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Rússia avalia nas urnas o respaldo ao mandato de Putin

A crise devido à queda do petróleo e às sanções não põem em risco a vitória do partido do presidente

Funcionários de um colégio colocam panfletos eleitorais em Gusino, no oeste da Rússia.Vídeo: SERGEI GRITS (AP) / EFE
Pilar Bonet

A Rússia realiza hoje eleições para a Duma Estatal (equivalente à Câmara dos Deputados), pleitos que, apesar de parecerem desinteressantes, são importantes pois permitirão ao presidente Vladimir Putin avaliar se deve corrigir o rumo em função da dinâmica indicada nas urnas. O sistema político russo é presidencialista e a formação do Governo não está vinculada ao resultado das eleições legislativas. Em paralelo a elas, na Rússia já começou de fato a corrida para as eleições presidenciais de 2018. Putin, o homem forte do Estado desde 2000, não revelou ainda se concorrerá de novo para o mandato presidencial (que desde 2012 foi ampliado de quatro para sete anos) ou se apostará em um candidato sucessor, que talvez já esteja no plantel das novas nomeações realizadas nos últimos meses.

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Para as eleições, nas quais concorrem 14 partidos, foram convocadas mais de 110 milhões de pessoas em um total de 95.000 colégios distribuídos em um imenso território de 11 fusos horários, do estreito de Bering até Kaliningrado.

Rússia Unida (RU), o partido majoritário na Duma Estatal que sai, é o favorito nas eleições, mas parece ter menos peso do que em 2011, quando obteve 49,32% dos votos e perdeu a maioria constitucional (dois terços da câmara). Segundo as pesquisas, a RU obterá entre 41% (Fundo da Opinião Pública) e 31% (Centro Levada). As pesquisas concordam que no parlamento continuarão o Partido Comunista da Rússia e o Partido Liberal Democrático, de caráter populista e nacionalista, dirigido por Vladimir Zhirinovsky. Há divergências, no entanto, quanto à continuidade do Rússia Justa, o quarto partido representado na Duma que sai.

Para conseguir cadeiras na Duma Estatal é preciso superar a barreira dos 5%. Os dois partidos de liberais favoráveis a uma democracia de cunho europeu, Yabloko e Parnaso, podem ficar de fora, obtendo um resultado inferior a 2%, segundo prognosticam três grandes institutos de pesquisa (incluindo o Centro Levada).

As eleições são realizadas por sistema misto (dos 450 deputados da Duma, 225 são eleitos por sistema proporcional e listas de partido e outros 225 por distritos majoritários e maioria simples). Nas últimas duas convocatórias, todos os deputados da Duma se elegeram exclusivamente por listas de partido. Alguns analistas esperam surpresas nos distritos majoritários, onde conta a relação de confiança do eleitorado em relação ao candidato concreto.

O economista Grigori Yavlinksy, candidato à presidência da Rússia em várias ocasiões, encabeça a lista do Yabloko. O ex-chefe do Governo russo, Mikhail Kasyanov, encabeça a lista do Parnaso. A divisão dos liberais de tendência ocidental é um tema controverso, mas Yavlinksy sempre se distanciou dos responsáveis pela política econômica de Boris Yeltsin, e sobretudo da forma como foram privatizadas as empresas do Estado. Políticos de outras formações, como Vladimir Rizhkov, ex-vice-chefe da Duma, e Dimitri Gudkov, do partido Rússia Justa, concorrem nas fileiras do Yabloko.

Nem o Yabloko nem o Parnaso apresentaram candidatos na república anexada da Crimeia e os dois partidos criticaram a política do Kremlin em relação à Ucrânia, que foi apoiada de forma praticamente unânime pelos quatro partidos representados na Duma. Em Kiev, um grupo de manifestantes protestou e lançaram rojões nas imediações da embaixada russa na noite de sexta para sábado. Nenhuma organização internacional, entre as convidadas pela Comissão Eleitoral Central da Rússia, aceitou enviar observadores para a Crimeia.

A queda dos preços dos hidrocarbonetos, o principal produto de exportação da Rússia, e a guerra de sanções e contra-sanções com o Ocidente se traduziram na deterioração do nível de vida dos cidadãos e em problemas para adequar os orçamentos do Estado. No último trecho da campanha eleitoral, Putin deu uma mão à RU e ao primeiro-ministro Dimitri Medvedev, que encabeça a lista desse partido e que foi bastante infeliz em seus comentários diante de setores queixosos, como aposentados e professores. Putin se reuniu com os ativistas da RU, saiu para pescar com Medvedev e o acompanhou nas festas do dia de Moscou. Putin também viajou para a Crimeia e, a julgar por sua aparência e pelas entrevistas na televisão, parecia incomodado com as respostas evasivas sobre os custos da infraestrutura em construção naquela península, incluindo a ponte sobre o estreito de Kerch. Os crimeios se queixam a Putin dos dirigentes locais.

O clima dessas eleições melhorou em relação às anteriores, segundo Grigory Melkonyants, copresidente da Golos, uma ONG que foi declarada “agente estrangeiro” e que hoje — depois de ter se reorganizado como “movimento de defesa dos direitos dos eleitores” — colabora ativamente com a nova chefe da Comissão Eleitoral Central (CEC), Ella Pamfilova. “Vladimir Churov, o presidente anterior da CEC, negava os problemas e dizia que os vídeos sobre falsificações tinham sido filmados na Califórnia”, afirma Melkonyants. O especialista adverte, no entanto, quanto à “enorme resistência do sistema às mudanças positivas” na CEC. A instituição, afirma, não controla os colégios eleitorais regionais que, na prática, se submetem ao poder dos governadores e suas administrações.

As autoridades estavam interessadas em que houvesse uma baixa participação eleitoral, uma vez que “uma alta participação representa um risco para elas”, diz Melkonyants. Assim, adiantaram para setembro (quando o tempo ainda é bom e os russos saem para suas “dachas”) as eleições que normalmente acontecem em dezembro. A Golos tem observadores em 40 regiões (do total de 85 controladas por Moscou).

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