de o vídeo ser divulgado demonstra que apenas 12% dos eleitores republicanos considera que Trump deve retirar a candidatura.
As mulheres como arma política
Um dos pontos fracos de Donald Trump na campanha é sua atitude em relação às mulheres, muitas vezes sexista e em algumas ocasiões descrita como abusiva por uma de suas ex-esposas. Como contra-ataque à sua rival democrata, Hillary Clinton, o empresário utiliza o histórico de seu marido, Bill Clinton. Antes do escândalo Monica Lewinsky, o ex-presidente teria sido acusado de assédio por pelo menos uma outra mulher.
Os republicanos acusaram várias vezes a candidata Clinton de ter tentado desacreditar essas mulheres com a finalidade de proteger o marido. Rudolph Giuliani, convertido em um dos grandes apoios de Trump, insinuou que no debate da noite de domingo poderia vir à luz essa roupa suja.
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