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Merece tanto alvoroço o iPhone 7? Oito motivos que demonstram que não

Algumas das razões por que talvez você deva pensar duas vezes antes de comprar o novo ‘smartphone’

Um comprador do iPhone 7 em Nova York.Foto: atlas | Vídeo: REUTERS / ATLAS
Ramón Muñoz
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Desde que no dia 7 foi anunciado o lançamento do iPhone 7, os meios de comunicação, tanto da imprensa especializada em tecnologia como da generalista, seja em formato audiovisual, impresso ou na Internet, dedicaram grandes esforços para cobrir a estreia do novo smartphone da Apple. Por que tanta atenção midiática se se trata de mais um celular novo, como as dezenas de celulares que as marcas lançaram este ano? Não tem grandes novidades técnicas nem avanços significativos em relação a outros smartphones de elevada categoria.

Apesar do alvoroço midiático, não há motivos evidentes que justifiquem a atenção excessiva, nem do ponto de vista tecnológico nem do âmbito do mercado. E como nos últimos dez dias não paramos de ler artigos sobre as proezas do iPhone 7 e da Apple, nesta contra-análise são enumeradas algumas das razões pelas quais não deveríamos prestar tanta atenção à marca da maçã mordida e seus artefatos.

- Apenas um de cada dez celulares na Espanha é iPhone. Mais especificamente, a participação da Apple no mercado espanhol se situou em 9,2% em julho, segundo a consultora especializada Kantar. A Espanha é um dos países onde menos penetração tem o telefone da fábrica de Cupertino, muito abaixo de outros grandes mercados europeus, como Alemanha (15,2%), França (18,8%), Itália (12,7%) e Grã-Bretanha (38%).

- A Apple é a quarta marca no mercado espanhol de smartphones. É superada pela Samsung (23,2%), Huawei (22,1%) e BQ (12,2%), segundo a Kantar. De fato, nunca liderou as vendas de celulares, nem sequer quando saiu o mítico iPhone (1) em 2007.

Jornalista experimenta os novos Apple AirPods, em San Francisco.
Jornalista experimenta os novos Apple AirPods, em San Francisco.MONICA DAVEY (EFE)

- O iPhone vende cada vez menos no mundo. Nos últimos doze meses, a marca da maçã perdeu 1.7 ponto de participação, passando de vender 14,6% dos celulares em todo o mundo a apenas 12,9% no final de junho. Por sua vez, seus rivais não param de crescer. A Samsung é líder mundial, com 22,3%, e a Huawei, terceira na tabela (8,9%), pode alcançar a Apple em dois anos se mantiver seu ritmo de crescimento de dois dígitos, de acordo com as cifras da consultoria Gartner. Os dados são ainda mais preocupantes na China, o país que a empresa de Tim Cook quer transformar em motor de seu crescimento. Suas vendas diminuíram no segundo trimestre 26%. A Huawei e a Xiaomi, e, sobretudo, Vivo e Oppo, as novas marcas emergentes chinesas, atrapalharam os planos de expansão da Apple.

- Quando você compra um iPhone, você entra no universo fechado de iOs. E isso significa que o seu smartphone tem escassas possibilidades de se comunicar com outros celulares que não se movimentem com o sistema operacional nativo da Apple. Além do mais, você tem que passar pelos filtros que a marca impõe (iTunes, Mapas, Safari, Apple Store, etc) para obter aplicativos ou baixar arquivos. Baixar uma canção ou assistir a um filme pode se tornar um pesadelo no iPhone, que veta determinado tipo de arquivos (como BitTorrent). Com o Android, o sistema aberto (até certo ponto) do Google, a vida é mais fácil para o seu celular. Podem ser compartilhados conteúdos com outros celulares de quase todas as marcas, personalizar a tela, trocar teclado, baixar aplicativos externos, mesmo que não estejam na loja do Google Play, agregar vídeos e música sem bloqueios... Por que será que 86% dos telefones inteligentes do mundo funcionam com Android?

- Alguém tem um carregador de iPhone? Desde 2015, todos os fabricantes de celulares — exceto, claro está, a Apple — decidiram unificar em um só tipo de conexão (microUSB) todos os carregadores de celulares. Desta forma, não importa se o seu celular é Samsung, Huawei, LG, Xiaomi ou BQ porque você pode usar qualquer carregador. Com o iPhone não há remédio a não ser utilizar o que vem em sua caixa. E continuará sendo assim porque, apesar de se generalizar nos novos celulares dos demais fabricantes a conexão USB tipo C (reversível), a Apple continua obstinada em ter versão própria desta conexão. Você já sabe, se esquecer o carregador do iPhone 7, que precisa perguntar “alguém com iPhone?”.

- O iPhone 7 não traz nada que você não possa encontrar em outro celular. Nem a câmera nem a bateria nem a resistência à água... Nada no equipamento do iPhone 7 é rigorosamente novo nem necessariamente melhor que o que apresentam as marcas rivais em seus celulares top de linha. A famosa câmera dual que o modelo Plus traz já está presente no LG G5, com grande angular para fazer fotos panorâmicas, no Huawei P9, que permite fotografias com baixas condições de luz ou no Xiaomi RedMi Pro, que reenfoca imagens já feitas.

Um dos primeiros compradores do iPhone 7 na loja da Apple em Manhattan.
Um dos primeiros compradores do iPhone 7 na loja da Apple em Manhattan.SPENCER PLATT (AFP)

A resistência do iPhone 7 à água tem a certificação IP67, que permite imersões esporádicas ou acidentais, enquanto que rivais como o Samsung Galaxy Note 7 têm certificação IP68, que possibilita submergir até 1,5 metro de profundidade até por 30 minutos.

O iPhone 7 conta com uma bateria de 1.969 mAh e o irmão maior, o iPhone 7 Plus, de 2.900 mAh, menor que a de seus rivais de alta categoria da Huawei, Sony, LG ou HTC.

E os famosos fones de ouvido ou, melhor dizendo, a ausência deles, já tinham sido inventados. Como princípio metodológico, eliminar uma característica de um dispositivo não pode ser considerado um avanço. Mas excluir a entrada para fones de ouvido não é uma ideia genial dos garotos de Cook. Nos Moto Z da Lenovo já desapareceu o conector padrão para os fones de ouvido, embora a antiga Motorola não tivesse feito tanto estardalhaço.

Um usuário posa com o iPhone 7 diante da loja da Apple na Puerta del Sol, em Madri.
Um usuário posa com o iPhone 7 diante da loja da Apple na Puerta del Sol, em Madri.G.A.Moreno (Getty Images)

- Há alternativas muito mais baratas. Como se supõe que somos galácticos, nossos preços também, reza seu lema. A Apple não mudou sua política de preços nos iPhone 7 e 7 Plus, de 769 euros (2.800 reais) a 1.129 euros (4.120 reais), conforme os modelos. Há alternativas muito mais baratas e com desempenho parecido ou até superior. O Huawei P9, por exemplo, não tem nada a invejar na câmera, memória, processamento e tela, e custa 599 euros (2.190 reais). Os preços oficiais do Galaxy S7 e S7 Edge (a versão com a tela curvada) são 719 (2.625 reais) e 819 euros (3.000 reais), respectivamente, e tampouco ficam a dever em relação aos iPhone. E para quem gosta das marcas asiáticas menos enraizadas, há opções como o One Plus 3 (399 euros, 1.460 reais), Meizu Pro 6 (429 euros, 1.565 reais) ou o Xiaomi Mi5 (desde 325 euros, 1.190 reais).

- Se você compra um iPhone, contribui com a evasão fiscal. Pelo menos isso é o que pensa a Comissão Europeia, que acaba de impor uma multa de 13 bilhões de euros (47,5 milhões de reais) à Apple por criar um emaranhado de empresas na Irlanda para evadir o pagamento de impostos na maioria dos países da UE. Isso inclui a Espanha, onde a firma da maçã paga pouco em imposto sobre empresas porque fatura quase todas as suas vendas na Irlanda mediante duas firmas testa-de-ferro. Por intermédio de sua empresa Apple Marketing Iberia, reconheceu na Espanha em 2015 somente vendas de 27,6 milhões de euros (100,7 milhões de reais), pelas quais pagou 3,2 milhões de euros (11,7 milhões de reais) em impostos sobre o lucro. Com outra empresa, a Apple Retail Spain, que administra as lojas, faturou 300 milhões de euros (1,1 bilhão de reais), embora só tenha pago 3,3 milhões (12 milhões de reais) em impostos sobre o lucro.

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